terça-feira, 25 de setembro de 2012

Desventura

Um pequeno e sensível poema da minha amiga Chris, Christine Rondon, que se inspirou numa desventura minha para me presentear com palavras doces e tranquilizantes até. Em meio à reta final das eleições municipais, à grande manifestação de Madri, às tentativas de sufocar a Cidade Baixa e emudecer nosso canto, em meio ao fardo pesado do dia-a-dia... Sempre bem-vindo um belo poema. Como ele é meu - já que ganhei! -, batizei-o de "Desventura".


***
Desventura

Ninguém? Julgas que mais ninguém?
Pois te digo que há alguém, e digo-te quem:
Um certo moço, que anda por aí
Sem saber de mim, sem ser de ninguém...

Era um moço de uns trinta anos
Sem nome, aliança ou endereço
E de tanto olhá-lo mal posso dizê-lo
Em sua completa ventura
E minha desventura de não tê-lo.

Era um moço de olhos pequenos
Pele perfeita, como se nem fumasse
E de tudo era ele a própria fumaça
Que se esvaía, penetrava, meu veneno
Que atiçava e aumentava a desventura de não tê-lo.

A boca era o prenúncio da loucura
Os olhos, da perdição, pressentimento
Deixava minhas vontades todas nuas
Nesse jogo de recuos fraudulentos
... Que amalgava a desventura de não tê-lo.

Ninguém mais, julgaria eu também
Não fosse esse moço pilchado, desatento
Que não cuidou que minha pressa o precedia
No desespero de cada minuto em que rompia
A minha completa ventura de não tê-lo.

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