Os(as) internacionalistas têm a defesa do direito de autodeterminação dos povos no seu gene. Este não é um caso diferente. A identidade catalã vem, há muito, sendo reprimida pela noção de unidade espanhola, repressão essa que não se restringe ao âmbito cultural, mas, por diversas vezes, estendeu-se às vias militares (a ditadura de Franco representou o massacre da Catalunha, por exemplo).
Hoje, os catalães celebrarão sua identidade, e seu desejo de serem um povo soberano. Minha solidariedade a eles, eu expresso da tradução do texto abaixo, de autoria do Col-lectiu Emma.
Uma manifestação diferente no Dia Nacional da Catalunha
Nota sobre a marcha de 11 de setembro em Barcelona
(tradução de Alessandra Terribili da versão em espanhol)
Em 10 de julho de 2010, centenas de milhares de catalães – um povo pouco dado a levantar a voz – saíram às ruas numa manifestação política realmente massiva. A causa imediata era que a Espanha acabava de formalizar sua rejeição ao Estatuto ratificado pelo Parlamento Catalão, aprovado em referendo quatro anos antes. Naquele momento, a revisão do marco legal que regulava o autogoverno foi vista pela Catalunha como uma proposta leal de acordo político dentro da estrutura do Estado. Contudo, em 2010, muitos já davam como impossível esse acordo, e por mais que, oficialmente, não se tratasse de uma manifestação pela independência, esse foi, precisamente, o grito que mais se escutou nas ruas de Barcelona naquele dia.
Dois anos depois, quando os catalães se preparam para celebrar seu Dia Nacional em 11 de setembro, as coisas não melhoraram, em absoluto, e não só pela situação deplorável da economia. É certo que as medidas que o governo espanhol tomou para gerir a crise financeira levaram à defesa da independência muitos que ainda tinham dúvidas, mas o descontentamento catalão é mais profundo. À asfixia a que conduz a atuação espanhola nos âmbitos econômico e político, soma-se um recrudescimento dos ataques contra todos os componentes da identidade nacional catalã. Isso faz imprescindível – e urgente – que os catalães assumam o controle de seu próprio futuro.
Este ano, a manifestação de 11 de setembro terá um lema bem claro: “Catalunha, novo Estado da Europa”. Os participantes cruzarão a cidade até chegar ao Parlamento, onde uma delegação será recebida por sua presidenta. Embora se trate essencialmente de uma iniciativa da sociedade civil, diversos grupos políticos apoiam a manifestação. Alguns líderes e representantes políticos virão a ela com seus partidos, entre eles, o CDC [Convergència Democràtica de Catalunya], um partido moderado de centro-direita que é sócio majoritário da coalizão que governa o país. Muitos outros irão como cidadãos privados, a despeito das ressalvas que suas organizações expressaram. O presidente Artur Mas [presidente da Generalitat, ou seja, do Governo da Catalunha] anunciou que não assistirá, mas o mero fato de haver considerado essa possibilidade – ou alguma outra forma de manifestar seu apoio – é uma demonstração do caminho que a ideia da independência percorreu em poucos anos. Efetivamente, as pesquisas indicam que, se hoje houvesse um referendo sobre a separação da Espanha, essa seria a opção de mais da metade dos votantes, enquanto somente um quinto deles seria contra.
Cada vez mais catalães tomam consciência do dano irreversível que a Espanha está cometendo contra sua economia e sua população, e muitos já não creem que se possa chegar a um acordo com o Estado. Assim, nesta ocasião, não sairão às ruas para reclamar um tratamento justo por parte do governo central, nem para protestar por sua última negativa ou falar da questão; na realidade, o governo espanhol não tem papel algum nesse ato. Em 11 de setembro de 2012, os catalães exigirão diretamente de seus líderes que iniciem o caminho à plena soberania.
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Que um lindo sol vermelho brilhe hoje no céu de Barcelona.
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