quarta-feira, 26 de abril de 2017

Greve Geral: E lá vamos nós de novo!

       Nunca vou me esquecer do professor Antônio Cândido dizendo que toda greve é vitoriosa, pelo grau de reflexão e mobilização que proporciona. Era então minha primeira greve, ano 2000, quando estudante da Escola de Comunicações e Artes da USP.



Lembro vividamente que acordávamos diariamente para impedir a privatização das universidades públicas. Queríamos cotas, ampliação do acesso, assistência estudantil, contratação de professores e técnico-administrativos com salários decentes. Queríamos verba para pesquisa e extensão. Queríamos votar para reitor. Mas, antes de mais nada, queríamos que não privatizassem as universidades, pois, sem isso, todo o resto ficaria inviabilizado.

Em 2001, uma das mais lindas experiências de resistência que vivenciei: greve das universidades federais. À nossa geração, coube protagonizar o enfrentamento à política educacional de FHC, e assim, contribuir para derrotar programática e eleitoralmente aquele projeto de sabotagem, sucateamento e privatização da educação superior pública no Brasil.

Em 2002, acompanhei encantada a greve dos estudantes da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP. A força do movimento estudantil parou uma das mais importantes e reconhecidas faculdades de ciências humanas do país, para exigir mais professores. Foram 106 dias de paralisação, que abriram caminho para a contratação de 92 docentes.

Hoje, dezessete anos e muitas greves depois, tenho consciência e orgulho da importância que aqueles movimentos tiveram, e sua incidência na conjuntura que depois se abriria – ainda que, no calor do momento, muitos discursos de frustração ganhassem forma por não ver o atendimento integral das demandas que apresentávamos.

Há oito anos assessora sindical, minha mais recente experiência de greve se concluiu poucos dias atrás. Foi um mês de paralisação dos professores e professoras da rede pública do DF, numa árdua batalha contra um governador que parece não ter nenhuma ambição na gestão da coisa pública: não quer governar, não quer resolver problemas, não quer respeitar os servidores (as), não quer propor nada, não quer se reeleger.

Fazer greve não é nada fácil. Governos e patrões lançam mão de ameaças, chantagens, assédio, perseguições, violências as mais diversas, e quase sempre contam com o Poder Judiciário para legitimar seus absurdos.

Neste momento de crise econômica, institucional e até moral, a ofensiva ao direito de greve vem dos três poderes. O governo usurpador, com seu Parlamento golpista, seu Judiciário acovardado, e a elite econômica colonialista que o fomenta, mostram muita disposição para avançar sobre o principal recurso da classe trabalhadora contra os profundos e variados ataques que ela vem sofrendo desde que derrubaram a Presidenta da República.

A inquietação está por todos os lados. Mas se, por um lado, parece que regredimos àqueles anos de resistência, também sabemos que o Brasil já não é o mesmo daquele longínquo ano 2000. Por mais limites que houvesse, os governos de Lula e de Dilma levaram nosso país a outros patamares socioeconômicos e culturais. Além disso, as tecnologias trouxeram os smart-phones e as redes sociais, que revolucionaram o modo de fazer e discutir política. O mundo mudou também, deu voltas e parou num lugar que já conheceu: o fantasma do fascismo assola a todos, vestido de roupa nova e de grife. A apatia, o conformismo, a cultura do ódio nos pesam como bola de chumbo presa ao tornozelo.

        Agora, é preciso “trocar de roupa andando”, como se diz. Para produzir um novo momento político, enquanto ainda estamos compreendendo as mudanças que o mundo sofreu, e reelaborando programa, táticas e estratégias, é preciso agir. Recorrer ao bom e velho recurso da greve, que ainda nos vale, para protegê-lo do avanço conservador, e para, sob ele, como um escudo, defendermo-nos da ânsia de destruição do governo usurpador, sua base e seus aliados.

Dia 28 é dia de parar. Convocada pelas centrais sindicais, a greve geral pretende sacudir o país e a cabeça de quem ainda não entendeu a gravidade do momento. Porque, para além das vitórias que temos condições de arrancar-lhes, creio que eles temem o grau de mobilização e reflexão que atingimos numa greve. Porque isso é capaz de durar uma geração inteira.