segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

De coração de Natal

Ano passado, mais ou menos a esta altura do ano, chovia em São Paulo também. Eu saía de uma reunião – a mesma a que compareci no fim de semana último – e levava companheiros ao aeroporto de Congonhas. Lembro que alguma coisa acontecia na sede da UNE, pois os e as jovens que participavam da mesma reunião que eu dirigiram-se para lá antes mesmo do nosso compromisso terminar.

Voltando do aeroporto, pela Avenida 23 de Maio, chuva fina no pára-brisa, imaginava calada e distraída que seria ótimo ir para casa descansar de dois dias de reunião. Ou ainda, que poderia ligar para algum dos bons amigos para uma boa cerveja, e assim, também descansar dos dois dias de reunião...

Eu não sei bem por que, mas no fim das contas, peguei a Tutoia e segui na direção da UNE. Nem sei se cheguei a tomar a decisão de ir para lá ou se o carro me levou porque quis. Não fui para casa, não fui tomar cerveja. Fui oferecer minha ajuda a companheiros(as) que credenciavam entidades ao tal fórum da UNE. Registre-se: havia uns anos que eu não acompanhava absolutamente nada, atividade nenhuma, nenhuma discussão, do movimento estudantil. Fiz parte da direção da entidade, na pasta de mulheres, de 2003 a 2005. Depois disso, passados poucos meses de acompanhamento da nova gestão, virei adulta e as costas para o movimento que me formou.

Estranho. Mas aquele dia, acabei indo pra UNE. Espírito natalino? Oferecer ajuda? Não sei. Fui para a UNE. Minha irmã estava lá. Fui pra UNE. Sei lá fazer o quê.

Sei que a Avenida Paulista estava inacreditavelmente congestionada. Eu não peguei aquele trajeto, mas muitos chegavam bufando na sede da entidade por conta disso. Lembro que retardei meu retorno daquela imprevista visita exatamente por causa daquele tão anunciado trânsito da Paulista. Eu não entendia o que levava tanta gente à mais famosa avenida de São Paulo num domingo às 22 horas. Mas vai saber. Podia ser um acidente, recapeamento, montagem de palco para a festa de réveillon, semáforo embandeirado. Muita coisa é capaz de causar um baita trânsito em São Paulo. Comum.

Em algum momento, alguém chegou e alertou:

- Ei, fujam dos arredores da Paulista, tá tudo parado lá.

Sim, mas onde estávamos era arredor da Paulista. “Inevitável dirigir-se ao centro fugindo dos arredores da Paulista, criatura esperta”, pensei. E também, àquela altura, essa notícia já não era novidade pra ninguém. Alguém foi mais curioso que eu:

- Mas por que trânsito a esta hora? É domingo e passam das 23h!

- Ah, são as luzinhas de Natal.

Estranhei. Mas um belo rosto surgiu para fazer a seguinte consideração:

- Aqui nesta cidade as pessoas causam trânsito para ver Papai Noel???

Todos riram. De fato, até para mim, paulistana, soava estranho. Não é um fenômeno tradicional, mas acho que era uma tradição se formando... todos os prédios da Paulista se enfeitam, se iluminam, se enchem de bonecos e decorações para marcar a chegada do Natal. E as pessoas vão lá ver... ficam lá, tiram fotos... passam devagar com seus carros para não perder nada... veem Papai Noel sim. Que coisa.

Natal é isso, parece uma histeria coletiva. Odeio os shopping centers entupidos, o trânsito da Paulista iluminada, os especiais de Natal da TV...

Enfim. Lembrei de tudo isso porque hoje encontrei a seguinte matéria no portal UOL: “Turista enfrenta chuva e trânsito para visitar decoração de Natal em São Paulo”. Falava da Avenida Paulista... A primeira coisa que lembrei foi a ironia sutil na voz do belo rosto que estranhou a mobilização pró-Papai Noel na maior cidade brasileira. Alegrou-me o dia lembrar aquela situação, em seu conjunto, porque desde aquele dia esse rosto passou a fazer parte da minha vida.

Em seguida, pensei: “Pôxa, que coisa chata, as coisas se repetem iguaiszinhas todo ano”! Chuva, congestionamento na Paulista, decorações de Natal, Papai Noel, credenciamentos de atividades da UNE... a mesmice é incômoda. É inimiga da espontaneidade.

Mas... no fundo, é assim: os olhos precisam estar atentos, porque, em meio à mesmice, sempre existe uma novidade especial que enche os olhos de quem não se acostumou a olhar sem ver.

Variações do mesmo tema

Dizem que há males que vêm para o bem.
Mas há males que vêm para outros males.
Há malas que vêm de trem.
E se há males que vêm para bem, também há malas que vêm para o DEM.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O racismo cordial do PMDB

Uma das vinhetas veiculadas pelo PMDB-RS na noite desta segunda-feira, 7 de dezembro, afirmava que "o povo que não tem virtudes se torna escravo". A frase é retirada do hino do Rio Grande do Sul. A estrofe completa diz: "Mas não basta pra ser livre / Ser forte, aguerrido e bravo / Povo que não tem virtude / Acaba por ser escravo". Acontece que, isolada de seu contexto, a frase escolhida pelo partido de Fogaça e Rigotto permite uma interpretação indesejável. Cabe a reflexão.

De que virtudes estamos falando? E quem escraviza?

Nosso país escravizou os negros africanos por mais de três séculos, não porque lhes faltasse virtude. Faltava virtude aos europeus, à Igreja Católica (que legitimava a ação). Faltava virtude ao capitalismo que se desenhava, ao colonialismo que se impunha à América. Falta virtude a quem escraviza.

Quantos índios não foram feitos escravos entre os séculos XVI e XVII pela América Latina? E ainda hoje dizem que se buscaram os negros porque índio era "preguiçoso"... vai ver lhe faltava a virtude de ser disponível à escravização.

O melhor instrumento que há, contra essa cabível "interpretação" da frase em questão, é conhecer a história do nosso povo, a história da luta do nosso povo por liberdade e contra a exploração e a opressão. A história de 500 anos de resistência. É aí que reside a virtude. E convenhamos que o PMDB não tem tanto a ver com essa história.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Maluf, Tuma e Colasuonno: que trio hein?

Mais um... da Folha de S. Paulo de 28/11.

A Folha (que considera que o Brasil viveu uma ditabranda) "esquece" de dizer que os militantes cujos corpos estavam em Perus e na Vila Formosa foram assassinados pelo regime militar, por defender a democracia. Maluf, Tuma e Colasuonno são cúmplices desses assassinatos. E estão na vida pública até hoje, ganhando bem e interferindo na vida de milhões de brasileiros. Tristeza...

A América Latina vem vivenciando um processo muito interessante com a ascensão de governos populares, progressistas ou de esquerda. Quase todos têm feito questão de acertar suas contas com o passado recente de tortura, censura, desaparecimentos e mortes.

Nosso Brasil, apesar do empenho, particularmente, do Ministro Tarso Genro e do Secretário de Direitos Humanos Paulo Vannucchi (parente de Alexandre Vannucchi Leme, estudante da minha universidade morto pela ditadura em 1973), avançou menos do que queremos no sentido de "enterrar" esse passado. Para que ele não volte. E para que ninguém pense que pode sair impune de um processo como aquele. Não é "revanche". É justiça.

Recomendo fortemente um documentário que assisti recentemente, "Condor", de Roberto Mader, sobre a Operação Condor - cooperação interna entre os regimes militares latino-americanos, nos anos de chumbo.


Ministro elogia ação contra civis no caso Perus; Maluf e Tuma são acusados

O ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) comemorou a primeira ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo contra civis que tiveram participação em fatos da repressão na ditadura militar (1964-85).

Em ação apresentada à Justiça, o Ministério Público Federal pediu que o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), o senador Romeu Tuma (PTB-SP) e o diretor da Eletrobrás Miguel Colasuonno sejam condenados a pagar indenização e percam suas funções públicas ou aposentadorias. Eles são acusados de participar do funcionamento da estrutura que ocultou cadáveres de opositores da ditadura nos cemitérios de Perus e da Vila Formosa, em São Paulo, na década de 70.

Tuma foi responsável pelo Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) de 1967 a 1983. Ontem ele preferiu não se manifestar por não ter conhecimento dos documentos do processo. Maluf e Colasuonno foram prefeitos da capital, de 1969 a 1971 e de 1973 a 1975, respectivamente. Em nota, Maluf disse que é "uma acusação ridícula". Colasuonno informou que desconhece os fatos das acusações e, por isso, não poderia se manifestar.

Na Unicamp, Vannuchi declarou: "Eu saúdo a iniciativa porque ela reforça a consciência nacional de que o tema não está com ponto final. Lideranças civis e empresariais deram sustentação a esse regime, então não é justo que se faça um debate centralizado unicamente nas Forças Armadas".

"Quem estudar a história do regime verá que civis foram bater nas portas dos quartéis pedindo que os militares saíssem para depor João Goulart."

Segundo a denúncia, Maluf ordenou a construção do cemitério de Perus, com quadras marcadas para "terroristas". O projeto da prefeitura incluiu a construção de um crematório, ideia depois abandonada. Na gestão de Colasuonno, de acordo com documentos, o cemitério de Vila Formosa foi reurbanizado, quase impossibilitando a identificação dos locais onde estavam corpos dos militantes.

Tuma foi implicado porque, segundo os procuradores, sabia de mortes ocorridas sob a tutela de policiais do Dops, mas não as comunicou às famílias.

Outros dois nomes na ação são Fábio Pereira Bueno, diretor do Serviço Funerário Municipal entre 1970 e 1974, e o médico legista Harry Shibata, ex-chefe do necrotério do IML.

Os procuradores sugerem que as penas sejam diminuídas caso os réus contem em depoimento fatos que conhecem do período de repressão.

"É inequívoco que havia um esquema e que o cemitério de Perus era um centro de ocultação de cadáveres de militantes políticos", diz a procuradora da República Eugênia Fávero.

A Unicamp, que recebeu Vannuchi ontem, é um dos alvos da segunda ação do MPF. Nela, os procuradores pedem a responsabilização de funcionários e universidades porque houve descaso na identificação das ossadas localizadas em Perus e exumadas em 1990. As universidades implicadas são Unicamp, Universidade Federal de Minas Gerais e USP.

A Procuradoria pede, em liminar, a retomada do trabalho de identificação das ossadas. O órgão apresentou no passado ações, em andamento, que buscam responsabilizar militares por crimes da ditadura. Como se tratam de desaparecimento de pessoas, os procuradores entendem que se equivalem ao crime de sequestro -por não terem sido localizadas, esses crimes não seriam anistiáveis.

O Serra e o Castelo de Areia

Hoje o dia tá produtivo de reproduções... rsrs... tem mais este artigo, do camarada Altamiro Borges, do PCdoB, uma das principais vozes da luta pela democratização da comunicação atualmente. Ele fala da operação da PF, que apura a relação de políticos influentes do PSDB com executivos da construtora Camargo Correia, acusados de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Boa leitura.

Serra desaba com castelo de areia

A mídia golpista não teve mesmo como esconder as podridões do demo José Roberto Arruda. Os vídeos da Polícia Federal são demolidores. Até o Correio Braziliense e a Veja, que recentemente foram presenteados com contratos milionários de compra de assinaturas pelo governo do Distrito Federal, tiveram que triscar o assunto. A sujeira poderia, até, respingar nestes veículos! Mas, ao mesmo tempo, a mídia hegemônica faz de tudo para abafar outro caso suspeito de corrupção, que envolve diretamente o principal presidenciável tucano, o governador paulista José Serra.

A Polícia Federal divulgou na semana passada alguns documentos comprometedores da chamada “Operação Castelo de Areia” - nome bem apropriado para o candidato tucano. Uma das peças da investigação policial indica que influentes políticos do PSDB de São Paulo receberam propina da construtora Camargo Corrêa. A Folha do final de semana simplesmente ofuscou o caso. O jornal golpista da famíglia Frias preferiu abrir as suas páginas para as acusações levianas de um ex-petista rancoroso contra o presidente Lula, acusado sem provas e sem escrúpulos de tentativa de estupro.

O Estadão e o “Palácio Band”

Já o Estadão, que nunca escondeu sua adesão a José Serra, abordou o tema sem maior alarde - a se fosse uma suspeita contra qualquer político da base de apoio do governo Lula. Mesmo assim, o jornal da família Mesquita se fingiu de morto ao citar a expressão “Palácio Band”, que surge numa das planilhas apreendidas pela Polícia Federal. Ele evitou explicar que a expressão é uma nítida referência ao Palácio dos Bandeirantes, local onde reside e governa o grão-tucano Serra.

O título da notinha também é maroto. “Documentos indicam mesada de empreiteira a políticos”. Não há qualquer referência ao PSDB - imagine se os tais políticos fossem de qualquer partido de esquerda. No corpo da matéria, o partido de Serra também é poupado. O jornal sequer alerta que um dos acusados de receber propina, o secretário Aloísio Nunes, é o preferido do grão-tucano para substituí-lo no “Palácio Band”. Vale à pena reproduzir alguns trechos da reportagem:

“Aloísio Nunes, US$ 15.780”

“A Polícia Federal concluiu a Operação Castelo de Areia - investigação sobre evasão de divisas e lavagem de dinheiro envolvendo executivos da Construtora Camargo Corrêa - e anexou ao relatório documento que pode indicar suposto esquema de pagamentos mensais a parlamentares e administradores públicos e doações ‘por fora’ para partidos políticos. O dossiê é formado por 54 planilhas que sugerem provável contabilidade paralela da empreiteira (...)”.

“Os repasses teriam ocorrido em favor de deputados federais, senadores, prefeitos e servidores municipais e estaduais. Em quatro anos a empreiteira desembolsou R$ 178,16 milhões. Em 1995, segundo os registros, ela pagou R$ 17,3 milhões. Em 1996, R$ 50,54 milhões. Em 1997, R$ 41,13 milhões. No ano de 1998, R$ 69,14 milhões. O que reforça a suspeita de caixa 2 é o fato de que os números alinhados aos nomes dos supostos beneficiários estão grafados em dólares, com a taxa do dia e a conversão para reais”.

“Na página 54, há quatro lançamentos em nome do deputado Walter Feldman (PSDB-SP). Cada registro tem o valor de US$ 5 mil, somando US$ 20 mil entre 13 de janeiro e 14 de abril de 1998. À página 21, outros 12 lançamentos associados ao nome Feldman, entre 26 de janeiro e 23 de dezembro de 1996 - US$ 5 mil por mês... Em outro arquivo, na página 18, valores ao lado da expressão ‘Palácio Band’ – 4 anotações, entre 8 de fevereiro e 30 de setembro de 1996, somando US$ 45 mil, ou R$ 46.165. Na última planilha, na página 54, constam nove registros, um assim descrito: "14 de setembro de 1998, campanha política, Aloísio Nunes, US$ 15.780’”.

Luís Fernando Veríssimo: "Para voltar a crer"

Para quem não lê o Zero Hora, ou não viu hoje, ou é de fora de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul... não precisa ficar chateado, não perde nada não lendo o ZH. É mais do mesmo, mais um desses periódicos porta-vozes da classe dominante. Posição clara.

Só que, dialeticamente, quem não viu o ZH desta quinta-feira, 03/12, perdeu a coluna do Veríssimo. Está impagável. Não socializar seria um ato de egoísmo.


Para voltar a crer

Não faltam motivos para descrer da humanidade. Vamos combinar que fizemos coisas extraordinárias, mas nossa passagem pela Terra não está sendo, exatamente, um sucesso. Para cada catedral erguida bombardeamos três, para cada civilização vicejante liquidamos quatro, a cada gesto de grandeza correspondem cinco ou seis de baixeza, para cada Gandhi produzimos sete tiranos, para cada Patrícia Pilar 17 energúmenos. Inventamos vacinas para salvar a vida de milhões ao mesmo tempo em que matamos outros milhões pelo contágio e a fome. Criamos telefones portáteis que funcionam como gravadores, computadores – e às vezes até telefones –, mas ainda temos problema com a coriza nasal. Nosso dia a dia é cheio de pequenas calhordices, dos outros e nossas. Rareiam as razões para confiar no vizinho ao nosso lado, o que dirá do político lá longe, cuja verdadeira natureza muitas vezes só vamos conhecer pela câmera escondida. Somos decididamente uma espécie inconfiável, além de venal, traiçoeira e mesquinha. E estamos envenenando o planeta, num suicídio lento do qual ninguém escapará. E tudo isso sem falar no racismo, no terrorismo e no Big Brother Brasil.

Eu tinha desistido de esperar pela nossa regeneração. Ela não viria pela religião, que se transformou em apenas outro ramo de negócios. Nem viria pela revolução, mesmo que se pagasse para o povo ocupar as barricadas. Eu achava que a espécie não tinha jeito, não tinha volta, não tinha salvação. Meu desencanto era total. Só o abandonaria diante de alguma prova irrefutável de altruísmo e caráter que redimisse a humanidade. Uma prova de tal tamanho e tal significado, que anularia meu ceticismo terminal e restauraria minha esperança no futuro. E esta prova virá neste domingo, se o Grêmio derrotar o Flamengo no Maracanã.

Se o Grêmio derrotar o Flamengo, o Internacional pode ser campeão. Mas o mais importante não é isso. Se o Grêmio derrotar o Flamengo mesmo sabendo as consequências e o possível benefício para o arquiadversário, estará dando um exemplo inigualável de superioridade moral. A volta da minha fé na humanidade não interessa, Grêmio. Pense no que dirá a História. Pense nas futuras gerações!

(Luís Fernando Veríssimo, no Zero Hora de 03/12/2009)



(peço licença ao amigo Bier - augustobier.blogspot.com - pra usar uma charge dele como ilustração... e deixo claro: eu, como em quase tudo na vida, também nessa disputa tenho lado - vermelho!)

Maringoni: "O que deu no Cesinha?"

Nos últimos dias, andou circulando pela internet um e-mail de Gilberto Maringoni, um conhecido jornalista e cartunista da melhor parte da nossa esquerda (onde quer que esteja sua filiação partidária). Ele comentava o fatídico artigo de César Benjamin na Folha de S. Paulo, quando acusou Lula de tentativa de violência sexual contra um jovem militante.

César Benjamin, 15 anos depois da história contada por ele, presta-se a esse triste papel com alguma motivação, para mim, ainda não identificada. Deve ser um mosaico de muita coisa. Nenhuma delas, respeitável ou justificável. Até o Zé Maria, presidente do PSTU, classificou a acusação como mentirosa. Mais gente envolvida na tal história fez isso. E as palavras de Benjamin, mesmo assim, não pararam de ecoar.

Bem, vejam o que escreveu Maringoni. E tenha dito.



Caras e caros:

O jornalista Duarte Pereira, ex-dirigente da Ação Popular, a quem admiro pela retidão de princípios, enviou a algumas pessoas o texto de César Benjamin, “Os filhos do Brasil”, acompanhado de um comentário crítico.

Envio a vocês, abaixo, minha resposta ao Duarte.

Abraços,

Gilberto Maringoni

*****

Caro Duarte:

Você sabe do respeito imenso que tenho por você, por seu discernimento político e por sua história.

Por isso quero falar-lhe como amigo e companheiro.

Não acho correto darmos credibilidade ao Cesar Benjamin neste episódio.

Ele tem também um passado de lutas e uma capacidade de elaboração respeitável.

Mas há tempos, Cesar resolveu buscar um espaço em vôo solo, descolando-se de qualquer ação coletiva.

Não sei exatamente o que se passa. Não sei se é uma vaidade imensa, não sei se é alguma questão política, ou se um modo de se fazer política com o fígado.

Uma denúncia como a que ele faz não é uma denúncia pessoal.

Só encontro paralelo recente no caso Miriam Cordeiro. Levanta-se um pecado íntimo para se atacar uma vertente política.

Por que a denúncia não foi feita antes?

Por que a denúncia foi feita na Folha?

Por que ela é feita quando o governo tem uma atitude digna na questão hondurenha?

Por que ela é feita quando Lula recebe um inimigo figadal de Israel?

Por que ela é feita quando há um afrouxamento mínimo na política monetária?

Por que ela é feita quando se travam as privatizações dos aeroportos?

Por que ela é feita quando a direita faz uma ofensiva de conjunto na América Latina?

Por que a Folha abriu uma página inteira a ela?

Por que ele faz isso na boca de uma campanha eleitoral?

Por que ele faz isso quando o candidato da direita - José Serra - começa a cair nas pesquisas?

O caso me evoca outra lembrança triste.

No início dos anos 1970, alguns militantes da esquerda revolucionária, muito jovens, não aguentando as torturas a que foram submetidos na prisão, foram para a TV.

Afirmavam estarem arrependidos da luta.

Anos atrás eu os classificava com o epíteto seco de 'traidores'.

Hoje, pensando no fato de serem adolescentes, pondero meu tom.

Não fizeram um papel edificante.

Causaram prejuízos irreparáveis.

Mas eram meninos acuados.

O caso mais evidente foi o de Massafumi Yoshinagui, da VPR. Foi até capa de Veja, em 1971. Viveu atormentado com seu gesto, até se suicidar em 1976, aos 26 anos de idade.

Quase 40 anos depois, Cesinha - que não é mais um menino - vai para as páginas e holofotes da grande mídia, fazer o que as classes dominantes querem.

Recebi notícias que blogs da direita estão difundindo o texto.

Conheço o Cesinha há cerca de 25 anos.

Sinto que nós o perdemos irremediavelmente.

Fico envergonhado com o papel que ele está desempenhando.

Seu passado não merece isso.

Mas a História irá julgá-lo.

Por ora fica na ponta da minha língua o adjetivo que usei contra os que foram à televisão naqueles anos.

E não encontro atenuantes para César Benjamin.

Faço votos que ele se dê bem no outro lado.

Abraços,
Maringoni

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Práticas antissindicais, perseguição e censura

Na contramão do sindicalismo combativo, e resumindo suas ações ao corporativismo puro e simples, sindicatos de jornalistas de diversos estados brasileiros têm promovido perseguições e chantagens contra organizações sindicais ou da esquerda de maneira geral, pela demissão de jornalistas, trabalhadores dessas instituições, que não tenham sua formação específica em jornalismo.

Esse é um bom lead para uma matéria que visa a informar o que alguns sindicatos de jornalistas vêm fazendo para impedir jornalistas de trabalhar.

Eu sei de situações revoltantes no Rio Grande do Sul, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Goste o sindicato de jornalistas ou não, esses profissionais estão exercendo sua profissão legalmente, a despeito do corporativismo raso da intervenção desse movimento “pró-diploma”, que se diz “pró-regulamentação”, mas não é.

Em vez disso, a ação tem sido reforçar o discurso de que a qualidade do jornalismo depende da formação universitária específica (premissa muito fácil de se contrariar). Os sindicatos de jornalistas não querem sindicalizar os trabalhadores que exercem sua profissão sem o diploma específico. Não querem protegê-los de abusos e violações de direito. Querem ser mais um agente na precarização do trabalho desses, ao que tudo indica.

A história chega ao cúmulo de plenárias de forças políticas apreciarem a situação de funcionário cuja cabeça está sendo pedida pelo sindicato de jornalistas. Em alguns lugares, eles ameaçam de retaliação a instituição empregadora, ou em outros, sugerem que vão expor o trabalhador ou trabalhadora a constrangimentos. Às vezes, são as duas coisas combinadas. Mas isso não é assédio moral? Ou é bancar a polícia?

Se uma central sindical é solidária à luta corporativa dos sindicatos de jornalistas em defesa da reserva de mercado, jamais poderá ser condescendente com práticas de assédio moral ou com a subordinação preconceituosa de determinados(as) trabalhadores(as) a critérios absolutamente controversos.

Outro dia, chegou até mim a boataria, pela boca de colegas não tão próximos da vida sindical. Um jornalista, cujo nome protejo, disse: “Eu soube que tal lugar contratou jornalista sem diploma! O nome do dito-cujo é Fulano!”. O coitado do Fulano ficou assustado com a repercussão de um assunto que é, simplesmente, seu trabalho cotidiano há mais de dez anos. E então, cria-se um cordão de isolamento em torno da pobre criatura... tratada como criminosa, como se fosse um traficante de animais selvagens, sei lá.

Além de serem repudiáveis as práticas recentes encaminhadas pelos sindicatos de jornalistas de alguns estados, há que se reforçar que a opinião deles NÃO é um consenso. A cruzada deles pela reserva de mercado NÃO é a opinião de toda a esquerda, NÃO é a opinião de todos os que trabalham. É preciso romper com esse falso consenso que paira no ar, que, muitas vezes, justifica essas ações de perseguição, preconceito e anti-sindicalismo que se vê por aí.

Ass: Adelaide de Julinho