quinta-feira, 31 de maio de 2012

Poema da Madrugada


E se você nem desconfia
Que o dia
Insiste nisso de raiar
O tempo mesmo
Não vai parar
Mas você...
Pára.


Porque parar, às vezes
É o melhor jeito de continuar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A festa de Alice


Alice queria porque queria entrar naquela festa. Nunca teve problema algum em adentrar um salão, ou um ambiente qualquer. Sambando miudinho, sempre dançou conforme a música. E por não se levar tão a sério, sempre dançou bem. E por dançar bem, gostavam dela. Sempre tinha sido assim.

Mas aquela roda intimidava mais do que todas as anteriores. Era muito pequena , os braços das pessoas em ciranda eram trancafiados. Bem, é verdade que, às vezes, se entristecia justamente por perceber que aqueles braços trancados às vezes descuidavam do não para receber outréns. Ela nunca foi recebida.

Dançou ao redor da festa por um tempo. Um momento, chegou a ouvir pessoas comentando que ela nem dançar dançava direito. Ficou chateada, mas ficou mais rancorosa que chateada. Um dia, um amigo que tinha conhecido em outra festa, dessas em que entrava e fazia amigos, falou: "ai, Alice, não liga, você não está conseguindo entrar porque todo mundo viu que você estava em outra festa antes... que bobagem, problema deles". E ela continuou dançando sozinha.

Mas tinha mais gente que não entrava na festa. Não porque não conseguia, mas porque nem tinha pensado em entrar mesmo. Juntaram-se a Alice e ficaram sambando do lado de fora. Ficou animado aquele cantinho do lado de fora. Dentro continuava animado, mas os braços ainda estavam trancafiados.

Alice estava feliz, mas às vezes lembrava que não podia entrar na festa de dentro. Achava esquisito que houvesse braços trancafiados num ambiente como festa.

Só que o cantinho animado ficava cada vez mais animado. E como era diferente da festa de dentro - que era boa, mas era diferente do cantinho animado -, quem era diferente da turma da festa de dentro gostou dos braços soltos do pessoal e foi ficando. Quando viram, já eram muitas pessoas sambando diferente.

Alice parou de prestar atenção na festa de dentro. O cantinho cresceu e cresceu, e quando ficou do mesmo tamanho da festa, Alice propôs que juntassem as duas e fizessem uma grande celebração. E todo mundo gostou de Alice, como costumava ser antes.

Inesquecível - outro samba raiou


Escrevi este poema/letra de samba "provocada" por um amigo muito muito muito querido, que deu o tema durante o Carnaval. Saiu isso. Como ele aprovou, vou deixar aí pra vocês verem... Espero que logo logo essa letra ganhe uma música para eu poder cantá-la por aí.
***

Inesquecível

(Alessandra Terribili)

As paixões despertas
São mares revoltos
de humanidade
As histórias incertas
São as que me acorrentam
A meias verdades

O que eu sofro, meu amor
Está antes em mim
Do que em outro lugar
Pois o barco navega
Sem sonhar conter o mar
Mas nem sempre, na tempestade
Sabe a hora de voltar

E eu que já não sei voltar
que me perdi de mim
que já não sei quem sou
Já não sei se esse amor
É só meu e se enfim
Chegou
Pra me desesperar
Me fazer dizer sim
Para todo esse penar
Que não quer se afastar
De mim

Eu que nem sei esquecer
Me lembrei, meu amor
Que os olhos se cegam
Por querer
E mais tarde, talvez
Podem ver outra vez
Que sentir rejeição,
Esse pecado nosso,
Torna inesquecível
Quem o tempo esqueceria
Sem remorso