segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março de 2010

Um grande amigo me aborda hoje – “Devo dar parabéns pelo Dia Internacional da Mulher?”. Respondo que sim, já que ele conhece o significado. É parabenizar pela luta das mulheres contra a opressão, pelas vitórias conquistadas, por não se abaterem diante dos enormes desafios que ainda há... é difícil combater uma coisa que tanta gente acha que nem existe. É um absurdo, mas é verdade. E mesmo alguns que até aceitam a existência da desigualdade, desqualificam a luta quando lhes interessa. Interesses de natureza variada.

Este ano, são 100 anos do Dia Internacional da Mulher. A data veio da luta de mulheres trabalhadoras, e foi definida em uma conferência de mulheres socialistas. Não é pra vender perfume ou roupa íntima. Não é pra dar flores e ser gentil por um dia. É para, pelo menos, provocar reflexão. E se esse maldito capitalismo não conseguiu fazer do Dia Internacional da Mulher, até hoje, mais uma de suas datas comerciais, isso se deve à luta das feministas, que continuam indo para as ruas, que continuam dando a cara a tapa, pautando, propondo, lutando. Ainda há muito o que fazer.

Para mim, o Dia Internacional da Mulher, em 2010, teve um gosto especial. Pela data em si; por ser seu aniversário de cem anos; pelo fato de minhas companheiras da Marcha Mundial das Mulheres estarem realizando uma iniciativa ousada – literalmente, uma marcha entre Campinas e São Paulo, parte de uma ação internacional -; porque a SOF (Sempreviva Organização Feminista), junto com a editora Expressão Popular, vai lançar um livro que recupera a origem e o sentido do 8 de março, com cuja produção eu tive o prazer e a honra de colaborar. Por tudo isso... e mais uma coisa.

Acordei cedo e me dirigi à Delegacia Regional do Trabalho hoje. Parece planejado, mas juro que não foi. Fui buscar meu registro profissional de jornalista – o MTB. Quem me acompanha com mais atenção sabe minha opinião sobre diploma em jornalismo. Quem senta numa mesa de bar comigo sabe o que aconteceu nos últimos meses de 2009 sobre esse assunto, concretamente. O reconhecimento legal da profissão que eu exerço há quase dez anos veio hoje, aos cem anos do Dia Internacional da Mulher. E veio carregado de muitas lutas – pelo menos abstratamente, para mim. A luta que primeiro deu significado à minha militância política, a defesa da democratização da comunicação. Ela puxou outra coisa, exatamente o meu repúdio ao corporativismo e à reserva de mercado. E a luta feminista, sem a qual eu não sei quem sou, simbolizada neste 8 de março de 2010.

O exercício do jornalismo, para mim, sempre esteve comprometido com essas duas lutas. Mais do que isso: o jornalismo se colocou para mim a partir dessas duas lutas. É meu instrumento. Deveria ser instrumento de luta mais do que é da transmissão do mais do mesmo que observamos no tal evento dos donos da mídia, semana passada. Eles são os donos da mídia, eles comandam a imprensa, os veículos de comunicação, o entretenimento, o jornalismo, os que para eles trabalham. Eles falam em liberdade de imprensa e em combate à censura apenas para defender seu direito individual de falar o que quiser sem ter consequências – mas perguntem onde eles estavam durante os “anos de chumbo”. Eles têm a pachorra de se dizerem porta-vozes do povo, mas eles são 9 famílias, e nós somos milhões e milhões. Eles acham que têm um poder divino, e só eles têm, ninguém mais pode ter: o de comunicar.

Quisera eu que os ideais de verdade e de justiça que movem muitos e muitas que decidem ser jornalistas sobrevivessem aos ímpetos da competição de mercado e da compra de dignidade que muitos veículos promovem. Conheço, felizmente, uma porção – com ou sem diploma em jornalismo – que seguem movidos por aqueles ideais. Que esses ideais se pintem de lilás. Que continuemos nos indignando. Que não nos cansemos de brigar com quem usa argumentos de mercado para justificar a opressão das mulheres. A imprensa precisa de mais feministas.

Hoje, além da felicidade de cem anos de história, eu sinto a felicidade de quem renova um compromisso. Meu MTB sempre será esse instrumento. A luta das mulheres pode contar com ele.

Um comentário:

Fernando Amaral disse...

Lilasmente oportuno, o texto.