quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Apesar de você

O editorial da Folha de hoje (1º de setembro) é uma aula de autoritarismo e prepotência. A turma da ditabranda publicou em sua página 2, sob o título de "Lula e a imprensa", texto que repudia e "analisa" de forma preconceituosa, elitista e arrogante as críticas feitas pelo presidente à grande mídia nacional (em geral, ele costuma destacar o tratamento desigual dispensado aos dois principais candidatos à presidência da República e a má vontade com seu governo).

Ao longo de todo o texto, o que a Folha quer dizer é que Lula critica a imprensa porque não aceita críticas. Ora, fica claro para qualquer leitor menos desatento que, ao agir dessa forma, é a Folha que não aceita ser contestada.

Vejamos. Ao longo das malfadadas linhas a que me refiro, a Folha autointitula-se "imprensa crítica", "jornalismo livre" e, explicitamente, coloca-se como 4º poder - lado a lado com executivo, legislativo e judiciário, mesmo não tendo sido eleita por ninguém para exercer essa tutela dos nossos direitos e do nosso "livre" pensamento.

Ora, a Folha é livre sim, mas num país de amordaçados. Muito mais livre do que deveria. Sim, liberdade tem limite. Quem nunca ouviu a velha história de "a liberdade de um termina onde começa a do outro"? De maneira que se a Folha é absolutamente livre, a liberdade de muita gente está invadida e cassada por ela.

E mesmo essa liberdade excessiva não implica que seu jornalismo seja livre. Muito pelo contrário. Ele é absolutamente preso às suas opções políticas e à sua visão elitista e conservadora do mundo. Ele é preso porque desde a montagem da pauta, passando pela abordagem da matéria, relação de entrevistados e escolha de fotografias para ilustração, tudo isso são escolhas políticas. Ingenuidade acreditar que não.

A Folha não foi eleita para representar a sociedade civil em espaço algum. Não tem concessão de "vigilância" dos poder. Faz isso como a empresa que é, que quer vender seus jornais, conquistar mais e mais patrocinadores e disputar consciências para construir sua opinião - ou fortalecer a opinião do conjunto que a inlcui. Faz isso movimentada pelos seus próprios interesses e o dos "seus". Eu sei bem quem são os "seus". Fica claro a cada página, a cada dia.

Em dado momento, o jornal retoma o preconceito odiável contra Lula e sua escolaridade, referindo-se irônica e cinicamente à falta de "habilitação conceitual" do presidente para entender a imprensa. Mas, ao que tudo indica, tem faltado habilitação conceitual e moral à Folha para compreender que Lula é muito melhor comunicador que ela.

Portanto, se eu pudesse falar com a Folha, eu diria: menos. Não me parece que as críticas de Lula à imprensa tenham qualquer origem em medo de nenhuma espécie. Mas sim, me parece que a Folha - embora tenha sido bastante poupada pela ausência total de políticas que visem à democratizar as comunicações neste governo - pode percorrer o mesmo caminho que levou ao triste fim da revista Veja: a opção consciente por abrir mão de assinantes para poder se tornar um panfleto reacionário.

A arrogância elitista da Folha, num editorial como esse, meramente demonstra seu incômodo por tentar, em vão, mudar o curso da história no país. Imagina só como ela vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença.


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É um grande desafio propor a democratização das comunicações como uma questão central para o próximo período. Esse monopólio precisa acabar. Direito à comunicação significa que não precisamos só ouvir, podemos falar. Sem mais amor reprimido, grito contido, samba no escuro.

2 comentários:

Marcio Rosa disse...

Por isso que não leio esse jornalzinho. Sei das suas obrigações profissionais, mas eu leio o Estadão. Pelo menos são abertamentereacionários, não pagam de democratas, modernos.

Shirlei Romano disse...

Acho importante ler, ou passar os olhos,para saber que tipo de informações estão sendo disponiblizadas para as pessoas, filtrar e absorver só o necessário...Mas é fato que ás vezes filtro tanto que só retenho a previsão do tempo e olhe lá...