tag:blogger.com,1999:blog-86724127659109110102024-02-07T16:35:41.787-03:00Blog TerribiliMúsica, feminismo, diálogos, política, futebol, crônica e poesia convivendo no mesmo espaço. E sem conflito.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.comBlogger424125tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-1452327339871305632019-06-10T12:59:00.000-03:002019-06-10T12:59:24.632-03:00Defesa da AlegriaEu tenho a impressão que, neste momento sombrio que vivemos, conservar a alegria chega a ser um gesto revolucionário.<br />
<br />
Guimarães Rosa afirmou, encarnado em Dito dando conselho a Miguilim, "que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo". É difícil, mas é importante. E não se trata de autoajuda ou <i>coaching for life</i> e nada disso. É que gente triste, entediada, desesperançosa, essa gente não muda a realidade.<br />
<br />
Sábado, quando o grupo Praga de Baiano abriu sua apresentação provocando: "não se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa", aquilo mexeu com um monte de coisas dentro de mim. Se a alguns cantar isso pode aparentar maluquice ou alienação, eu tenho a plena certeza de que só assim superamos estas trevas. Só iluminando de sorrisos.<br />
<br />
Vejo tanta gente adoecendo o meu redor, de doenças da alma, vejo tanto medo e tanta violência nos atos e nas palavras, que se a gente não tiver a alegria para se acolher, se acalentar, eles vencerão. Tanta gente que se deixa contaminar por esse terror todo e se instrumentaliza de insegurança, de desconfiança, de ensimesmamento para poder sobreviver... Eu penso que tem que ser exatamente o contrário.<br />
<br />
Não à toa os artistas se tornaram inimigos a serem combatidos. A alegria é poderosa. A arte é poderosa. A memória é poderosa. A generosidade é poderosa Tentarão destruir tudo isso, mas nós as defenderemos.<br />
<br />
<b>"Defender a alegria como uma trincheira</b><br />
<b>defendê-la do escândalo e da rotina</b><br />
<b>da miséria e dos miseráveis</b><br />
<b>das ausências transitórias</b><br />
<b>e das definitivas".</b><br />
<b>(Mario Benedetti)</b>Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-39092826258564151462019-06-03T22:29:00.000-03:002019-06-03T22:29:16.342-03:00JuntasUma vez, ao dizer a um interlocutor respeitável, que não gosto de uma cantora famosa, ouvi assim:<br />
<br />
- Vocês mulheres são muito cruéis umas com as outras.<br />
<br />
É sim verdade. E é sim mentira. Porque a vida é o quê? É dialética mesmo.<br />
<br />
Hoje em dia, não me poupo mais de meus gostos e desgostos. Gosto das minhas opiniões formadas, porque as formo à revelia de quem me queria eterna aceitante do que me trazem. Então não, então opino. Gosto e não gosto. Meu gosto. Boto à prova, na serenidade de quem sabe o que quer e tenta saber ouvir. Na insegurança de quem quer sempre ser compreendida, não julgada.<br />
<br />
Dizem que as mulheres são bastante competitivas entre si, especialmente nos espaços que mais habitei nesta vida, como Música e Política. E por que será? Desde cedo, sempre percebemos que não há espaço pra todas. São poucas as mulheres que vencem, e essas sempre são usadas para que o <i>status quo</i> afirme que as mulheres sempre podem vencer. É mentira que sempre podem. Os filtros que colocam pra nós são da ordem do <b>MUITO MAIS</b> (mas <b>MUITO MAIS mesmo</b>) que pros homens. Muitos filtros. E eles vêm, principalmente, da vida material. Você sabe por quê Clementina e Jovelina só se tornaram conhecidas depois de terem mais idade?<br />
<br />
Pois então. Não xingue nem critique nem muito menos condene as mulheres que têm essa dificuldade, que se veem em disputa, que temem perder o que não têm - seu espaço. De outro lado, nós também vamos entender que não há nada o que fazer se não for juntas. Chega de ser a exceção. Queremos ser a regra.<br />
<br />
Sabe o que é mais legal? Tentar fazer realmente um mundo onde caibam TODAS, como cabem os homens. Personalidades, forças, vivências, artes, tudo é diverso, as mulheres são tantas! Eu quero um mundo onde caibam todas. E se não... Por que será que os homens teriam tanto receio das cotas??! Perder espaço? Pois é! Bem-vindoooos!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_EBq4c-S44nwiuRSgmvwccBuHcXQkTWo0vMWMUFAWCgIFyT9i05-5Fdbnt0FoQXjJHTe2ZH_yZrdQbLTydBBwClAPqr0Xu0XG8p93D4oJLPMb_viIJVl8QNhNM_mlpXv96LNLFExiazs/s1600/1mulheres.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="960" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_EBq4c-S44nwiuRSgmvwccBuHcXQkTWo0vMWMUFAWCgIFyT9i05-5Fdbnt0FoQXjJHTe2ZH_yZrdQbLTydBBwClAPqr0Xu0XG8p93D4oJLPMb_viIJVl8QNhNM_mlpXv96LNLFExiazs/s320/1mulheres.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-30681254105723295112019-05-30T16:01:00.000-03:002019-05-30T16:01:21.950-03:00O Sonho, a Vida, a Roda VivaAssisti pela TV Brasil o show <b>MPB-4 - O Sonho, a Vida, a Roda Viva - 50 Anos Ao Vivo</b>. Sem medo de recorrer ao senso comum da expressão "eu faço parte disso", eu afirmo emocionadamente que é bem o contrário: o MPB-4 faz parte de muito do que sou e, especialmente, do que me tornei ao trazer a Música para o centro da minha vida.<br />
<br />
Eu os escuto encantada desde pequena, quando <i>O Pato</i> me enchia de compaixão porque só se dava mal, mas mesmo depois de ir para a panela, continuava quaquarejando e resmungando coisas que eu não entendia, até a música terminar. Comoveram-me todas as parcerias com o Quarteto em Cy, que amo também, e acho que tudo que interpretaram juntos se tornaram versões definitivas - olha que foram algumas das mais belas obras da nossa Música Popular. Entre os primeiros CDs que comprei, estava lá um da coleção Millenium, <b>Quarteto em Cy e MPB-4</b>. Certamente um dos que eu mais ouvi na vida.<br />
<br />
Acompanhando esse lindo show ao qual aqui me refiro, dei-me conta de que a influência deles sobre mim é ainda maior do que eu pensava. Aquele repertório comemorativo <i>- aliás: eles sabem melhor do que ninguém escolher repertório -</i>, traz músicas que falam comigo diretamente ao coração, saem pelo corpo carregando meu sangue e, sei lá como, chegam à garganta, e aí eu canto.<br />
<br />
A participação especial de Kleiton e Kledir foi o que sacramentou tal percepção. Por que diabos eu cortei essa do set-list, pensei comigo, referindo-me a <i>Vira Virou</i>, que eu queria ter cantado no lançamento do meu <b>Outras Manhãs</b>, mas foi uma das que precisei riscar para que o show coubesse em uma hora e meia. No <i>pot-pourri</i> do bis, lá estão eles a expor a questão amarga de Sidney Miller, <i>Pois É, Pra Quê?</i>, canção afiada à qual destinei a mesma borracha.<br />
<br />
Até o que eu não fiz está presente em mim através deles.<br />
<br />
Então, sem ter como agradecer o MPB-4 por todas as aulas que já tive com eles nesta vida; eu precisei vir aqui dizer isso pra vocês que me leem: quem tiver a oportunidade de assistir <b>MPB-4 - O Sonho, a Vida, a Roda Viva - 50 Anos Ao Vivo</b>, agarre-a com um abraço afetuoso.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5PBzLvrI4a4NtTSOItCvsEO8giaSWVrvoy4lwcTVbNSWnAjQwuobYbhUBsOobw7WrFicXy4MjRRwmQbKtHFeyiyc3_bMwSDaQhIvvSx66Cidx8e8w2TZRwCZ41Ssqqil-x2IH9HxFGb0/s1600/mpb4.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="430" data-original-width="430" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5PBzLvrI4a4NtTSOItCvsEO8giaSWVrvoy4lwcTVbNSWnAjQwuobYbhUBsOobw7WrFicXy4MjRRwmQbKtHFeyiyc3_bMwSDaQhIvvSx66Cidx8e8w2TZRwCZ41Ssqqil-x2IH9HxFGb0/s320/mpb4.png" width="320" /></a></div>
<br />Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-29063761419421979882019-05-14T11:19:00.003-03:002019-05-14T11:19:52.091-03:00Em defesa da Cultura BrasileiraTem gente que se acha super patriota porque chora quando a seleção de futebol masculino perde.<br />
<br />
Pra mim, isso tipo foda-se.<br />
<br />
O orgulho que eu sinto é da nossa cultura popular, da arte produzida no Brasil, da Clarice Lispector, do Machado de Assis, do Guimarães Rosa, do Drummond, do Manuel Bandeira, da Cecília Meireles, Carolina de Jesus, do Portinari, da Tarsila, do Mário de Andrade, do Aleijadinho. E de Noel Rosa, Tom Jobim, Chiquinha Gonzaga, Carmen Miranda, Chico Buarque, Baden Powell, Caetano Veloso, Cartola, Candeia, Clementina, Clara Nunes, Elis. A Música é aquela deusa à qual todo mundo tem acesso.<br />
<br />
A Música tem sua própria cadeia de produção, e muitos que vivem dela. Para fazer meu show no Clube do Choro no último dia 4, eu precisei de mais do que oito músicos. Alguém fez os arranjos, a direção musical. Alguém produziu o show, ou seja, assegurou materialmente que ele acontecesse. Alguém trabalhou para contatar e divulgar via imprensa, via redes sociais e outras formas de contato. Precisou de designer gráfico. Teve o técnico de som, o iluminador. Precisou de alguém na bilheteria, outro na portaria, precisou de uma equipe de limpeza e de garçons. Antes de tudo isso, alguém trabalha para organizar uma programação, alguém coordena esses processos todos, alguém capta recursos para viabilizar tudo isso, porque o Clube do Choro oferece aos artistas da cidade e ao público uma estrutura para que possamos compartilhar Música e Arte. E ainda tem os fornecedores. E ainda tem a Escola de Choro, professores, material didático, estrutura da escola, funcionários da escola.<br />
<br />
O show era de lançamento de um disco, que demandou que alguém o gravasse, mixasse, masterizasse. Precisou de fotógrafo, ilustrador. Houve uma empresa de prensagem.<br />
<br />
Olha quantos empregos envolvidos diretamente na cadeia de produção da Música! E estamos falando de um único show, de uma única casa, de um único disco.<br />
<br />
Brasília forma e exporta grande músicos, artistas maravilhosos que levam nossa arte para o mundo, como Hamilton de Holanda e Zélia Duncan. Pedro Martins tem estado - agora - nos nossos jornais, reconhecido internacionalmente por sua guitarra tão única e inspirada. E é muito mais gente, muito mais. Gente de fora vem conhecer a Música e os músicos de Brasília. Sabe por quê? Porque Brasília tem a Escola de Choro, o Clube do Choro, a Escola de Música. Porque Brasília tem o FAC, tem espaços públicos onde se pode compartilhar a arte que se produz.<br />
<br />
Se você acha muito bom ver o nome de uma empresa pública estampada na camisa de um time de futebol e acha muito ruim que haja políticas públicas de cultura que envolvam leis de incentivo, apoio e financiamento público de projetos culturais de interesse social, então, você realmente não merece morar na cidade que Niemeyer desenhou. <br />
<br />
Quando um edital do FAC, que foi encaminhado adequadamente segundo as leis do DF, é cancelado, o fora-da-lei não é o artista não. Os fora-da-lei são o governador e o secretário de cultura, que, ainda mais do que exterminar a cultura da cidade, contribuem para tirar emprego de toda essa turma que citamos parágrafos acima.<br />
<br />
Todos queremos a reforma do Teatro Nacional. O Governo tem a responsabilidade e o dever de promover a reforma, de devolver o Teatro à comunidade artística e ao povo do Distrito Federal. E ele tem que fazer isso sem desviar dinheiro da comunidade artística e da população. A deputada Érika Kokay, por exemplo, se ofereceu para buscar esses recursos via emenda da bancada federal do DF ao orçamento federal (*). Seus esforços foram rejeitados pelo governador.<br />
<br />
Quando um espaço de convivência como o bar A Vizinha sofre uma multa de mais de R$10 mil por proporcionar música aos seus frequentadores durante 4 horas nas tardes de domingo, então estão sendo sacados os empregos dos músicos, dos atendentes, dos cozinheiros. São cancelados contratos com fornecedores de todo tipo, desde a bebida até a tenda. Estão sendo anulados espaços de convivência, de lazer, de arte. Estão nos aplicando um calaboca mesmo.<br />
<br />
Um músico, geralmente, é um trabalhador precarizado, que não tem seus direitos trabalhistas assegurados e nenhum tipo de proteção social. Músico, assim como tantos trabalhadores informais ou <i>"free-lancers"</i>, quando não trabalha, não recebe. E é a Música do músico que movimenta bares, teatros, centros culturais, que oferece matéria-prima pro rádio, pra festa, pra trilha sonora da sua vida, pro tema do seu romance, pra sua nostalgia. Se você acha isso pouco, então parece que esta sociedade horrível neste momento horrível que vivemos causou danos irreparáveis em você. <br />
<br />
Aos que desejam o pleno e absoluto silêncio, recomendo a vida de ermitão. Ficaremos felizes de poder contar com sua ausência. Aos que sabem muito bem o que estão fazendo, recomendo prestarem atenção nas riquíssimas festas que tomam lugar em clubes e estádios, cujo som atravessa a cidade, e contra as quais nunca se move nem uma palha.<br />
<br />
Os cachês dos músicos estão congelados há mais de dez anos, quando não retrocederam, em alguns casos. O sujeito paga mais de R$100 pra ir ver seu time no Mané Garrincha, e pede pra tirar da conta o <i>couvert</i> de R$15 da música que ele curtiu a noite toda. O bar não negocia o aluguel de jogos de mesas, a compra de toalhas, as contas de água e de luz, ou com os fornecedores de bebidas e alimentos, mas chora pro músico reduzir seu cachê.<br />
<br />
É assim mesmo, desse jeitinho aí.<br />
<br />
Cancelar editais do FAC, bem como recusar-se a rever a absurda e antiquada Lei do Silêncio, é censura, é calaboca, é emudecer a cultura e gerar desemprego. Tudo isso orna muito bem com os tempos que vivemos, de subserviência, vira-latice e ignorância relinchante. <br />
<br />
Mas sabe outra coisa que orna também? Gritar. Porque calado (a), como nos querem, a gente não fica não.<br />
<br />
<i>(*) Nota da deputada Érika Kokay:<br />"Entrei em contato com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), na última sexta-feira (10/5) para sugerir que ele mantivesse os recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), com o compromisso desta parlamentar de construir junto à bancada federal do Distrito Federal uma emenda de bancada, para 2020, com o objetivo de reformar o Teatro Nacional. A proposta foi um dos encaminhamentos de audiência pública, realizada na Câmara Federal, no último dia 2 de maio, que discutiu o FAC e a Lei Orgânica da Cultura (LOC).</i><br />
<i></i><br />
<i>De forma rude e grosseira, o governador respondeu que as emendas seriam bem-vindas, mas iria, sim, retirar os recursos do FAC para a reforma do Teatro, impedindo o prosseguimento de qualquer diálogo sobre o assunto."</i>Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-74988207881008442522018-04-14T18:00:00.001-03:002018-04-14T18:00:23.611-03:00Quem matou Marielle Franco?Eu não conheci a Marielle Franco pessoalmente. Mas conheci sua campanha, em 2016. Amigos/as em quem confio, do PSOL ou não, pediam votos pra ela entusiasmadamente. Ela só podia ser uma pessoa boa. No adorável e resistente Bip-Bip, a maior parte dos frequentadores, notei certo domingo, se dividiam entre ela e Reimont. Peguei o panfleto, achei legal pra caralho. Ela só podia ser uma pessoa boa.<br />
<br />
Recebi com alegria a notícia de sua eleição por expressiva votação. Torci pra que o mandato fosse bom, porque o Rio merece, a periferia merece. Porque as mulheres negras das favelas merecem essa referência. Ela só podia ser uma pessoa boa.<br />
<br />
Há um mês, aquele nome, Marielle Franco, que li em panfletos e diálogos de luta e de esperança, estava numa notícia horrível, digna deste nosso tenebroso tempo. A dor pesa 500 toneladas. Tão difícil colocar nesses quase-sempre-odiáveis parlamentos uma mulher negra da favela. Lutadora dos direitos humanos. Quando ela chega lá, dão-lhe quatro tiros na cabeça e pronto. Eles atiram na esperança da gente, na esperança do povo pobre. Ela foi morta porque estava fazendo bem seu trabalho. Marielle foi morta porque estava honrando cada um de seus mais de 46 mil eleitores.<br />
<br />
Mataram uma vereadora no meio da rua na ex-capital do país. Ela era uma pessoa boa.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVxldzBbRTdin19K5gfJ-8LNwIUpFHNAyEXYDqHdatW3-J1tGsuCxSq6ywhJwmv1x7Nb9K-OIHAVY2xSJ8zOG9T9Q0IJmikcwet1tW2TJQPLB0Hbjx1ADTViSaj4NF1TENmLOEwy8GXLk/s1600/quem+matou+marielle.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="615" data-original-width="1600" height="123" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVxldzBbRTdin19K5gfJ-8LNwIUpFHNAyEXYDqHdatW3-J1tGsuCxSq6ywhJwmv1x7Nb9K-OIHAVY2xSJ8zOG9T9Q0IJmikcwet1tW2TJQPLB0Hbjx1ADTViSaj4NF1TENmLOEwy8GXLk/s320/quem+matou+marielle.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-14504212256198371852018-01-20T13:48:00.003-02:002018-01-20T13:48:49.240-02:00Esverdeia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYrX6T_5l80RQ-YPdECiMKrbGlUiKEiHQpYFFy25IHF8Fhgn2Vlh3uPsTuh8GvkcxziDgPA_h56MkjRWZzshH4IKhjWA2RAPS71as_mbRWTBUGAKkZ0Lwbao9XK-E3QrFb2Lctmx_OV5Q/s1600/oxossi2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="400" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYrX6T_5l80RQ-YPdECiMKrbGlUiKEiHQpYFFy25IHF8Fhgn2Vlh3uPsTuh8GvkcxziDgPA_h56MkjRWZzshH4IKhjWA2RAPS71as_mbRWTBUGAKkZ0Lwbao9XK-E3QrFb2Lctmx_OV5Q/s200/oxossi2.jpg" width="200" /></a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Esverdeia, meu pai<br />
Esverdeia<br />
Bota cor neste mundo sombrio<br />
Ilumina o meu caminhar<br />
Esverdeia<br />
Bota o gosto doce da fruta<br />
Na boca do povo<br />
Bota o aroma fresco da mata<br />
No coração a pulsar<br />
Esverdeia, meu pai<br />
Pulsa o verde-esperança<br />
Que este mundo precisa de cor<br />
Esverdeia<br />
Alimenta de paz, amor e alegria<br />
Traz inspiração<br />
Na ponta de sua flecha<br />
<br />
São essas nossas armas<br />
De o mundo mudar<br />
<br />
Ele vai mudar.<br />
<br />
Okê arô, Oxóssi<br />
<br />
<br />Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-26875704633342005722017-12-06T16:27:00.002-02:002017-12-06T16:27:53.617-02:00A nova políticaNada mais velho do que se autodeclarar o novo.<br />
<br />
Desde que me conheço por ser político, sempre há quem se vista sob o manto da novidade. É um discurso tão sedutor quanto falso.<br />
<br />
As agendas políticas que vêm ganhando espaço na esquerda não são novas, e esse espaço é produto da luta, da formulação e da autoorganização de tempos. A reação a essas bandeiras não é nova, tampouco inesperada. A tática da apresentação de empresários, apresentadores de TV ou pseudocelebridades em geral como alternativa aos "políticos" não é nova, porque a negação da política não é nova. Construir um partido com lindo e moderno layout que gira em torno de uma candidatura à Presidência da República não tem absolutamente nada de novo.<br />
<br />
Vejo as velhas práticas de sempre em tudo que se autodenomina "o novo". Personalismo, fisiologismo, vale-tudo na disputa interna, centralização de decisões.<br />
<br />
Não tenho nenhum fetiche quanto ao "novo". Pra falar a verdade, gosto de um monte de coisas que são velhas, no sentido de terem sido concebidas há muito tempo.<br />
<br />
Mas é que, pra mim, certas ideias formuladas há bastante tempo não perderam a validade, não envelheceram, e não porque "os sonhos não envelhecem". Mas sim porque não foram testadas em sua plenitude. Não tiveram chance de serem desenvolvidas.<br />
<br />
Estive em muitos espaços políticos em que a intervenção mais inovadora veio do militante mais velho, que, por meio de ideias que nos acolhem desde antes de nascermos, aponta para um lugar ao qual nunca conseguimos chegar, percorrendo um trajeto que, até hoje, nunca ousamos percorrer. Ao mesmo tempo, cansei de ver gente jovem acostumar-se a vícios políticos e degenerações de variadas espécies muito mais e muito antes que aqueles(as) que lá estão há mais tempo.<br />
<br />
A chave da "renovação" é válida, mas ela tem limites. É bom que tenhamos novos porta-vozes para o mesmo projeto. Mas quero saber qual o projeto. Quero saber: renovar em que bases?<br />
<br />
A dualidade velho/novo, na política, é vazia. Velho e novo não encerram qualidade a priori. Às vezes, é o que chamam de velho que abre caminho para o novo momento.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-87121616870174305062017-11-13T21:15:00.001-02:002017-11-13T21:22:47.966-02:00Prosa do Avião - uma epifaniaCom misto de assombramento e encanto, eu percebo, a cada vez que volto a São Paulo, que não a conheço mais. Desoriento-me nos caminhos, esqueço os nomes, falha-me a memória e a esperança de ali criar meus porvires. Caminho por calçadas que já foram tão surradas pelos meus pés, mas agora eles não encontram o fio da meada; olho para o alto da Consolação e não vejo a Paulista; não sei por onde anda o seu Antônio nem a vontade que eu tinha de um dia morar numa casa de vila. Os sons da cidade mais me impressionam do que comovem, e eu me vejo andando em círculo, cercada por flores de um buquê, não de um jardim.<br />
<br />
Tudo que manteve seu sentido eu carreguei comigo, errante, mas leal. Meus olhos ainda guardam as manhãs que raiavam na janela do velho apartamento do Largo do Arouche, que hoje, na minha imaginação, é habitado somente pelas lembranças que lá deixei, e que, numa fotografia mental, aparecem-me em cores desbotadas.<br />
<br />
Eu nunca mais voltei à USP, desabafava melancólica com a pessoa que mais me conhece na grande metrópole. Quando penso na ECA - Escola de Comunicações e Artes, onde estudei -, sinto o cheiro da grama molhada de chuva mais do que dos cachorros insistentes que dividiam o espaço conosco. Ouço a voz do Steven Tyler dizendo que <i>"something's right with the world today/and everybody knows it's wrong"</i>, e os versos fazem mais sentido do que nunca.<br />
<br />
Cada visita é uma nova ruptura e um novo começo. Eu encontro a cidade enquanto me perco na nostalgia de não me ver mais numa paisagem que sempre tinha me definido. Há tanta coisa que adormece na gente, que é difícil mensurar o tamanho do que se perdeu. Como se, do alto do Edifício Itália, eu não possuísse mais a cidade, mas sim, pudesse ver no horizonte os lugares onde ela não está e eu estou. Mais fácil, para mim, contemplar aliviada o que ganhei.<br />
<br />
Naquela noite de domingo, quando ele abriu a porta e eu vi seu rosto, senti-me outra vez iluminada por aqueles raios que me despertavam nas manhãs da minha juventude, como se outra vez eu me enxergasse no meio do caos cinza, colorido de grafite e de sonhos de gente que vem de todo lugar. Ao emoldurá-lo, São Paulo me acalmou do susto e me devolveu para mim mesma.<br />
<br />
E, tranquila, eu voltei para casa.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-66862717796315211352017-11-03T00:20:00.001-02:002017-11-03T00:34:12.649-02:00Sete DesejosEu ouvi essa música uma vez, era de uma novela. Não lembro bem. Era adolescente, eu acho. Ela me trazia uma paz gostosa, um conforto, uma sensação de que a vida vai longe, longe mais do que a vista alcança. Onde a vista não alcança, o sonho chega e conta história.<br />
<br />
O sonho sempre me contou história nessa música.<br />
<br />
Comecei, a certa altura, a dizer para as pessoas próximas que essa era a música da felicidade. O flamboyant vermelho, a mala azul, a réstia da luz amarela. A vida tem cores! Deitada na rede e, sob a fumaça de um cigarro deliciosamente saboreado, pensar que bom é recomeçar das cinzas. Recompor a paisagem. "Você sabe fazer" - me dizia minha professora de canto.<br />
<br />
Essa linda música sempre esteve na minha mente. Às vezes ela se oculta. E volta.<br />
<br />
Volta agora de novo. Com o lelelelelelele do Alceu. O destino, o trem que nos transporta. A música como um filme da vida, como uma produtora de imagens mentais, que remexe a alma, busca coisas, salta pra fora, e eu agradeço.<br />
<br />
Ao Alceu pela música.<br />
<br />
Ao universo, pela generosidade com que tem me tratado.<br />
<br />
Que me permita produzir versos tão claros e projetar cada vez mais desejos em cada vez menos cigarros.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/qzLy1WgqgsE/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/qzLy1WgqgsE?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-11530495211228629292017-10-25T11:23:00.002-02:002017-10-25T11:23:57.439-02:00Chuva de meteorosEu, besta, esperando o céu<br />
Enquanto os meteoros<br />
Saltitavam dentro.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-46420925639304480842017-09-28T19:20:00.000-03:002017-09-28T19:20:08.790-03:00Pro abismo e alémEu fujo, que nem vampiro foge da luz do dia, de todo tipo de discurso de medo, de esgotamento, de fim dos tempos. Acho importante inserir cada momento num processo histórico, e saber que, na luta de classes, vivemos momentos de ofensiva e momentos de defensiva. É dureza, mas cabe a nós encontrar uma maneira de enfrentar esta desgraceira, com as armas que temos e sem achar que o mundo acabou. A própria História mostra que mundo é maior do que a gente e o nosso tempo.<br />
<br />
É óbvio que, pela própria correlação de forças e desigual distribuição de todo tipo de recurso, a capacidade de reação da direita colonialista torna seus momentos de ofensiva mais eficazes que os nossos. Não é óbvio, porém, que nos sintamos amordaçados ou limitados como se fosse essa uma situação imponderável.<br />
<br />
Mas confesso a vocês que quando eu leio uma notícia absurda, ofensiva e autoritária do naipe "STF autoriza que aulas de religião em escolas públicas sigam um único credo", é aí que eu mais sinto vontade de deitar na rede e ficar esperando a conjuntura passar. Furar o dedo no fuso de uma roca e dormir cem anos.<br />
<br />
No "irônico" (contém ironia) momento em que a corja mais reacionária da sociedade me vem com as churumelas da tal Escola Sem Partido, ou com a ameaça de revogação da lei que determina o ensino de história e cultura indígenas e da África, ou com o fim das aulas de artes, sociologia e filosofia no Ensino Médio; é aí mesmo que essa outra corja, tavez pior ainda que aquela, que é o Judiciário brasileiro, autoriza a doutrinação religiosa nas escolas PÚBLICAS, atropelando de morte o pobre do Estado laico e qualquer mínimo princípio democrático - pra nem falar de liberdade. É inacreditável a cara de pau. Os caras estão com muita certeza de si, mesmo.<br />
<br />
Eu sou daquelas que acha que a gente deve fazer como o velho marinheiro, que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar. Mas olha, só com muito amor no coração, fé na vida e samba na veia mesmo pra resistir à vontade de dar a mão pro nevoeiro e se atirar no mar com uma bola de chumbo no pé.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-19135548728297598902017-08-29T15:52:00.003-03:002017-08-29T15:52:47.697-03:00A cólera nos tempos da comunicação em redeEu não sou lá muito adepta das teses derivadas da hipótese “gentileza gera gentileza”, porque, submersos na cultura capitalista como estamos, a antiquada lei de Gérson acaba fazendo mais sentido na cabeça de boa parte das pessoas.<br />
<br />
Mesmo assim, não perder a esperança é um desafio quase diário. Hoje em dia, então, equivale a enfrentar, por dia, cinco leões malabaristas, halterofilistas e domadores de seres humanos. A direita institucional sabe muito bem aproveitar a onda conservadora que forjou para implementar retrocessos que deixariam impressionados os papas do século XI e industriais do século XVIII. A direita difusa na sociedade aproveita para destilar seu ódio contra pobres, pretos, mulheres, homossexuais, estrangeiros de países pobres (sim, porque europeus e estadunidenses os encontram como tapetes estendidos), e qualquer mínima tentativa de distribuir riqueza neste país campeão em desigualdades históricas violentas.<br />
<br />
Acrescente-se a esse lastimável quadro a era da comunicação em tempo real. A necessidade de responder a tudo de imediato. Anunciar aos sete ventos toda primeira impressão como se fosse uma opinião elaborada, e defendê-la com unhas, dentes e um teclado.<br />
<br />
Eu sou ansiosa. Eu ando descrente da filosofia do “gentileza gera gentileza”. E até para mim, tudo isso tem sido assustador.<br />
<br />
Sobra pra todo mundo. Aquele parente chato que votou no candidato oposto ao seu. Os colegas de trabalho com quem você convive, mas não conversa sobre esses temas pessoalmente. O cara que você não gosta, e aproveita qualquer assunto que apareça para alfinetá-lo. O Chico Buarque. A Sônia Braga. O Gregório Duvivier. As feministas da sua <i>timeline</i>. E por aí vai.<br />
<br />
É uma perda coletiva de noção.<br />
<br />
Nem ouso pedir “mais amor por favor”. Respeito já estaria bem. Nas aulas de Propaganda Ideológica na faculdade, aprendi que uma técnica fundamental do discurso nazista tanto quanto do discurso de guerra dos EUA é a desumanização do outro. Em frente a você, não há uma pessoa. Você aliena de seu adversário os sentimentos, a trajetória de vida, os pensamentos, como foi seu dia, como foi sua vida. Você cria um cara que poderia ser o adversário dos <i>Transformers</i>. E sendo assim, você pode matá-lo. Quando ele está atrás de um monitor, então, melhor ainda! Sem vê-lo, é mais fácil desumanizá-lo. E então, você pode matá-lo com requintes de crueldade.<br />
<br />
Dirijo-me mais aos meus, porque há uma outra premissa em que acredito: viver como se pensa, para não terminar pensando da forma como temos vivido. Coerência é tudo, e creio que, neste triste momento histórico nosso, peito aberto é escudo.<br />
<br />
Os tempos são duros o suficiente, não nos endureçamos para não parecermos muito com os tempos. Deixem os eu-líricos do Chico Buarque em paz. Sai do grupo de whatsapp da família, que só te irrita. Não xingue nem vocifere contra o pobre que acessou a universidade graças ao sistema de cotas, que foi implementado por um governo legítimo, eleito para executar esse programa. Para com a mania besta de provocar a amiga feminista com meia-dúzia de senso comum besta e machista. Faça um pouco de esforço para entender que a sua vida de pessoa branca é mais fácil que a de qualquer pessoa negra, e a responsabilidade sobre isso não é da pessoa negra. A gente pode discordar sem ser tosco. A gente pode disputar sem ter ódio.<br />
<br />
Discurso gandhista à parte, como militante, fui formada numa tradição que entende que o mundo só muda a partir da ação coletiva organizada. Eu entendo, até certo ponto, a necessidade de responder com raiva a todo e qualquer ataque que se faz nas redes sociais contra as políticas e contra as pessoas em quem confiamos. Eu entendo a vontade incontrolável de criticar de imediato uma música sem ouvir duas vezes, sem pensar, sem contextualizar. Eu sei que nossa sensação de impotência diante das enormes injustiças nos traz aquele espírito do “dia de fúria”, e lá vem bomba. Eu chego perto até de entender essa necessidade de criar heróis e vilões, e de transformar heróis em vilões de uma hora para a outra, para a novela ficar mais emocionante.<br />
<br />
Mas gente, isto aqui é vida real.<br />
<br />
Quem muda a vida real não são personagens. São seres humanos. As leis que nos governam não são posts de facebook. Nossas verdades universais, nossas premissas, nossas convicções merecem que façamos por elas a boa batalha. E nós, mais do que ninguém, sabemos que elas não serão vitoriosas nem por decreto, nem por osmose.<br />
<br />
Por favor, saibamos dimensionar nossa raiva.<br />
<br />
Este poderia ser meramente um texto em defesa do seu próprio estômago, para evitarmos sua úlcera. Mas é em defesa de um padrão de civilidade que, se não existir, tornará bem mais difícil realizarmos nossa já difícil tarefa de mudar este mundo desgramado.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-50859205675555244852017-07-04T15:05:00.002-03:002017-07-04T15:05:43.348-03:00Mesmo calado o peito, resta a cucaA Cultura está sob ataque em todo o país.<br />
<br />
Em São Paulo, o prefeito playboy e higienista estrangula tanto o Clube do Choro quanto a Orquestra do Teatro São Pedro; enquanto o pai político dele, o governador, mata a Banda Sinfônica do estado.<br />
<br />
Em Porto Alegre, a Fundação Piratini corre risco sério e iminente de extinção. A TVE e a Rádio FM Cultura são espaços privilegiados para circulação e promoção da produção musical de Porto Alegre.<br />
<br />
Em Brasília, amanhecemos todos os dias alertas para evitar que metam a mão no FAC (Fundo de Apoio à Cultura).<br />
<br />
No Rio, cidade que abrigou as tias baianas que embalaram o samba nos braços, que concebeu a Santíssima Trindade do Samba; o prefeito quer restringir e controlar quase que pessoalmente a ocupação do espaço público por manifestações culturais - inclusive o sagrado samba da Pedra do Sal.<br />
<br />
E por aí vai.<br />
<br />
Nessas quatro capitais, citei apenas poucos e representativos exemplos do que está havendo. Há muito muito mais. Há muito mais nas demais cidades, nos demais estados, no Brasil em cujo centro de poder os golpistas se instalaram, e mostram, dia após dia, seu desprezo pela arte e pela cultura popular brasileira. Falo de música porque é o que eu conheço mais, mas situações análogas se verificam nas artes cênicas, plásticas, audiovisuais, literatura, nos investimentos em Educação e formação de público.<br />
<br />
Coincidência ou não, a comunidade artística foi das mais combativas na resistência ao golpe. A ponto de reverter o retrocesso máximo, que seria a extinção do Ministério da Cultura.<br />
<br />
O pessoal das trevas não brinca em serviço não. Eles sabem que a cultura popular impulsiona um povo forte e consciente de si.<br />
<br />
<i>[Há quase um ano, escrevi uma <a href="http://terribili.blogspot.com.br/2016/08/nao-sambe.html" target="_blank">crônica </a>sobre as incessantes tentativas de nos calar e de nos desalojar. Tudo aquilo parece estar se aprofundando. Mas como disse Belchior, a voz resiste, a fala insiste: você me ouvirá!]</i>Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-77326019289043483422017-06-28T15:05:00.000-03:002017-06-28T15:05:21.325-03:00Futuros MilitantesNão se afobe não, que nada é pra já.<br />
<br />
A História pode até parecer estranha, mas, uma hora, ela revelará com nitidez todos os meandros, manobras, manipulações e tudo que foi promovido em silêncio, num fundo de armário, com objetivos camuflados em camisetinhas amarelas, pato pateta, interesses escusos fantasiados de patriotismo. Não serão necessários milênios, milênios no ar. Algumas décadas serão suficientes.<br />
<br />
E quem sabe, então, o Brasil será algum país submerso.<br />
<br />
Os escafandristas virão explorar nossas casas. Encontrarão os computadores, celulares, reavivarão nossas contas nas redes sociais, nossas almas desnudas, raivosas ou assustadas. Encontrarão as expressões do ódio de classe, o desfile dos preconceitos sórdidos, e não encontrarão autocrítica em lado nenhum. Mas calma. Não haverá um deus para julgar ou punir. Quem faz isso é a História.<br />
<br />
Sábios decifrarão com facilidade o eco daquelas palavras incisivas que alguns derramaram como se não houvesse amanhã. Fragmentos de panfletos, revistas semanais, mentiras, retratos. Vestígios de estranha civilização.<br />
<br />
Não se afobe não, que nada é pra já. Um dia, tudo estará descortinado. As gerações futuras entenderão perfeitamente que foi golpe. Os protetores das vidraças não passarão. Futuros militantes, quiçá, marcharão - sabendo bem - pra coroar todo o esforço que um dia deixamos para eles.<br />
<br />
E essa parte é agora.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdR0IKJFjKUdegXnV37tvb7NkjmedHM89Fp5ZTBaimvoKMZ-58lk0XQkfQUkb6Vpi-kiU0KP6e6F1vhiCSdcDB_r8yuZlKB2dAb8hwP0WE-FjGFmaFjLgYMruoSByFv6iz-Pk904F7oyo/s1600/greve+geral.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1280" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdR0IKJFjKUdegXnV37tvb7NkjmedHM89Fp5ZTBaimvoKMZ-58lk0XQkfQUkb6Vpi-kiU0KP6e6F1vhiCSdcDB_r8yuZlKB2dAb8hwP0WE-FjGFmaFjLgYMruoSByFv6iz-Pk904F7oyo/s320/greve+geral.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<b>SEXTA-FEIRA É GREVE GERAL.</b><br />
<i><br /></i>
<i>[Que o marido da Ana Hickman nos perdoe o transtorno. A História, felizmente, registrará que estivemos em lados opostos.]</i>Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-26855628628964817602017-06-17T13:08:00.000-03:002017-06-17T13:08:46.391-03:00Deja vuTive um <i>deja vu</i> estranho no último domingo, no aeroporto JK.<br />
<br />
Ao regressar de Porto Alegre, os alto-falantes do local onde parei para um café tocavam a música <a href="https://www.youtube.com/watch?v=hFFeF5D3rrM" target="_blank">“Regina, Let’s Go”</a>, da banda paulista CPM 22 (nem sei se ainda existe ou a quantas anda, mas lembro que o Japinha era nosso colega na Ciências Sociais da USP).<br />
<br />
Transportei-me imediatamente para 2001. As tarefas militantes me traziam a Brasília com alguma frequência, e não era raro parar para um lanche em qualquer lugar da rodoferroviária (depois das quatorze horas de ônibus que separam São Paulo e Brasília) e deparar com “Regina, Let’s Go” bombando na rádio.<br />
<br />
Nas festas, quando a música rolava, eu gostava de gritar bem alto “eu não vou mais me importaaaaar”. Quando você supera os vinte anos, percebe que cada vez você se importará menos, o que, como tudo na vida, tem um lado bom e um lado ruim. Você se fere menos na medida em que menos se importa. Mas o mundo muda menos também.<br />
<br />
Quando era do movimento estudantil, vir a Brasília significava combater as políticas neoliberais de FHC e sua turma, DEM à frente. Greve nas universidades federais, rejeição ao “provão” (lembram?), resistência a todas as tentativas de privatização. Reforma da Previdência e Trabalhista estavam sempre em pauta, mas eles não conseguiram executar – pelo menos, não plenamente.<br />
<br />
Agora era eu, numa tarde de domingo, regressando de Porto Alegre, minha cidade adotiva, para a cidade onde vivo, Brasília. O vocalista do CPM 22 continuava a declarar “eu não vou mais me importaaaaar”. Chegou a dar um frio na barriga. Não existe mais aquela MTV que me apresentou essa música. Eu continuo me metendo nas confusões que jorram gás lacrimogêneo e spray de pimenta, que atormentavam a mente da minha mãe naquela época. Voltamos a estar sob fortes ataques a direitos trabalhistas e até a qualquer avanço cívico. A ânsia de destruição parece pior agora, depois de catorze anos de governos progressistas. A dor no peito de sentir-se ora acuada, ora perdida, e sempre indignada, também aperta mais forte.<br />
<br />
E, tendo vivido dezesseis anos mais, o verso que incomoda não é “eu não vou mais me importaaaar”. Mas sim aquele que fecha a música: “daqui a pouco é tarde demais”.<br />
<br />
A gente precisa se achar logo.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-32325162518015021902017-05-26T18:17:00.000-03:002017-05-26T18:52:14.159-03:00VidraçaTe acalma<br />
Não deixe que te agridam o coração<br />
Deixa ele aberto,<br />
Que os tiros te ultrapassam<br />
Sem te ferir<br />
<br />
Não feche tuas veias,<br />
Que assim o sangue não passa<br />
Não deixe à vista tua laringe tensionada<br />
Para voz passar,<br />
Tu precisas abrir<br />
<br />
Os tempos são duros<br />
Não te endureças<br />
Para não pareceres com os tempos<br />
<br />
A certeza do caminho<br />
Dá leveza aos nossos passos<br />
As manobras do destino<br />
Não se amarram feito laço<br />
<br />
Fiquemos nas ruas!<br />
<br />
Nossos sonhos<br />
Não podem ser contidos pelas vidraças<br />
Deles.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-68199160843522854342017-05-22T22:20:00.002-03:002017-05-22T22:20:56.990-03:00Algo está faltando<br />
Semana passada, eu extraí uma pinta. Uma pinta, uma marca do rosto, que ficava na lateral da minha face, praticamente no meio do caminho entre o olho e a orelha.<br />
<br />
Ela não existia quando eu era criança. Foi depois da adolescência que a bicha começou a se apresentar, e aumentar de tamanho até ensaiar tornar-se uma verruga. Uma verruguinha, vai, pequenina, tão inofensiva quanto indefesa. Feia porque em alto-relevo. Da outra pinta, no mesmo lado da face, mas abaixo, na altura do queixo, dessa eu gosto. Ela é marrom e não é pretuberante - e sempre esteve ali. A outra confundia-se com a pele pela cor, mas formava um pequeno monte em meio à planície. Não gostava dela desde que ela começou a se fazer notar.<br />
<br />
Ameaço eliminá-la há meses já. Semana passada, encontrei tempo, disposição e coragem ao mesmo tempo e lá fomos nós. Não demorou, não doeu, foram dois pontinhos só.<br />
<br />
Hoje cedo eu tirei o ponto que restara (um já havia sido removido). Olhei meu novo rosto, já sem a marca. O local onde ela existia está avermelhado, recuperando-se, cicatrizando, até não haver mais sinal nenhum de que ali houve, um dia, uma pinta com cara de verruga.<br />
<br />
Veio uma sensação esquisita de não reconhecer meu rosto. Onde está aquela coisa? Eu não gostava dela, mas ela sempre esteve ali. Ok, não sempre. Não sempre. Mas um dia ela chegou, sei lá quando, e desde então - faz tempo - ela estava ali, assombrando todas as minhas fotos de perfil. Tão inofensiva quanto indefesa.<br />
<br />
Sei lá por quê senti essa espécie de vazio interior. Por que diabos eu quis extrair uma marca dessas, que a natureza pôs ali? Logo eu, que tenho centenas de restrições a intervenções cirúrgicas com finalidade estética. Não sei, essa pergunta não tem resposta. É estranho arrancar algo do seu próprio corpo sem ter necessidade. Olhar-se no espelho e não alcançar aquela marca.<br />
<br />
Vai ver que é coisa do tempo também. O tempo põe marcas no nosso corpo: linhas de expressão, cicatrizes, manchas. Mas ele tira também: ele tira porque ele te traz a iniciativa de tirar.<br />
<br />
Acho que em algum momento eu vou deixar de sentir falta da tal pintinha, e vou até esquecer, porque em seu lugar, a pele nova chegará e inundará o vazio que tinha ficado. O que eu não vou esquecer é essa sensação louca de arrancar algo de si mesma e depois perguntar-se onde está aquilo. Com todas as metáforas e analogias que isso pode gerar. Ser humano é um troço muito louco mesmo.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-40311113771292581332017-05-15T20:56:00.002-03:002017-05-15T20:56:41.330-03:00Ode à Pedra - 2Por favor<br />
Não criminalizes meus quereres<br />
Eles são o melhor de mim<br />
<br />
Não me venhas tu<br />
Do alto do teu amor-perfeito<br />
Amaldiçoar as pedras do meu caminho<br />
Porque eu me afeiçoo a pedras<br />
Tenho uma coleção<br />
E posso atirar-lhe algumas<br />
<br />
Não queiras dissuadir-me do amor<br />
Gosto do que me provoca<br />
Gosto do que fracassa<br />
Gosto mais da partida<br />
Que da chegada<br />
<br />
Gosto das chagas abertas do que apenas é humano<br />
Gosto da carne abaixo da pele<br />
<br />
Não julgues meus desejos<br />
Não me condenes à busca da perfeição<br />
Não sou tua para que me salves<br />
Não sou uma para que me caiba<br />
Nem tu és imune ao vento que carrega balões<br />
E movimenta o ar que respiras<br />
<br />
Não te preocupes: eu não caio<br />
Porque me atiro<br />
<br />
Convido-te a caminhar de olhos vendados<br />
Sentindo aromas misteriosos<br />
Pisando em texturas esquisitas<br />
Provando sabores fugazes<br />
Amando amores vorazes<br />
Só para sentires a graça que tem<br />
A vida<br />
Quando erra o alvo.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-79825167482637993272017-05-09T12:12:00.000-03:002017-05-09T12:12:07.473-03:00Quando o rabo abana o cachorroO filme estadunidense <i>Wag The Dog</i> (tradução literal: Abane o cachorro), de 1997, conta a história de um presidente que, envolvido em um escândalo sexual, contrata um cineasta para produzir uma guerra fictícia a fim de desviar a atenção da população. O início do filme explica o título: “Você sabe por que o cachorro abana o rabo? Porque ele é mais inteligente que o rabo. Mas se o rabo fosse mais inteligente...”. O letreiro entra em seguida, sugerindo: <b>abane o cachorro</b>.<br />
<br />
Um ano atrás, se concretizava, no Brasil, um golpe de Estado jurídico-parlamentar-midiático que poderia ter sido filmado no lugar da história criada por Hilary Henkin e David Mamet.<br />
<br />
Derrotado nas eleições presidenciais de 2014, o candidato da direita ameaça não reconhecer o resultado das urnas, iniciando ali um movimento visível a olho nu para quem prestou atenção nos livros de história que estudou na adolescência. Àquela altura, a Operação Lava-Jato já avançava, capitaneada por um juiz com nítida vocação para <i>super-man </i>(com as mesmas cores, inclusive). Embora lidando com um objeto fundamental de ser examinado – as relações promíscuas entre poder público e grandes empresas a partir do financiamento de campanhas eleitorais -, a iniciativa já mostrara a que veio: servir de instrumento para carimbar de corrupto apenas um setor da disputa política. Adaptando-se à conjuntura diariamente, a operação evolui selecionando investigações a serem conduzidas, vazamentos a serem feitos para a imprensa e a própria direção dos fatos.<br />
<br />
Estão criadas as condições para um roteiro surreal no qual a corrupção no Brasil começa com a eleição de Lula, e nunca antes na história deste país havia acontecido nada semelhante. Quinhentos e quatorze anos de história são, então, reescritos, e apagam-se todos os escândalos de desvio de recursos públicos, tráfico de influência, privatizações, compra de votos e, especialmente, o enriquecimento ilícito de coronéis, donos da mídia, latifundiários, empresários e outros que até pouco tempo atrás oligopolizavam o fazer política no Brasil. E nunca foram presos.<br />
<br />
O toque final é a abordagem da mídia, que, tão seletiva quanto as investigações do juiz fanfarrão, elabora sob medida uma narrativa cuja consequência óbvia e planejada é um discurso de ódio acéfalo contra o PT e a esquerda. Tal discurso encontra terreno propício para germinar: a paupérrima cultura política brasileira. O efeito colateral é o descrédito generalizado contra todos os políticos e a satanização da atividade política. Mas não tem problema, porque a despolitização sempre favoreceu os donos do poder, e eles sempre souberam reinventar sua própria embalagem para parecerem novos e atraentes. Assim, fantasiam-se de empresários bem-sucedidos ou apresentadores de televisão e continuam a fazer o que sempre fizeram.<br />
<br />
Cria-se, então, uma acusação contra a presidenta: as “pedaladas fiscais”, que muitos governadores haviam praticado no mesmo período. Meses depois, num ato de vingança contra o PT, que contribuíra para que ele fosse investigado, o presidente da Câmara, com largo histórico de envolvimento em práticas controversas (digamos assim), inicia o processo de impedimento da presidenta da República. O vice-presidente publica carta na qual rompe com o governo, lamentando ter assumido posição somente “decorativa” (sic).<br />
<br />
Chegamos, então, ao ápice do roteiro: com olhos em chamas, setores médios e elites vão às varandas de seus apartamentos bater panela. Grandes manifestações são convocadas por esses segmentos, por meio de movimentos laranja e partidos de oposição, financiadas pela Fiesp e grupos empresariais, com grande alarde na mídia, que também convoca e promove com cobertura em tempo real. Milhares de pessoas atendem ao chamado vestindo camisetinhas amarelas, tendo um pato gigante como símbolo e privatizando (eles têm <i>know-how</i>) o hino nacional.<br />
<br />
Diante de tal comoção, em meio à qual as pessoas que vestem vermelho correm risco de serem agredidas na rua, a presidenta é afastada numa sessão da Câmara que se torna antológica pelas dedicatórias dos votos dos deputados e deputadas às suas mães, filhos, às suas namoradas, ao cãozinho da família. Assim, Michel Temer, o golpista usurpador decorativo, assume interinamente a Presidência, e monta o governo provisório com aqueles que tinham sido derrotados nas eleições de dois anos antes, e também com personagens necessários para qualquer enredo dessa monta: os traidores.<br />
<br />
A partir daí, começam a executar o programa que tinha sido derrotado nas urnas quatro vezes, num nível de agilidade que sequer Fernando Henrique Cardoso (que vencera duas eleições) tivera coragem de encaminhar. Abrem caminho para a entrega do pré-sal brasileiro às potências estrangeiras; congelam investimentos públicos em saúde e educação por vinte anos; extinguem órgãos de governo e programas centrais para o desenvolvimento de políticas de distribuição de renda e combate a desigualdades históricas; reformam o ensino médio sem dialogar com nenhum dos setores envolvidos, destituindo-lhe de qualquer mísera perspectiva transformadora; apresentam uma reforma da previdência e outra trabalhista para retirar direitos do povo, mantendo e ampliando direitos dos banqueiros e grandes empresários; legalizam a terceirização irrestrita; atuam para “estancar a sangria” (sic) provocada pela Operação Lava-Jato, para que não sejam atingidos; e disparam balas de borracha e gás lacrimogêneo contra índios, jovens, trabalhadores, e quem quer que ouse levantar-se contra o golpe em curso. Colocam em xeque o direito de greve e o direito à livre manifestação, com a bênção do Poder Judiciário, que, afinal, é peça fundamental do enredo.<br />
<br />
O final do filme ainda não está escrito. Há algumas possibilidades: temendo nova derrota nas urnas, que jogaria por terra o processo encaminhado até agora, prendem o ex-presidente Lula e/ou cancelam as eleições nacionais de 2018 – qualquer das opções escancarará o que muitos já perceberam: que vivemos sob um regime de exceção. Outra hipótese: por falta de quadro melhor, elegem o pato gigante presidente da República, e ele governará como terceirizado sob ordens da Casa Branca.<br />
<br />
Ou o cachorro assume que fez cocô no lugar errado e recupera sua habilidade de abanar o rabo.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-27222628311366088392017-05-02T14:56:00.000-03:002018-07-24T11:38:26.118-03:00Belchior: Queremos tudo outra vezConvivo com Belchior desde criança, quando me foi apresentado através de <i>Apenas um Rapaz Latino-Americano</i>. Obviamente, tendo menos de dez anos de idade, era impossível que compreendesse bem aquela amargura com que ele observava o tempo e o espaço ao seu redor; tampouco aquela missão, reconhecida nos versos que escancaravam que <b>sons, palavras são navalhas; e eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém</b>. Mesmo sem entender nada disso naquela época, passei um bom tempo apresentando-me por aí como apenas uma menina latino-americana sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vinda da capital.<br />
<br />
A mim, sempre chamou a atenção a poesia de versos cortantes, a abordagem marcadamente original dos temas cotidianos e da conjuntura. Em 2012, quando comecei a cantar o repertório de Belchior, os estudos me levaram a lugares ainda mais diversos e sonoridades que até então tinham passado despercebidas por mim.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGQww_zej-GYtJj-SOi9jx5K_TPClTGHVNvgKlgqOCF6-ahFjZUbYWrTNpXWgitjXg8n69vtkkGQj4u46g38QR5m4mYEdfLcHQ38xmoJtw_VSmu6s7C6yawqQsujey-3pwwaXv1QGmS6I/s1600/1979_divulgacao_warner.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGQww_zej-GYtJj-SOi9jx5K_TPClTGHVNvgKlgqOCF6-ahFjZUbYWrTNpXWgitjXg8n69vtkkGQj4u46g38QR5m4mYEdfLcHQ38xmoJtw_VSmu6s7C6yawqQsujey-3pwwaXv1QGmS6I/s320/1979_divulgacao_warner.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Diversas influências musicais podem ser flagradas em constante diálogo com seus versos intensos, ácidos, e a certeira disposição de contrastar com o que observava. Sua obra é repleta de intertextualidade, o que já o colocou em conversa com Bob Dylan, John Lennon, Caetano Veloso, Stanley Kubrick. Belchior foi alguém que fez Dante Alighieri e Olavo Bilac conviverem na mesma canção – que ele concluía, mais uma vez, demarcando: <b>enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, eu canto</b>.<br />
<br />
Aliás, até para falar de romance, Belchior conseguia ser original. A <i>Divina Comédia Humana</i>, uma das minhas prediletas, aborda com naturalidade e doçura o que quase todos veem como a triste fatalidade do amor, ao indicar que, sendo que nada é eterno, a certeza do fim não deveria amedrontar ninguém.<br />
<br />
A falta que lhe fazia sua casa, o Ceará, foi retratada numa narrativa de saudade que percorreu muitas músicas belas, cada vez empunhando uma tonalidade diferente da mesma dor. A América Latina pulsava nele, a ponto de <i>A Palo Seco</i> tornar-se quase um hino da latinoamericanidade, num país que poucas vezes se lembra de que é esse o contexto no qual está inserido. E ali, outra vez, ele revela: <b>eu quero é que este canto torto, feito faca, corte a carne de vocês</b>.<br />
<br />
Era atento observador do seu tempo, com quem sempre brigou. Exibindo as cicatrizes que marcam aqueles e aquelas que têm que deixar sua terra natal, ele deixava escapar sua melancolia de mãos dadas com sua ânsia de futuro. Sendo ele um crítico dos modismos e do entusiasmo exacerbado, quando esboçava um sorriso de esperança em meio ao marasmo que via, ninguém era capaz de fazer melhor, e com tão singela grandeza. A música que vinha concentrando minha atenção nos últimos dias era justamente <i>Tudo Outra Vez</i>, onde ele diz que viveria <b>as coisas novas, que também são boas, o amor, o humor das praças cheias de pessoas</b>. E agora nós é que queremos tudo, tudo outra vez.<br />
<br />
O cara angustiado para superar o “velho”; avesso a reverências e obediências. Quem conhece a obra de Belchior tem a impressão de estar diante de uma inquietação sem limites, que talvez tenha encontrado na referida missão um alento na busca de paz e dias melhores. Sua ironia era de uma riqueza extraordinária, porque contida no universo sem fronteiras do filósofo-artista que, assim como Drummond, tinha o tempo como sua matéria.<br />
<br />
Belchior não existiu. Foi uma Alucinação que a gente teve.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-68944860281554333462017-04-26T15:18:00.001-03:002017-05-09T12:27:50.707-03:00Greve Geral: E lá vamos nós de novo! Nunca vou me esquecer do professor Antônio Cândido dizendo que toda greve é vitoriosa, pelo grau de reflexão e mobilização que proporciona. Era então minha primeira greve, ano 2000, quando estudante da Escola de Comunicações e Artes da USP.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOj4LGc_BJIUuIgbY1VJPSpob-hAObh-IOQeIQSdFAB5lgR62hoWN4I3xUdWCzPWMH8x3GAT7YvFJPyC1H7KMb6Q8PkU5fZ73p-jY1yWrnahFK5q58ZI_xF_VxTLHUP28rQrfxBZAVM-s/s1600/grevegeral.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOj4LGc_BJIUuIgbY1VJPSpob-hAObh-IOQeIQSdFAB5lgR62hoWN4I3xUdWCzPWMH8x3GAT7YvFJPyC1H7KMb6Q8PkU5fZ73p-jY1yWrnahFK5q58ZI_xF_VxTLHUP28rQrfxBZAVM-s/s320/grevegeral.png" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Lembro vividamente que acordávamos diariamente para impedir a privatização das universidades públicas. Queríamos cotas, ampliação do acesso, assistência estudantil, contratação de professores e técnico-administrativos com salários decentes. Queríamos verba para pesquisa e extensão. Queríamos votar para reitor. Mas, antes de mais nada, queríamos que não privatizassem as universidades, pois, sem isso, todo o resto ficaria inviabilizado.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Em 2001, uma das mais lindas experiências de resistência que vivenciei: greve das universidades federais. À nossa geração, coube protagonizar o enfrentamento à política educacional de FHC, e assim, contribuir para derrotar programática e eleitoralmente aquele projeto de sabotagem, sucateamento e privatização da educação superior pública no Brasil.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Em 2002, acompanhei encantada a greve dos estudantes da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP. A força do movimento estudantil parou uma das mais importantes e reconhecidas faculdades de ciências humanas do país, para exigir mais professores. Foram 106 dias de paralisação, que abriram caminho para a contratação de 92 docentes.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Hoje, dezessete anos e muitas greves depois, tenho consciência e orgulho da importância que aqueles movimentos tiveram, e sua incidência na conjuntura que depois se abriria – ainda que, no calor do momento, muitos discursos de frustração ganhassem forma por não ver o atendimento integral das demandas que apresentávamos.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Há oito anos assessora sindical, minha mais recente experiência de greve se concluiu poucos dias atrás. Foi um mês de paralisação dos professores e professoras da rede pública do DF, numa árdua batalha contra um governador que parece não ter nenhuma ambição na gestão da coisa pública: não quer governar, não quer resolver problemas, não quer respeitar os servidores (as), não quer propor nada, não quer se reeleger.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Fazer greve não é nada fácil. Governos e patrões lançam mão de ameaças, chantagens, assédio, perseguições, violências as mais diversas, e quase sempre contam com o Poder Judiciário para legitimar seus absurdos.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Neste momento de crise econômica, institucional e até moral, a ofensiva ao direito de greve vem dos três poderes. O governo usurpador, com seu Parlamento golpista, seu Judiciário acovardado, e a elite econômica colonialista que o fomenta, mostram muita disposição para avançar sobre o principal recurso da classe trabalhadora contra os profundos e variados ataques que ela vem sofrendo desde que derrubaram a Presidenta da República.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>A inquietação está por todos os lados. Mas se, por um lado, parece que regredimos àqueles anos de resistência, também sabemos que o Brasil já não é o mesmo daquele longínquo ano 2000. Por mais limites que houvesse, os governos de Lula e de Dilma levaram nosso país a outros patamares socioeconômicos e culturais. Além disso, as tecnologias trouxeram os <i>smart-phones</i> e as redes sociais, que revolucionaram o modo de fazer e discutir política. O mundo mudou também, deu voltas e parou num lugar que já conheceu: o fantasma do fascismo assola a todos, vestido de roupa nova e de grife. A apatia, o conformismo, a cultura do ódio nos pesam como bola de chumbo presa ao tornozelo.<br />
<br />
Agora, é preciso “trocar de roupa andando”, como se diz. Para produzir um novo momento político, enquanto ainda estamos compreendendo as mudanças que o mundo sofreu, e reelaborando programa, táticas e estratégias, é preciso agir. Recorrer ao bom e velho recurso da greve, que ainda nos vale, para protegê-lo do avanço conservador, e para, sob ele, como um escudo, defendermo-nos da ânsia de destruição do governo usurpador, sua base e seus aliados.<br />
<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Dia 28 é dia de parar. Convocada pelas centrais sindicais, a <b>greve geral</b> pretende sacudir o país e a cabeça de quem ainda não entendeu a gravidade do momento. Porque, para além das vitórias que temos condições de arrancar-lhes, creio que eles temem o grau de mobilização e reflexão que atingimos numa greve. Porque isso é capaz de durar uma geração inteira.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-37023438303153919412017-02-16T16:26:00.000-02:002017-02-16T16:26:15.377-02:00Senhor Samba #4 - A arquiduquesa do Encantado"Noel foi quem acreditou em mim, desde o primeiro dia em que eu vi um microfone na vida.<br />
<br />
Eu morava no Encantado, um subúrbio um pouco longe, e vivia cantando em festinhas... Eu cantei no candomblé da Paulina, na rua Borges Reis. Cantei na escola de samba 'Somos de pouco falar', no largo da Abolição. Cantei em coro de igreja protestante, no Méier. Mas isso tudo não rendia dinheirinho, e eu estava precisando de arrumar uma nota. Já estava farta de cantar de graça, e quem canta de graça é galo, mas tem certos direitos no terreiro.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaECO-eX4N3JIVxceU2nrrmnSqnnVtPBYRZKkQChA8dRlIVhvU06tQU1sbyBkisTmejn4VrfaZ7vO29hacVbZx67kP4bl5_xOhmBoJw7VqcML4ngg-DgGykx-eGUvlIvYxvpuQMkm7QUM/s1600/aracy-de-almeida-cantora.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaECO-eX4N3JIVxceU2nrrmnSqnnVtPBYRZKkQChA8dRlIVhvU06tQU1sbyBkisTmejn4VrfaZ7vO29hacVbZx67kP4bl5_xOhmBoJw7VqcML4ngg-DgGykx-eGUvlIvYxvpuQMkm7QUM/s320/aracy-de-almeida-cantora.jpg" width="236" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Aracy de Almeida</b></td></tr>
</tbody></table>
Diante disso, eu estava louca para ir para o rádio, porque o rádio era a sensação daquela época, lá <br />
pelas bandas de 1932, 33, né? E apareceu lá um rapaz, um matusquela lá no Encantado, que era amigo de Custódio Mesquita. Eu arrumei uma roupinha melhorzinha que eu tinha, que não era lá muito legal, mas servia, né?, e fui até a avenida Rio Branco, pela primeira vez na minha vida, que eu não conhecia a cidade, nem nada. Era um verdadeiro xavante.<br />
<br />
Custódio Mesquita estava lá, e me ensaiou um samba. Mas eu não estava dando no couro, porque eu estava muito nervosa, a primeira vez com um piano na minha frente pra me acompanhar! Eu aí resolvi partir pra marcha, porque marcha era mais fácil, era uma espécie de bossa-nova, qualquer tom servia e era naquela base, né?<br />
<br />
Custódio aí disse:<br />
<br />
- Tá bom Aracy, eu vou te levar então até a Rádio Educadora do Brasil.<br />
<br />
Quando acabei de cantar aquela marchinha no programa de Pinóquio, eu... apareceu uma figurinha formidável, assim magrinha, assim, de terno de flanela branca, assim, uma gravata branca, camisa azul-marinho, sapato branco, muito bem vestido. Apareceu o Noel Rosa. E parece que foi pra me dar assim um pouco de alento, uma colherzinha de chá, vamos dizer assim, né? Disse:<br />
<br />
- Aracy, eu gostei muito. Você cantou muito bem e tal...<br />
<br />
Nós ficamos batendo um papo, coisa e loisa.... Nessas alturas, o Noel disse pra mim assim:<br />
<br />
- Ô, Aracy?! Vamos tomar uma cerveja Cascatinha na Taberna da Glória?<br />
<br />
Lá fui eu pra Taberna da Glória com o Noel, de bonde. Sentamos, encontramos uma porção de malandros conhecidos do Noel: Saturnino, Brancura, Zeca Meia-noite... Ele tinha uns amigos espetaculares, o Noel. Os malandros mais [gargalhando], mais gloriosos da época eram amigos de Noel Rosa. De maneira que, naquela turminha, fiquei eu ali botando as minhas banca, né?, cantando muito, porque eu cantava desde que acordava até que ia dormir. E aconteceu o seguinte: eu fiquei bebendo até de manhã cedo, naquela roda, parecia até que eu já conhecia eles e tal. E afinal de contas, cheguei em casa num porre que não tinha mais tamanho, né? E depois desse porre que eu tomei, eu me emendei com os da Glória:<br />
<br />
- Eu pretendo hoje tomar um daqueles gloriosos às onze e meia.”<br />
<i><br /></i>
<i>[Monólogo de <b>Aracy de Almeida</b> extraído do disco "O Samba Pede Passagem" (1965) registro dos melhores momentos do show de mesmo nome realizado em 1965.]</i><br />
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCCM8dihxOBhrgYxNnhSOZif-cZrneIayS5406fTZbFhOFR2L1J8qkM3UQE6d__l98XaMqb2jLqHb9d20-79ZwlhNjEDOqQLt6vObPGa6WvxPJQEYelpHOBnb1WcByIx3wD5g7l0KkY-E/s1600/aracy-de-almeida-ismael-silva-mpb4-samba-pede-passagem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="316" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCCM8dihxOBhrgYxNnhSOZif-cZrneIayS5406fTZbFhOFR2L1J8qkM3UQE6d__l98XaMqb2jLqHb9d20-79ZwlhNjEDOqQLt6vObPGa6WvxPJQEYelpHOBnb1WcByIx3wD5g7l0KkY-E/s320/aracy-de-almeida-ismael-silva-mpb4-samba-pede-passagem.jpg" width="320" /></a></div>
<i><br /></i>Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-18362498729237265802017-02-03T10:56:00.002-02:002017-02-03T10:56:46.397-02:00Uma outra euAlgo em mim precisa morrer<br />
Para que eu possa viver<br />
Em paz<br />
Dos escombros do velho castelo<br />
Que nunca ergui<br />
Sei que há de emergir<br />
<br />
Uma outra eu<br />
Nas linhas a mais<br />
Que hei de escrever<br />
Em dias libertos<br />
De peito aberto<br />
Sem pressa demais<br />
<br />
Algo em mim precisa brotar<br />
Para que eu possa optar<br />
Sem dor<br />
Por deixar-te no velho caminho<br />
Em que me perdi<br />
Sei que vou conseguir<br />
<br />
Ser outra eu<br />
Nos versos de amor<br />
Que hei de escrever<br />
Em dias inquietos<br />
De peito desperto<br />
Sem dó nem rancorAlessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-15181145389545508822017-01-20T17:33:00.000-02:002017-01-20T17:33:14.352-02:00CaminhadaDeterminada, segue o exemplo das mulheres que a lideraram a vida toda, trilha seus passos e repete seus mantras, mesmo quando eles não lhe querem falar. Caminha longamente sem olhar para trás, não sabe bem das coisas que ficaram pelo caminho, pois o próprio caminho a conduz agora, e é nele que confia com amor e fé. Os passos firmes, os olhos fixos na linha do horizonte, que, como lhe antecipara Galeano, se movimentam sempre para mais distante, fazendo-a apressar o passo temendo não chegar jamais. De algumas flores, retira a essência que bebe para suportar a dor de não parar. No cair da tarde, as nuvens lhe nublam a vista e os olhos ameaçam chover, o horizonte ainda chama mas agora está como que embaçado diante dela, lindamente misturado no conjunto da paisagem que vê em tons de azul escuro, cinza e roxo. Não demora e o preto domina o espaço todo, e agora os olhos não chovem e não veem, as pernas só fazem andar. Sem enxergar, sente a presença de alguém que se aproxima, vindo do sentido oposto. Os passos leves e o olhar doce indicam que o final do percurso é bonito. Mais uma vez, como as ancestrais, deixa-se guiar pela beleza que vê por entre os olhos amordaçados. É por isso que segue, já sem dor, já sem medo.<br />
<br />
***<br />
<b><i>Feliz 2017.</i> :)</b>Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8672412765910911010.post-78772922804117575242016-12-18T13:32:00.002-02:002016-12-18T13:32:48.933-02:00Minha faltaA sua falta já não é sua<br />
É minha, agora<br />
Fico à vontade com ela<br />
Conversamos, bebemos<br />
Às vezes compomos<br />
E ela descarta o que não gosta<br />
<br />
Porque se é minha é alegre<br />
Desbocada e displicente<br />
Não chora nem grita<br />
Não lastima<br />
Não implora<br />
<br />
A sua falta é minha<br />
E tem a minha cara agora.Alessandrahttp://www.blogger.com/profile/14309987566734243618noreply@blogger.com0