quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A alegria do Fórum Social Mundial em sua nona edição

(foto da Agência Carta Maior)


A “cobertura” da Folha de hoje sobre o Fórum Social Mundial, que começou ontem em Belém, é uma piada.

A matéria divide ¾ de página com a publicidade de um cruzeiro, e o centro dela é a marcha de abertura do Fórum, que tradicionalmente abre as atividades do evento. Uma parte é um texto corrido, sobre a marcha (com foto), e outra parte são drops.

A meta é, visivelmente, desqualificar o Fórum Social Mundial. Para isso, o texto se utiliza de ironias sobre a relação dos(as) participantes do evento com o McDonald’s, sobre ser entoado o hino da Internacional Socialista, sobre a sede da Globo (TV Liberal, no caso da afiliada lá) estar no trajeto da marcha.

Nenhuma palavra sobre as atividades do Fórum, os países representados, os movimentos sociais reunidos, os objetivos da reunião, a atualidade do debate desde 2001.

Entre os drops, um satiriza o fato de a Federação Nacional dos Farmacêuticos ter como “lema” (sic) a idéia de “Palestina livre”. Muito engraçado, não? Totalmente fora da realidade, da conjuntura, da cabeça das pessoas. Por que diabos farmacêuticos(as) deveriam se preocupar com a Palestina??? Só porque está acontecendo uma guerra sanguinária lá? E eles estão no Fórum Social MUNDIAL, não no Fórum Farmacêutico Local? Ora, deveriam, isso sim, se preocupar com medicamentos e substâncias químicas dessas que fazem efeito quando jogadas no corpo das pessoas. Pra quê mais?

Depois, a reportagem destacou que adolescentes estrangeiras (reparem no gênero) compravam frutas típicas no Mercado Ver-o-Peso por até o dobro do valor normal. Também registrou que viu com os próprios olhos uma “visitante” ter sua carteira furtada. Poxa! E em vez de escrever uma matéria dispensável dessas, podia ter ajudado a menina a recuperar a carteira hein! Ok ok... temos que perdoar a reportagem. Devem ter ficado paralisados tamanha surpresa diante de um furto de carteira, algo que sempre lhes pareceu tão distante da realidade.

Mas, pra mim, o pior foi a forma como o jornal tratou a alegria dos participantes do Fórum. Afirma que a marcha de abertura foi uma manifestação “com jeito carnavalesco”. Citou as baterias que tocavam samba, grupos fantasiados de palhaços e o fato de que as pessoas “pulavam”. Era uma tentativa de dizer que a coisa não é séria. Lembrei do Eduardo Galeano:

“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagens. Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca”.

Esse pessoal nos quer, a nós, a esquerda, carrancudos. Nos quer choramingando, rotuláveis, esteriotipáveis. Nos quer com úlceras e gastrites nervosas, nos quer enlouquecendo, nos quer sem amores, sem sorrisos, sem motivos pra festejar. Mas nós os temos. Uma luta que é por justiça, por liberdade, não tem como ser rancorosa. É alegre. E porque a revolução é alegre, eles têm medo de nós. Porque nosso sorriso pode contagiar.

Que bom que Belém estava sorridente ontem. Viva o Fórum Social Mundial!

11 comentários:

Marina disse...

Boa, Alê.

Li a Folha hoje cedo tomando café da manhã e fiquei com indigestão ao ver a cobertura do Fórum.
Sério mesmo.
A Folha é incapaz de acentuar a dimensão política de um encontro que - ela mesma diz - reúne mais de 100 mil pessoas.
Incrível.

Você tá em Belém, flor?
Se estiver, manda mais notícias daí que eu tô com o coração em mil pedaços de não ter conseguido ir ao FSM este ano...

Um beijo.

Anônimo disse...

Olá, querida
Tudo bom? O Fórum está uma loucura (como de costume). Siga acompanhando as novidades. Quando puder, te escrevo com mais calma. Beijo. Juliano

Anônimo disse...

Olha só quem eu encontro nesse ciberespaço...não sei se lembras de mim, mas dialogamos algumas vezes na época de Enecos, Lucas, de Palmas...Chego ao seu Blog através de amigos em comum, também do Movimento...Quero dizer que a cobertura do Fórum pela mídia grande é imoral!No pior sentido da palavra, dá ânsia de vômito ver esses ditos "jornalistas" desqualificarem processo tão rico encontrado no FSM. Bom, é isso.

Inté!

lucas milhomens

Anônimo disse...

Alessandra,

Lendo seu artigo lembre do Mao Tsé Tung: " a revolução não é como pintar um quadro, escrever um livro ou compor uma música, é um ato de violência no qual uma classe subjuga a outra".
Escrevi só para fazer um contraponto ao seu artigo que diz que revolução é alegre.
Outra coisa: Trotsky dizia que usar termos revolucionários para descrever coisas reformistas é clássico da capitulação. Não que o FSMa seja reformista, mas está longe de ser revolucionário, no srntido exato da transformação social que converte o extraordinário em cotidiano. Falei isso também para fazer mais um contraponto.
Hoje em dia se tornou moda dizer que revolução é qualquer coisa. Não é. Não sou xiita nem esquerdista, mas acho que quando prostituímos dos termos, temos confusão analítica. Talvez a mesma que fez você criticar a Folha por tratar o FSM como festa e depois, desfechar seu artigo, dizendo que o FSM é sim uma festa, de gente que faz revolução (sic) com alegria.
A Folha não nos quer rancorsos...quiçá até queira, mas não pela matéria que descreveu de fato uma festa de abertura. Ou não é disso que se trata uma "batucada feminista", onde as meninas colocam perucas lilases? Festa engajada, mas simplesmente festa.
Se fosse você reescrevia o artigo. Duas faculdades na costa tem que servir para alguma coisa.
Publique se tiver peito.

O Debatedor

Anônimo disse...

Que absurdo!
"Reparem no gênero". Oh não! Só porque falaram que as mulheres tavam fazendo compras na feira. Não! Mulher, inclusive não faz compra. Isso é invenção dos homens machistas. Mulher no FSM muito menos! Só debatem (e batucam)!
Agora os jornalistas que estão vendo que são Xis mulheres comprando têm que escrever que eram Xis homens, ou "pessoas", ou "seres-humanos", ou "animais racionais", ou "inteligências do Reino Animalia". Mulheres não. Não fazem compras. Principalmente no FSM.
Fala sério vice-presidenta!

Anônimo disse...

Todo com medo é desse artigo que chama festa de "revolução alegre". Tô mentindo? É o que tá escrito aí:
Presta atenção

1 - "Mas, pra mim, o pior foi a forma como o jornal tratou a alegria dos participantes do Fórum. Afirma que a marcha de abertura foi uma manifestação “com jeito carnavalesco”. Citou as baterias que tocavam samba, grupos fantasiados de palhaços e o fato de que as pessoas “pulavam”. Era uma tentativa de dizer que a coisa não é séria".

2 - "Esse pessoal nos quer, a nós, a esquerda, carrancudos. Nos quer choramingando, rotuláveis, esteriotipáveis. Nos quer com úlceras e gastrites nervosas, nos quer enlouquecendo, nos quer sem amores, sem sorrisos, sem motivos pra festejar. Mas nós os temos. Uma luta que é por justiça, por liberdade, não tem como ser rancorosa. É alegre. E porque a revolução é alegre, eles têm medo de nós. Porque nosso sorriso pode contagiar".

3 - Nenhuma palavra sobre as atividades do Fórum, os países representados, os movimentos sociais reunidos, os objetivos da reunião, a atualidade do debate desde 2001.


É festa ou não? É para ser alegre ou não? O que a Folha fala de mentira? Não vi nenhuma palavra sua sobre debates, movimentos etc etc etc

Sabe o que é isso? Muita Marcha e pouco livro...

m a r i p i r e s disse...

Acho que as pessoas podem até discordar do ponto de vista da Alessandra de que a revolução é alegre. Mas isso passa longe de ser a centralidade do texto.

Prefiro uma leitura menos estrita, ou menos estreita. Pra mim, é muito claro que não se trata de um texto científico, acadêmico, com base em teóricos e teorias. Em nenhum momento o texto revela pretensões dessa ordem.

E está muito claro também que a intenção do texto é criticar a cobertura da Folha, que, sim, buscou desqualificar o evento a qualquer custo. Alguém, do ponto de vista da esquerda, discorda disso?

Ainda assim, OK que as pessoas discordem da forma poética que ela escolheu pra fazer a crítica, dos termos que resolveu utilizar etc. Cada um acha o que quiser e é ótimo que venham aqui comentar o que acham.

Agora, o que eu acho péssimo é que as pessoas usem do anonimato, não para criticar o texto da Alessandra, mas para desqualificá-la pessoalmente. E não só ela, mas também a militância feminista.

Aí "O Debatedor" cobra "peito" (oh, a versão feminina de colhões pelo visto... vai de retro, lógica machista!) e não tem coragem de assinar o próprio nome? Devia assinar "O Debatedor Covarde".

Aí o outro vem de "Muita Marcha e pouco livro"? Pra mim é demais. Interessante que não tem assinatura, mas dá pra perceber que são todos homens.

Ale, se o blog fosse meu, eu colocaria filtro nos comentários. E só publicaria comentários assinados. Fica a dica.

Abraços e parabéns pelo blog!

Mari Pires.
jornalista, feminista, militante da secretaria de mulheres do P-Sol.

m a r i p i r e s disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Pops disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Pops disse...

Fico muito feliz de ler um artigo com tanta propriedade sobre o Fórum. Lembro de Lênin que dizia que a festa do povo é a revolução!E ele estava certo e o Fórum Social Mundial é só uma prévia da festa de um mundo mais justo e igualitário!!!

Anônimo disse...

Recebi este texto por uma lista de discussão sobre OP e democracia participativa. Adorei. Não estive em Belém, mas estive em Porto Alegre. A imprensa faz isso mesmo, manipula informações de acordo com seus interesses e eles são ideológicos.

A Alessandra decompõe isso muito bem, de modo que fica evidente a parcialidade. E além disso joga luz sobre coisas que são caras e são mais importantes do que imaginamos pra nossa luta do dia-a-dia. O artigo é ótimo. Vou virar seguidora deste blog.

Mariana Schiavone

- E acho que as pessoas que falaram mal do texto, na verdade é A pessoa. Repare, Alessandra, que os 3 posts foram escritos na seqüência (vide horários).