terça-feira, 28 de setembro de 2010

Que Flávio Dino e o povo maranhense vençam a eleição e o coronelismo


Em política, não vale aquela premissa do "não se meta onde não foi chamado". O bom político ou política não precisa ser parlamentar ou dirigente partidário. Pode ser militante de uma causa social, da sua categoria profissional, de um espaço geográfico em que atua. Importante, pra ser bom na política, é justamente a capacidade de se envolver com causas que não parecem diretamente suas, mas são, porque a humanidade é uma só. Como disse Che Guevara, o verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor.

É com esse espírito que quero registrar aqui meu apoio e minha solidariedade à candidatura de Flávio Dino, do PCdoB, no Maranhão.

O povo maranhense tem a oportunidade histórica de derrotar uma das mais conhecidas oligarquias coronelistas do país, que domina o estado desde a década de 60 e sobrevive até hoje. Que construiu seu poder e sua riqueza à custa da população de um dos estados mais pobres da federação, cujo IDH (índice de desenvolvimento humano) só fica à frente de Alagoas. O poder da família Sarney é tamanho que se estende para o Amapá, onde Sarney, o José, se elege senador da República. Os Sarneys controlam os principais veículos de comunicação locais, são donos de boa parte do estado, e muito amigos dos donos da outra parte. Ou seja: disputar contra os Sarneys é travar uma luta de Davi e Golias.

Dino é deputado federal, muito respeitado no Congresso, e tem trajetória política irrepreensível no seu estado. Juiz, sempre esteve do lado oposto ao da oligarquia. Sempre se dispôs a travar essa disputa difícil contra os donos do estado. Sempre foi um crítico ferrenho do coronelismo e da exploração. Sempre foi de esquerda, e portanto, sempre lutou para transformar o país e o Maranhão.

Roseana Sarney representa o atraso. Sua campanha se utiliza de todos os métodos para garantir votação. Um estado pobre, uma representante da principal oligarquia, uma conhecida história de desrespeito ao patrimônio público e à democracia. Equação montada.

Se Lula hoje apoia Roseana - nem quero entrar nesse debate -, a verdade é que é Flávio Dino que tem compromisso com as bases fundamentais do projeto que levou Lula à eleição em 2002 e 2006, e que fizeram de seu governo o mais bem avaliado da história, atingindo o incrível patamar de 80% de aprovação. Já Roseana Sarney é a sobrevivência de um tipo de política que deve ser eliminada de nosso país - tanto quanto o DEM, de onde ela saiu. Se temos avanços democráticos importantes hoje, o que a família Sarney representa para o Maranhão (e para o Amapá, e para o Brasil) está em total descompasso com o novo Brasil que Lula se orgulha de estar construindo.

Na disputa pelo governo do estado, a campanha de Flávio Dino é algumas centenas de vezes mais modesta que a de Roseana. Tem muito menos tempo de TV e acesso a financiamento privado - contra o que ele tem lutado no Congresso, na defesa de uma reforma política profunda e democrática, que rompa com a estrutura privatista do sistema político e eleitoral brasileiro hoje.

Dino foi candidato a prefeito de São Luís há dois anos, foi ao segundo turno e teve um desempenho surpreendente. Na ocasião, o PT o apoiou. Em 2010, o PT do Maranhão votou para marchar com Dino. O Diretório Nacional do partido impôs uma outra aliança, mas não pôde impor a candidata: mais da metade dos petistas maranhenses está efetivamente na campanha de Dino, na esperança, de novo, de vencer o medo e superar o lastimável atraso político, econômico e social que o estado ainda vive.

Se pudesse, eu pediria pessoalmente o voto de cada maranhense para Flávio Dino, 65. Não apenas porque ele está com Lula desde 1989, não apenas porque ele é de esquerda, sério, não apenas porque ele é uma referência importante do enfrentamento aos Sarneys no estado - e paga o preço. Mas principalmente porque o povo do Maranhão merece virar essa página, merece um governo comprometido com a democracia, a distribuição de renda, com um olhar minimamente republicano sobre a coisa pública. O povo do Maranhão merece compartilhar das riquezas que seu estado tem e produz. Isso não é favor de ninguém.

Pesquisas apontam que deve haver segundo turno e que Dino disputará com Roseana. A campanha da governadora tem mostrado preocupação com essa possibilidade: mesmo havendo uma profunda desigualdade entre as duas campanhas, o povo do Maranhão sinaliza que quer reescrever sua história e ficar livre da tutela de quem quer que seja, ainda mais de uma família que tantos percalços já trouxe ao Maranhão e ao Brasil. Essa é uma causa justa o suficiente para ter a simpatia e o engajamento de toda a esquerda.

Dia 3 de outubro eu estarei em Porto Alegre, onde voto e, orgulhosamente, espero contribuir para mais uma vitória popular no Rio Grande do Sul, votando em Tarso Genro. Mas boa parte dos meus pensamentos estarão no Maranhão. Porque será bonito demais ver um povo tomando as rédeas de sua própria história.

Um comentário:

EmMesmo disse...

Excelente depoimento, Alê! Saudades. Bjs, Leo Bulhões.