quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Esse é tempo de partido...

... tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra."

(Drummond)


Esse endeusamento de figuras que tomam inciativas motivadas por mais coisas do que apenas suas "convicções e sonhos". Esse esquecimento dos milhares que têm suas convicções e sonhos, que os vêem abatidos uma porção de vezes, mas não têm um mandato no Senado e nem os holofotes da mídia pra poder desabafar. Esses que seguem em frente, com lágrimas, com sangue, com suor, que se envergonham, que sentem dor, que pensam em desistir, mas seguem. Porque esses, esses não podem se dar o luxo de perder um tempo valioso. Não podem se dar o luxo de bancar o/a messias. Não podem se dar o luxo de errar, porque têm uma história inteira - não uma parte - pra escrever.

Essa coisa toda com a Marina Silva, o que mais me incomoda é que, se ela não encontra condições políticas pra defender suas bandeiras no PT, ela vai encontrar no PV????? O hipócrita e oportunista PV? Isso sem entrar no debate político-programático, que vai ainda mais longe na mediocridade.

A justiça que a causa ambiental, mais, que a causa eco-socialista contém é inegável. Também é inegável que o capitalismo, por mais que busque incorporar parte do discurso (para esvaziá-lo, em alguma medida, e pra se atualizar sem deixar de ser ele mesmo, por outro lado) jamais vai responder à questão. Jamais - não tem como. Também, é certo que os socialistas e suas organizações, muitas vezes, não dão a esse e a outros debates a centralidade necessária para, inclusive, enfrentar o sistema. Enfrentar de forma ampliada, estratégica, enfrentar na sua plenitude.

Admiro quem não abre mão das suas convicções políticas, quem não as relativiza seja pra buscar atalhos (que não costumam existir), seja para perseguir ideais individuais. Convicções são para ser disputadas, porque, mesmo entre os nossos, nem sempre enxergaremos as coisas da mesma maneira.

Mas a Marina não vai dar mais centralidade à causa ambiental, no sentido que essa luta deve ter, filiando-se ao PV para disputar a presidência. Já vimos esse filme. Outros e outras já cometeram esse equívoco. Pra mim, respostas individuais não servem pra nada.

Todo mundo sabe o que é o PV. Ou melhor, deveria prestar atenção pra saber. Em SP, o PV é base do PSDB desde sempre. E o governo do PSDB é um grande amigo da natureza no estado?

O PV faz pose de fashion. "Nem à esquerda, nem à direita, à frente". O PV do Gabeira, que praticamente defende o turismo sexual. O PV sem programa, mas com interesses.

Não estou entre aqueles que estão solidários à senadora. Sou solidária, isso sim, a boa parte de suas idéias (e nem todas porque, no caso do feminismo, por exemplo, ela não está exatamente do mesmo lado que eu). Estaria solidária se observasse, na movimentação dela, uma forma de lutar mais e melhor por aquilo em que ela acredita. Mas, pelo que eu disse acima, não é isso que vejo...

Não têm sido dias felizes. Eu não tô feliz, nem satisfeita, nem aprovando várias coisas. Mas não sou senadora e ninguém da imprensa quer saber minha opinião. Não tomo atitudes só pra limpar minha consciência. Como eu, há muitos e muitas. Mais do que se pode imaginar, inclusive. Neste tempo de partido, de homens e mulheres partidos... não dá pra ter resposta individual. Tem que ter mais responsabilidade com a luta de séculos, com processos de décadas, com companheiros de anos. A dimensão histórica de tudo é importante. Do governo, do partido, e das nossas ações.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Fase

Sem escrever
Estou em fase
de adaptação
transição
elocubração
Estou em fase
crescente

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Morre lentamente...

(Pablo Neruda)

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoínho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante…

Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade.

***
Meus votos de boa sorte e muitas felicidades a todo mundo que se atreve a mudar alguma coisa na própria vida, contando mais com as alegrias do que será do que com as tristezas que trazem a vontade de fazer diferente...