sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Uma resposta ao Estadão

Só pra não se perder.
Abaixo, a nota que enviei ao Estadão, há pouco mais de um mês, quando eles publicizaram aquela infeliz enquete que queria saber se programa de governo para as mulheres era vai-e-volta do shopping center ou bolsa-manicure. Um baixo nível digno de jornaleco de quinta categoria né. Mas era o Estadão.

Carta aos editores da página eletrônica Estadão.
Em 23/10/2008.

Uma lástima.

Não há outra palavra para definir a infeliz “enquete” promovida pela página eletrônica do Estadão. A referida iniciativa rotula as mulheres como fúteis, vazias, “burras”, com preocupação exclusiva com sua aparência – posição cultuada pela própria mídia, que expõe os corpos das mulheres como se fossem produtos a serem comprados e vendidos ou como se as mulheres só tivessem valor de acordo com a aceitação da sua aparência. A tal “enquete” é, portanto, mais uma demonstração de machismo da imprensa brasileira, na esteira de uma série de recentes ações similares.

Em primeiro lugar, eleição é coisa séria. As mulheres são 53,4% dos eleitores de São Paulo, e devem escolher seu candidato ou candidata a partir de um programa de governo e da trajetória política de cada um(a). Merecem o respeito do Estadão.

Demanda por políticas públicas é o que não falta entre as mulheres, que vivenciam a opressão e a discriminação todos os dias, refletida, inclusive, em ações (ou não ações) do Estado que deveria trabalhar para enfrentar a desigualdade. As mulheres ganham menos que os homens por mesmo trabalho, mesmo tendo mais tempo de escolaridade. Muitas mulheres ainda sofrem violência doméstica e sexual todos os dias na nossa cidade. As mulheres ainda cumprem dupla jornada, sendo responsabilizadas pelo trabalho doméstico e de cuidados, sem ganhar nada por isso, como se fosse sua pura e simples obrigação. E depois de tudo isso, ainda têm sido tratadas pela Prefeitura como se esta nada lhes devesse além de demagogia. E são tratadas pela imprensa como figuras fúteis, esteriotipadas e apolíticas, sem demanda por políticas públicas e sem interesse em cuidar de sua própria cidade e de sua própria vida.

Apresentando uma enquete como a referida, o Estadão presta um desserviço às mulheres de São Paulo, deslegitimando suas demandas e ironizando sua capacidade de interferir na realidade. Nada mais ofensivo.

As mulheres querem creches, querem políticas efetivas de combate à violência, de construção da autonomia, de inserção qualificada no mercado de trabalho. As mulheres querem saúde, inclusive quando não são mães. As mulheres querem acesso a educação de qualidade, a transporte público, a cultura e lazer. Enfim. As mulheres querem ser tratadas de igual pra igual. Sem preconceitos de nenhuma ordem.

Alessandra Terribili
Vice-presidenta municipal do PT
Integrante da Secretaria Nacional de Mulheres do PT
Militante da Marcha Mundial das Mulheres

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