terça-feira, 15 de setembro de 2009

Machismo tradicional

Do jornal Zero Hora de 15 de setembro de 2009, seção “Informe Especial”, pelo interino Alexandre Elmi:

Prenda do Parque
Não é o caso de o Acampamento Farroupilha da Capital, cada vez maior e mais democrático, ganhar também uma rainha, como as festas do Interior?
Seria uma forma de valorizar ainda mais a charmosa e crescente participação feminina no evento.


Pra quem não sabe, o Acampamento Farroupilha se instala no Parque da Harmonia todos os anos, nas proximidades do 20 de setembro – data em que se comemora a Revolução Farroupilha. Lá, festeja-se a memória do fato histórico e as tradições gaúchas – uma característica importante do povo do Rio Grande do Sul é prezar pela sua própria história e pelas suas tradições.

Muy bien. Ano 2009. Vem um colunista dizer que a participação das mulheres deve ser coroada com a premiação de uma “prenda”, uma “rainha”, ao fim e ao cabo, uma miss. Vamos valorizar o evento, vamos reafirmar que o papel das mulheres é o de adorno, enfeite, que sua característica fundamental é serem belas e estarem, portanto, à disposição dos homens que as contemplam, que as desejam, que as tomam. Vamos inventar uma tradição nova. Vamos eleger uma rainha pra mostrar qual deve ser a participação das mulheres, vamos classificar assim a presença delas. Vamos fazer com que a "crescente participação feminina" restrinja-se a ser "charmosa".

Vira e mexe tem alguém pra justificar discriminação e desigualdade a partir de “tradições”. Mas nesse caso, é pior. Ele propõe uma nova iniciativa como futura tradição, que ressalta o machismo existente na cultura gaúcha, brasileira, mundial.

O machismo é uma tradição a ser combatida. Não é possível que as pessoas não enxerguem que pode – e deve – ser diferente.

PS: Antes que me venham com essa, não, “não é só uma brincadeira sem maldade”. Tudo expressa uma cultura. Toda cultura está a serviço de uma estrutura. Quem não sabe disso ou tá fingindo ou é um pobre alienado.

4 comentários:

Unknown disse...

Bravo, Alê!

Francisco disse...

Pescarei este texto, se me permites, para o napráxis!
Bjo

Sofia Cavedon disse...

Querida, por aqui nos pampas terás muitos desafios interessantes, na luta feminista, já descobriste um deles... tua força rebelde será fundamental. Bjssssofia

Paulinha Grassi disse...

Parabés Alê...
Nunca fui fã dessa identidade regional por vários aspectos, e esse que cita é um deles.
Não entendo qual o sentimento de orgulho que devo ter, fortacelido pelos meios de comunicação locais...Me orgulhar do que? De um gaúcho que anceia por liberdade e durante a Revolução Farroupilha assassina os negros? De um mito tolo que nessa mesmo sentimento de liberdade, a mulher é submetida aos desejos do homem?


É importante desmitificar essa figura do gaúcho bravo, heróico com sentimentos de liberdade...E isso passa pelo papel da mulher...