segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

De coração de Natal

Ano passado, mais ou menos a esta altura do ano, chovia em São Paulo também. Eu saía de uma reunião – a mesma a que compareci no fim de semana último – e levava companheiros ao aeroporto de Congonhas. Lembro que alguma coisa acontecia na sede da UNE, pois os e as jovens que participavam da mesma reunião que eu dirigiram-se para lá antes mesmo do nosso compromisso terminar.

Voltando do aeroporto, pela Avenida 23 de Maio, chuva fina no pára-brisa, imaginava calada e distraída que seria ótimo ir para casa descansar de dois dias de reunião. Ou ainda, que poderia ligar para algum dos bons amigos para uma boa cerveja, e assim, também descansar dos dois dias de reunião...

Eu não sei bem por que, mas no fim das contas, peguei a Tutoia e segui na direção da UNE. Nem sei se cheguei a tomar a decisão de ir para lá ou se o carro me levou porque quis. Não fui para casa, não fui tomar cerveja. Fui oferecer minha ajuda a companheiros(as) que credenciavam entidades ao tal fórum da UNE. Registre-se: havia uns anos que eu não acompanhava absolutamente nada, atividade nenhuma, nenhuma discussão, do movimento estudantil. Fiz parte da direção da entidade, na pasta de mulheres, de 2003 a 2005. Depois disso, passados poucos meses de acompanhamento da nova gestão, virei adulta e as costas para o movimento que me formou.

Estranho. Mas aquele dia, acabei indo pra UNE. Espírito natalino? Oferecer ajuda? Não sei. Fui para a UNE. Minha irmã estava lá. Fui pra UNE. Sei lá fazer o quê.

Sei que a Avenida Paulista estava inacreditavelmente congestionada. Eu não peguei aquele trajeto, mas muitos chegavam bufando na sede da entidade por conta disso. Lembro que retardei meu retorno daquela imprevista visita exatamente por causa daquele tão anunciado trânsito da Paulista. Eu não entendia o que levava tanta gente à mais famosa avenida de São Paulo num domingo às 22 horas. Mas vai saber. Podia ser um acidente, recapeamento, montagem de palco para a festa de réveillon, semáforo embandeirado. Muita coisa é capaz de causar um baita trânsito em São Paulo. Comum.

Em algum momento, alguém chegou e alertou:

- Ei, fujam dos arredores da Paulista, tá tudo parado lá.

Sim, mas onde estávamos era arredor da Paulista. “Inevitável dirigir-se ao centro fugindo dos arredores da Paulista, criatura esperta”, pensei. E também, àquela altura, essa notícia já não era novidade pra ninguém. Alguém foi mais curioso que eu:

- Mas por que trânsito a esta hora? É domingo e passam das 23h!

- Ah, são as luzinhas de Natal.

Estranhei. Mas um belo rosto surgiu para fazer a seguinte consideração:

- Aqui nesta cidade as pessoas causam trânsito para ver Papai Noel???

Todos riram. De fato, até para mim, paulistana, soava estranho. Não é um fenômeno tradicional, mas acho que era uma tradição se formando... todos os prédios da Paulista se enfeitam, se iluminam, se enchem de bonecos e decorações para marcar a chegada do Natal. E as pessoas vão lá ver... ficam lá, tiram fotos... passam devagar com seus carros para não perder nada... veem Papai Noel sim. Que coisa.

Natal é isso, parece uma histeria coletiva. Odeio os shopping centers entupidos, o trânsito da Paulista iluminada, os especiais de Natal da TV...

Enfim. Lembrei de tudo isso porque hoje encontrei a seguinte matéria no portal UOL: “Turista enfrenta chuva e trânsito para visitar decoração de Natal em São Paulo”. Falava da Avenida Paulista... A primeira coisa que lembrei foi a ironia sutil na voz do belo rosto que estranhou a mobilização pró-Papai Noel na maior cidade brasileira. Alegrou-me o dia lembrar aquela situação, em seu conjunto, porque desde aquele dia esse rosto passou a fazer parte da minha vida.

Em seguida, pensei: “Pôxa, que coisa chata, as coisas se repetem iguaiszinhas todo ano”! Chuva, congestionamento na Paulista, decorações de Natal, Papai Noel, credenciamentos de atividades da UNE... a mesmice é incômoda. É inimiga da espontaneidade.

Mas... no fundo, é assim: os olhos precisam estar atentos, porque, em meio à mesmice, sempre existe uma novidade especial que enche os olhos de quem não se acostumou a olhar sem ver.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse rosto deveria ser mesmo uma gracinha...rs. Bom, ainda bem que pra quebrar a mesmice, tem Porto Alegre, a chuva, os tornados, o sol, mais chuva, outro tornado, uma casa nova, e a companhia um do outro. TE AMO.
Juliano.

Marina disse...

Alê,

Quanto tempo!
Ainda bem que tem blog pra gente se ver...
Flor, compartilho com você essa impressão. Eu também odeio a Paulista parada nesta época do ano. E as mesmices.
Já escrevi sobre isso no meu blog: http://sobrencoisas.blogspot.com/2008/12/sobre-poca-do-natal.html
Há um ano...
E vou escrever sobre isso de novo daqui a pouco.
Por conta das mesmices, sabe?

Um beijo.