sábado, 7 de maio de 2016

Imagens mentais

Gosto de lembrar da época em que não existia telefone celular nem internet. As pessoas tinham que cumprir o combinado, porque não poderiam te localizar facilmente para desmarcar. Se você ligava e a pessoa não estava, deixava recado. E não precisava ficar conferindo de tempo em tempo para saber se o recado foi visualizado, não existia essa perspectiva. Se alguém te ligasse e você não quisesse atender, poderia falar pra Maricotinha que eu mandei dizer que não tô. Naquela época, você podia não estar, se não quisesse!

Quanto mais tecnologia, mais pressa. Uma pressa desprovida de sentido, pela inércia da pressa, a pressa de se apressar, de ter resposta, de responder, de entender, de sair correndo e chegar sabe-se lá onde. A pressa dá origem a mais pressa, e quanto mais pressa você tem, mais rápido você chega e de mais velocidade precisa pra continuar. Eta vida besta, meu deus.

Quando não havia a internet, a gente tinha mais tempo para descobrir as coisas.

Para registrar momentos, havia câmeras fotográficas. Os filmes eram de 12, 24 ou 36 poses. Eu sempre me arrependia de não ter comprado o de 36. Ninguém tinha estoque de filme em casa, então, a gente fotografava os momentos especiais. Comprava filme para algumas ocasiões, não para se fotografar diante do espelho. Bom, é bem verdade que também se registravam momentos pouco especiais, porque precisava terminar o filme para poder revelar. Aí lá vinham um monte de fotos triviais, do dia-a-dia mesmo. Quando revelava, passava um tempo e você percebia que os momentos pouco especiais eram muito legais também. E escolhia um álbum bonito pra eles.

A gente fazia mais imagens mentais. Eu guardo na lembrança até hoje algumas cenas que não fotografei. Elas são mais vivas do que muitas que ganharam o papel, até porque eu não preciso procurar por elas quando as quero ver. Hoje em dia, fotografa-se tanto e tão frequentemente que não é possível que essas imagens sejam visitadas depois. Tenho medo que as crianças de hoje em dia não saibam mais produzir imagens mentais.

Quando eu fico cansada, sentindo o peso de tudo, com o coração palpitando todo errado, eu tenho vontade de me esconder nos anos 80 por uns tempos. Não preciso ir morar lá não, eu só queria passar uma semaninha ou duas.

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