segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Léo e Verônica - parte 8 de 10

As sete partes anteriores estão disponíveis neste blog.




Léo mostrava-se inconsolável, mas tantas dúvidas e pouca atitude eram claras demonstrações da sua fragilidade, que já se exibia desde a época da faculdade. Características assim não eram recomendáveis para quem procurasse sustentar qualquer coisa de verdadeira com Verônica. Aquela mulher que, quando jovem, namorava vulcanicamente entre amorosos beijos públicos e fatais desentendimentos com desfecho sempre em aberto. Que não tinha medo de atropelar corações indefesos, quiçá de expor seus sentimentos a teste. Aquela cuja beleza brilhava de dentro para fora, na coragem de estabelecer pontes improváveis como aquela que a levou da elaboração de técnicas para a venda de produtos até a história da humanidade registrada através do olhar de artistas pulsantes de sensibilidade, habilidade e criatividade.

Ele sabia que seus erros, naquele momento, poderiam ser uma via de mão única e sem retorno. Mas não conseguia equilibrar suas ações na cabeça. A ética, esse conceito que cada um define como quer. O amor, que não é muito definível para ninguém. A culpa, um modo de se relacionar com a vida. A comodidade para desviar de grandes sofrimentos, desentendimentos, expectativas frustradas. O cálculo dos passos leva a lugares exatos, não é preciso jogar os olhos para além de onde se pode alcançar, evitem-se as frustrações. O tempo disso era a juventude, ficou para trás há algum tempo já.

Os dias continuaram passando iguais. Verônica via-se numa situação em que nunca estivera antes. Primeiro, teve medo do envolvimento com Léo, porque ele a amava de forma estabanada e infantil, pela qual ela não podia se responsabilizar. Depois, pensou que deveria ceder àquela paixão do rapaz, afinal, (que ironia) talvez fosse mesmo saudável viver sem grandes contradições ou perigos. Passou a experimentar as sensações de deixar-se levar por um caminho que não era de seu feitio cumprir, mas, justamente por isso, poderia levar a um lugar surpreendente. Quando finalmente esteve à vontade em meio àquela situação, foi Léo quem titubeou.

Para Léo, não se tratava disso. Ele evitava admitir para si mesmo e para qualquer um que sentia pena de Laís, entendendo que ela construíra sua vida ao redor dele e agora estava cercada por todos os lados. Não tinha para onde fugir e, acuada, não era forte o suficiente para reerguer sua vida sobre outras bases. E que bases poderia erguer se estava vulnerável por ter sido traída, trocada por uma mulher mais exuberante, por quem seu marido sempre fora apaixonado, desde a juventude?!

- Não queria lhe dizer isso, amiga, mas esse é o tipo de situação que acaba com cada um dos três para um lado – opinou uma amiga com quem Verônica se aconselhou.

Manteve a relação com Léo ciente dos riscos, mas confiante que era o melhor a fazer naquele momento. Não tinha mesmo nada a perder.

Certa noite, a caminho do cinema, Léo e Verônica avistaram ao longe Maria Elena, antiga colega de faculdade de ambos. Estava bastante diferente daquela época, mais magra, cabelos pintados, muito produzida. Antes, era desleixada e famosa pela tagarelice. Diziam que costumava portar-se como dona da verdade e pensava dominar todos os assuntos, desde beisebol até física quântica.

Léo e Verônica riram das lembranças que Maria Elena provocou, e ele resolveu fazer uma revelação:

- Ela me consolou de você.

- Como assim?

- Ficamos juntos durante um tempo depois da faculdade, mas ela era louca!

- Jura?

- Sim, maníaco-depressiva, histérica, possessiva.

- Ela ficaria assombrada ao nos ver juntos agora!

- Certamente! – ele riu – Cada vez que eu tocasse no seu nome... Ela armava um escândalo!

- Cruz credo! Gente insegura!

- Foi horrível... Mas eu estava tão carente que me subordinei àquilo tudo.

- Por tanto tempo assim?

- Entre idas e vindas... Um ano, mais ou menos...

- E você não tinha me contado, seu dissimulado!

- Tive medo de você não me querer mais ao saber que já me relacionei com essa maluca!

Verônica ficou surpresa ao ouvir aquilo, e assim, percebeu que aquele medo que ele já teve de perdê-la parecia não estar mais lá. Por um lado, uma alegre constatação. Por outro, a chave das respostas que buscava. Beijou gentilmente os lábios de Léo e entregou-se à leveza daquela noite, livre da sombra de Laís e de tudo o que ela trazia consigo.

Até que chegaram, como na cauda de um cometa desgovernado, pronto a chocar-se contra o planeta, no descuido de palavras ventiladas no anoitecer dos sentires.

***
Continua...

Nenhum comentário: