quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Lançamento do meu livro em São Paulo



Espero vocês pro lançamento do meu livro de poesias, Retratos - E algumas mentirinhas a mais, em São Paulo, próximo dia 9. Mais uma conquista que se realiza (ou se expressa) no Dia Internacional da Mulher. No caso, um dia depois, mas está na margem de erro... rs...

Este blog foi um motor dessa publicação. Será muito especial ter nessa celebração as pessoas que me acompanham por aqui. Até lá!



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Adargas


Te aprisionei
Te joguei,
Desavisado e sem armas,
Em Adargas.

Sem remorso
Nem esforço,
Deixei-lhe sem corpo e sem alma,
Em Adargas.

Você gritou, se debateu,
Amaldiçoou a mim e aos meus.

Jurou-me vingança,
Mas lhe amordacei
E calou-se assim.

Roubei-lhe a lembrança,
Dos tempos de rei
Coroado por mim.

Chorou como criança,
Eu nem me importei,
Ainda não era o fim.

Com elegância,
Abandonei-lhe
À própria sorte
Sozinho no mundo,
No meio de tudo,
Com medo da morte.

Fique, amor, em Adargas
Lá as frutas são todas amargas,
O frio corta cada poro
E nunca faz sol.

Fique lá em Adargas
Lá, te abrirão novas chagas,
Nunca acaba o agora
E não existe futebol.

Fique quietinho em Adargas
Convivendo com todas as pragas
Que, no adiantar da hora,
Te lancei num anzol.

Amor, seja feliz em Adargas
Lá nem precisa de dinheiro,
Lá você faz o seu lar
Lá sou amiga do barqueiro
E você não consegue voltar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Oferenda para Iemanjá



Todo o mar
É o vestido azul de minha mãe.
Que, às vezes, se esverdeia,
Ou em marrom se bronzeia.
Mas sempre se estende pro mundo
Emprestando-lhe a eternidade
De dentro do mar profundo,
Do fundo de toda verdade.

No vestido, as ondas são rendas
E, em movimento de dança,
Derramam histórias e lendas,
Desaguam, na areia, esperança.

À noite, o azul escuro
Se casa com o preto do céu,
Que está no cabelo e na pele,
E as nuvens lhe formam um véu.
Estrelas são brincos brilhantes
Que adornam seu rosto tranquilo
A lua ilumina adiante
O caminho entre ela e seus filhos.

É minha mãe, que se anoitece
Para se mostrar plenamente,
Depois, em seu canto, amanhece
Numa face diferente.

Eu me deixo envolver pelas águas
Como quem se entrega a um abraço
Deitando-me assim em seus braços
Sinto livrar-me das mágoas
Num sussurro suave de brisa
Ela me diz: tenha calma...
O corpo só se energiza,
O tempo é quem lava a alma.

E se o mar se expressa em fúria
Não é que ele seja inconstante
É que a sua beleza e volúpia
Não são para qualquer navegante.

Todo fevereiro
É para cantar para minha mãe
Estampar-lhe o vestido com flores,
Rezar por um belo amanhã.
As lágrimas da sua gente
São o que salga o mar
E então, ela chega imponente
Para ouvir sua gente cantar.

Odoyá!
Salve 2 de fevereiro,
Salve a rainha do mar.
Peço a bênção, Iemanjá.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

...


A ressaca do mar
A correnteza de um rio
A queda brusca de uma trilha
O ensolarar de um dia nublado
O furacão, um vendaval
A noite tardia do verão
A aurora tardia do inverno
A neblina.

Um poço onde se cai por querer,
Mas sem conhecer a profundidade.

Você.


***
Logo mais, depois do Carnaval, meu primeiro livro de poesias será lançado pela Editora Giostri em Porto Alegre, e depois, São Paulo...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Casou-se


Casou-se obrigada.
Vestiu-se de branco,
Queria usar prata
Roubada cor
De um brilho que não tinha
Nos olhos,
Amarga pista dedurada por alguém
Longe da vista.

E vieram o padre, padrinhos, capatazes
E um sim de estar-se acostumada.

Gemeu muda
Gritou nos olhos

Casou-se.

A banda tocou a música que preenche um espaço qualquer
Não o seu.
O bolo adoçou a vida de alguém já doce
Não eu.

Casou-se.

E quem dançou
Dia seguinte esqueceu.

E quem dormiu
Nem um minuto perdeu.

Casou-se como quem se aprisiona
Ao medo do tempo,
Do nunca mais.

Casou-se temendo que fosse
Tarde demais.

Casou-se.

E nos seus olhos molhados
Vidrados
Calados
Sempre se via
A sombra do que não viveu.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Entre a fantasia e a realidade


Os olhos inundados de sonhos
As mãos lavadas de vida real
Vem ele pela rua de asfalto
Como se andasse de pé na grama

Os pés não estão no chão
Não há música ao redor
Ele não sabe dançar
Mas dança.

A brisa não chega ao rosto
O tempo não cede à pressão
Ele não sabe gostar
Mas gosta.

Os olhos têm a profundidade do sempre e do nunca mais
Do desejo irrequieto
Das vontades passageiras contrariadas
Da dança
E do gosto.

Da janela do ônibus, seu olhar se atira
Se lança para a imensidão
Como quem vê muito além da paisagem mais próxima
Certeiro, com rumo
Vagando sem medo

Nas páginas de seus livros
Há a terra do chão,
As pedras do caminho,
A areia que sobra
De tudo que é real.

Mas o olhar guarda o que o real não alcança
Extrapola
Não se perde porque se encontra
Num mergulho.

O trabalho
O outro trabalho
O trajeto
O médico aonde levar o avô.

De tudo se faz espelho
O negro límpido dos olhos
Que se jogam pro mundo
Cantarolantes e serenos.

Monossílabos,
Vocativos,
Interjeições.

O olhar se mantém
De folha em branco
De pé na estrada.
A profundidade atraente do mar à noite.

Eu observo
Como puxada pelo mar
E dispara o alarme
Que há muito calara

Porque é lindamente esquisito
Que alguém transpareça tão vividamente
O sonho e a realidade
E seja, ele mesmo,
A síntese do que não se vê.

Não sei bem se eu o conheci
Ou o inventei
Mas, de uma forma ou de outra,
Ele existe
E isso é muito confortante.