Mas se tem uma coisa que dá sentido a todos os meus lugares e todas as minhas paixões é o feminismo. Este post é para dividir com vocês uma alegria imensa que terei neste 8 de março.
Hoje, vou subir ao palco do 512 - rua João Alfredo, 512, Cidade Baixa, Porto Alegre - para marcar o Dia Internacional da Mulher, esse dia tão importante, tão repleto de significados, que traz em si o brilho de cada luta e conquista das mulheres, homenageando as mulheres do samba.
Como Beth Carvalho declarou recentemente, é claro que o samba é machista. Pois se o mundo é, como o samba haveria de não ser? Mas as coisas só mudam na luta das mulheres. Embora ainda haja muito o que mudar, se hoje a realidade é diferente de 50 anos atrás, isso se deve somente às mulheres que resistiram, que não aceitaram passivamente o papel da submissão, que ousaram desnaturalizar a opressão e reagir. Muitas morreram, muitas sofreram represálias de todos os tipos. E mesmo quem abre a boca estúpida para dizer "não sou feminista, sou feminina", deve muito a todas essas que lutaram sem medo. Neste 8 de março, essas aí deviam ajoelhar e reverenciar.
Eu farei isso. Com a sorte de ter ao meu lado pessoas que acreditam na mesma coisa, poderei saudar as mulheres do mundo, as guerreiras de todos os lugares, por meio das mulheres do samba. Que enfrentaram mundos e fundos para fazer valer sua vontade e pôr sua voz no mundo. Que superaram obstáculos ferozes para triunfar. Que experimentaram a desigualdade em sua trajetória, e foram em frente com autenticidade, sem se render a padrões perversos que só aprofundam as injustiças. Que entenderam que sua voz e sua música podem sim contribuir pra mudar o mundo, e a vida de tantas outras que vieram depois, e não precisaram esconder seu nome feminino para assinar uma composição, como D. Ivone Lara teve de fazer.
Peço a benção a Clara Nunes, mineira guerreira, primeira mulher a estourar em venda de discos no Brasil. Mulher como tantas mulheres do nosso país, de origem pobre, trabalhadora desde criança, matando um leão por dia. Destemida, correu atrás de um sonho, passando por cima de caras feias, esteriótipos e preconceitos. Resgatou a diversidade da cultura brasileira, chamou a África para a nossa música, cantou a vida das pessoas. Para quem acha que o povo só se identifica com "ai se eu te pego" e afins, Clara é uma prova viva de que o povo não é bobo coisa nenhuma. Mesmo que a mídia tente forçá-lo a ser, engolindo enlatados descartáveis e enriquecendo mentes vazias todos os anos, a cada verão.
Quem puder ir ao 512 hoje, vai encontrar uma banda que se encontrou exatamente na batalha diária por encontrar seu lugar, e não fugiu do desafio de fazer diferente. Vai encontrar uma cantora feliz da vida, cantando como que estivesse orando. A elas, a todas elas. E especialmente, ao que virá. Mulher tem mais é que carregar bandeira, porque - a história mostra - o mundo depende de que a gente se movimente. Salve o 8 de março! Saravá!
Alcione canta "Maria da Penha".
Clara, a mineira guerreira, grande inspiração.
3 comentários:
Lindo... e que a cada dia tenhamos mais mulheres cantando com consciência feminista e lutando para que muitas saiam do anonimato... Um feliz dia das mulheres pra todas nós que temos a bandeira em punho companheira...
Querida, ouvi dizer que Messi depois dos 5 gols mandou um beijo pra paulistinha gauchinha que é são paulina e barcelonista e representa tão bem o espírito de mudança que as mulheres devem representar pra este nosso mundo caduco! Parabéns pelo texto, lindo como sempre. Bom show, estou com inveja de quem está em POA hoje!
Linda e inspiradora. Viva as mulheres, a luta, o samba, a África.
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