sábado, 28 de fevereiro de 2015

Professoras e professores em luta no Distrito Federal

Fotos do Sinpro-DF

No mesmo dia em que dez mil professores e professoras decidiram, em assembleia, indicar greve para 9 de abril - data em que deve ser percebido o pagamento do reajuste à categoria, de acordo com a lei 5.105/2013 -; o Ministério Público se prestou ao lastimável papel de acionar a Justiça para impedir que tal reajuste seja pago. A tese é de que falta previsão orçamentária para honrar os compromissos assumidos pelo GDF.

Por sua vez, o Correio Braziliense apresenta essas informações de forma tendenciosa e sem o devido rigor na apuração. O texto nitidamente coaduna com a ação do MP, e atribui a concessão dos reajustes e a aprovação do plano de carreira à necessidade de parlamentares e do então governador de "capitalizar" a decisão. Nenhuma abordagem poderia ser mais rasa.



Ora, não é necessária memória de muitos gigabytes para recuperar a histórica greve dos professores e professoras em 2012. Cruzaram os braços por 52 dias, acamparam na Praça do Buriti e o enfrentamento com o GDF chegou a momentos de tensionamento extremo, como quando da ocupação de salas do sexto andar do Palácio e da interrupção das negociações por parte do governo.

Sendo assim, também não precisa de muitas habilidades de análise política para relacionar as coisas e saber que a conquista do plano de carreira foi vitória de uma árdua mobilização dos professores e professoras do Distrito Federal, não um presente concedido ou uma iniciativa eleitoreira.

Não que eu ache que o Ministério Público tenha chegado sozinho a essa "ideia". Mas, convenhamos: na ocasião, um amplo debate público foi realizado, seja via imprensa, seja via o diálogo direto da categoria com a comunidade escolar e a população em geral, seja via iniciativas institucionais, como audiências públicas. A greve contou, inclusive, com a solidariedade do então senador Rodrigo Rollemberg, registrada em discursos que podem ser conferidos em seu site(1). Onde estava o Ministério Público em todas aquelas ocasiões? Por que somente dois anos depois da aprovação da lei 5.105 ele apresenta esse questionamento?

Surpreendente não é. A mesma Justiça que não titubeou ao declarar ilegal a mobilização dos professores e professoras, permitindo corte de ponto e impondo severa multa ao sindicato; é a mesma que mantém sem encaminhamento a ação do Sindicato dos Professores no TJDFT em relação ao pagamento dos atrasados. Ou seja: deixar os professores sem salário não é ilegal; mas mobilizar-se para garantir esse direito, sim.

A mim, tranquiliza notar, nessa história toda, que o Sinpro-DF nunca fugiu do embate com qualquer governo. Não vai ser a Justiça que vai intimidar essa aguerrida categoria dos professores e professoras.



(1) "Isso não pode fazer parte de uma negociação, isso é uma obrigação de o Governo pagar essas questões". - extraído do discurso de R. Rollemberg proferido no Senado em 19 de abril de 2012.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A divina comédia humana

Minhas amigas partiram há dez dias. O Antônio chegou há 35. O Francisco chegou hoje. Daqui a 27 semanas, chegará um gurizinho ou uma guriazinha da barriga da Manu, que há tanto tempo está vocacionada para recebê-lo(a). A falta não é peenchida nunca. Mas o coração segue abrindo novos espaços para florescer.

O coração gosta de florescer, e se abre em primavera para a vida sempre que pode. Procura o pólen, inventa dias de sol, e se precisar da chuva, o coração sabe chover. A gente inventa os motivos. A gente sabe fazer.

E se não houver música para ouvir, a gente canta. E se cantar for difícil, a gente escolhe uma música mais fácil. Quando chove, a gente chove junto. Eu chamo Belchior para chover em mim. Quando não há plantação plantada, a gente planta agora, dane-se  atraso. Eu rego com vinho e lágrimas, eu peço as desculpas que for preciso, e o coração pulsa tanto que só pode ser sinal de um tempo bom.

Sentir a pulsação do coração é tão bom que a gente nem pensa para onde esse maluco está indo. Ele se joga porque ele renasce, ele não consegue morrer, e cada vez que você assina a certidão de óbito, ele se faz de morto para reviver na primeira esquina em que você passar desavisada. E pulsa, então, na direção que quiser, sem que você tenha conseguido controlar ou antever. Agora, não reclama da falta de convencionalidade.

E se você pensar que não pertence mais a aqui, aqui ressuscita em outra carne, e se levanta em caras e tempos de outras pessoas e motivações. Levanta a bandeira, que essa é sua sina, ela nunca vai te largar. Não adianta desdizer nem maldizer a mãe que te inventou. Levanta a bandeira, e quando você a levanta, precisa da força da pulsação do coração que, satisfeito, te ajuda. Meu coração não é meu, ele corre para onde quer. Eu que sou dele.

Você pensa que morreu. Mas este ano, eu não morro.

A gente se apaixona no descuido. E o descuido é perigoso, mas a gente está aqui pra sobreviver a ele.

A falta nunca será preenchida. O vazio faz é aumentar. Mas aumenta, também, o espaço para caberem novos amores e personagens. A vida renasce, a vida floresce. E eu só consigo sentir gratidão. Por ter tido as minhas amigas na minha vida, por elas terem me transformado. Por ganhar novos amigos agora. Porque meu coração pulsa, porque eu sinto frio na barriga, porque eu sinto tanta inquietação que eu não consigo seguir o dia se eu não escrever.

E tudo que eu pensei que não havia, renasce. Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto. Eu sempre vou cantar.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O balé das borboletas

Despertei e fui para o quintal, onde alguns raios de sol pareciam tentar resistir às nuvens escuras que avançavam sobre o céu azul. Queria ir à cachoeira pedir a Oxum pelas minhas amigas, mas logo notei, olhando de longe, que a chuva não tardaria a vir, e provavelmente já até estivesse molhando meu altarzinho. Ainda com o coração inconsolado, desisti de assumir o trajeto e me pus a olhar ao longe o vento e o movimento das nuvens.

Foi quando, desde esse longe, vinham duas borboletas brancas naquele balé clássico das borboletas. Foram vindo e vindo, e então estavam já bem perto. Continuaram brincando como se fossem duas crianças no carnaval, bicando-se, afastando-se e voltando a unir-se. Rodopiaram ao meu redor duas vezes, como se tentassem me envolver no balé. Acho que foi o primeiro sorriso sem dor que derramei em trinta horas. Pensei que fossem minhas amigas dizendo pra eu ficar bem.






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Para Rosângela Rigo e Lurdinha Rodrigues, com todo meu amor e minhas saudades para sempre...


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Um poeminha

Naquele pedaço de esquina
Onde certa vez
Topei com o dedo
Numa pedra esquecida
Grande e rígida
Colhi uma flor
Cheia de graça e de cor
Era qualquer dia
Em que eu não pensava
Que ali antes havia
Uma dor

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

The songs of freedom

Bob foi voz e mente de uma bandeira que eu pretendo carregar para sempre através do samba e da luta política. Bob significou e deu significados à música que se faz nas regiões mais oprimidas do mundo. A música também é internacionalista, a arte é um instrumento de libertação.

Hoje ele completaria 70 anos, e eu o homenageio com uma das músicas mais bonitas que conheço, esta abaixo, dele mesmo. Bob Marley, eternamente presente. Não, eles não vão matar nossos profetas.

"Emancipate yourself from mental slavery,
None but ourselves can free our minds.
Have no fear for atomic energy,
'Cause none of them can stop the time.
How long shall they kill our prophets,
While we stand aside and look?
Some say it's just a part of it,
We've got to fulfill the book"

Won't you help to sing these songs of freedom?




quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O mundo está doente

"Este mundo está doente", me disse, como que desesperançoso, há uns dois meses, um guardador de carros.

Para ele, a doença do mundo está atestada pelo tanto de gente investindo contra a vida de outras gentes. Ele se referia, principalmente, à notícia daquela tarde, de um homem que entrou num hotel em Brasília, fez um trabalhador refém, e exigia, como resgate, algumas maluquices que ninguém entendeu.

E como não concordar com o guardador de carros? Vira e mexe, há uma molecada que entra armada em seus colégios, no país que há muito se comporta como a polícia do mundo, e dispara contra colegas, professores, funcionários. Será que aprendem isso ao assimilar informações bárbaras como aquela em que a polícia estadunidense matou uma mulher que trazia uma filha pequena em seu carro porque, supostamente, ela - desarmada - queria invadir o Congresso Nacional?

Há muita gente disparando contra outras gentes a esmo. E tem gente que alega motivo. Israel quer se defender dos "terroristas" palestinos, e para isso, mata impunemente milhares e milhares de inocentes, enquanto varre a Palestina do Mapa Mundi. Tem policial a torto e a direito matando gente nas favelas e até surfista famoso. Volta e meia, aquelas histórias de que uma briga babaca resultou em assassinato. Outras vezes, a notícia de que um Estado qualquer entendeu que ainda vivia no tempo do absolutismo e mandou matar uma pessoa - amparado ou não pela sua própria lei.

Por que as pessoas pensam que têm poder sobre a vida uma das outras???

O mundo está doente. É muita opressão, é muita pobreza, muita falsa generosidade, muita desigualdade.

Relatos de suicídios me comovem. Sempre me pergunto o que faz essas pessoas pensarem que não há solução para elas. O mundo está doente, e a desesperança, a angústia, o desespero contagiam.

E no dia-a-dia de todos nós, não faltam exemplos de intolerância, de falta de respeito, de desdém.

Não acredito que mais sorrisos e palavras como "obrigada", "por favor" e "desculpe" vão resolver a doença do mundo. Mas não tenho dúvidas de que a desumanização do outro é um fator importante para que alguns sejam convencidos por outros de que há vidas que valem mais e vidas que valem menos. Há vidas que podem ser perdidas. Há vezes em que alguns podem brincar de ser deus.

Hoje, não haverá Petrobras, Ucrânia ou Obama que me farão sentir mais dor que a notícia de um suicídio, sentido pelos olhos sensíveis de um amigo que tem a qualidade de enxergar as pessoas. O mundo está mesmo doente.