quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Pro abismo e além

Eu fujo, que nem vampiro foge da luz do dia, de todo tipo de discurso de medo, de esgotamento, de fim dos tempos. Acho importante inserir cada momento num processo histórico, e saber que, na luta de classes, vivemos momentos de ofensiva e momentos de defensiva. É dureza, mas cabe a nós encontrar uma maneira de enfrentar esta desgraceira, com as armas que temos e sem achar que o mundo acabou. A própria História mostra que mundo é maior do que a gente e o nosso tempo.

É óbvio que, pela própria correlação de forças e desigual distribuição de todo tipo de recurso, a capacidade de reação da direita colonialista torna seus momentos de ofensiva mais eficazes que os nossos. Não é óbvio, porém, que nos sintamos amordaçados ou limitados como se fosse essa uma situação imponderável.

Mas confesso a vocês que quando eu leio uma notícia absurda, ofensiva e autoritária do naipe "STF autoriza que aulas de religião em escolas públicas sigam um único credo", é aí que eu mais sinto vontade de deitar na rede e ficar esperando a conjuntura passar. Furar o dedo no fuso de uma roca e dormir cem anos.

No "irônico" (contém ironia) momento em que a corja mais reacionária da sociedade me vem com as churumelas da tal Escola Sem Partido, ou com a ameaça de revogação da lei que determina o ensino de história e cultura indígenas e da África, ou com o fim das aulas de artes, sociologia e filosofia no Ensino Médio; é aí mesmo que essa outra corja, tavez pior ainda que aquela, que é o Judiciário brasileiro, autoriza a doutrinação religiosa nas escolas PÚBLICAS, atropelando de morte o pobre do Estado laico e qualquer mínimo princípio democrático - pra nem falar de liberdade. É inacreditável a cara de pau. Os caras estão com muita certeza de si, mesmo.

Eu sou daquelas que acha que a gente deve fazer como o velho marinheiro, que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar. Mas olha, só com muito amor no coração, fé na vida e samba na veia mesmo pra resistir à vontade de dar a mão pro nevoeiro e se atirar no mar com uma bola de chumbo no pé.