sexta-feira, 28 de junho de 2013

A gente complica... mas não devia

Tem aquela prosa poética conhecida, da Marina Colasanti: "a gente se acostuma, mas não devia". Acho um alerta válido. A gente se acostuma mesmo e se adapta, e deixa assim. Quando vê, já nem sabe olhar o mundo de outro jeito.

Não, hoje eu não vou falar de política, de habituar-se ao status quo. De encher-se de preconceitos políticos ao longo da vida, e tanto, a ponto de não mais saber que não foi você que os elaborou.

Não. Hoje eu quero falar de pessoas.

Tanta coisa é tão complicada, que a gente não consegue mais ver a simplicidade. Explico melhor: os seres humanos, conforme envelhecem, parece que adquirem e se apegam com firmeza ao triste hábito de tornar complicadas as coisas simples. Acostumam-se a ver as coisas simples tratadas com alto grau de complexidade.

Mas para contrariar um pouco o aparente pessimismo da grande Marina Colasanti, neste caso, a simplicidade tem o poder de encantar. Dá gosto à vida, arranca sorrisos. Quando tanto à sua volta é complicado, sendo simples, o que se mantém simples e doce é heróico, e soa como música, acariciando a alma.

As pessoas contaminam todas as esferas de suas vidas com a complicação que, às vezes, está num lugar só. Espalham pra fora, jogam pras outras pessoas. "Não devia". A ansiedade, os sofrimentos que se foram, os calos que a vida deixou... Sei lá. Não sei por que não olhar ao redor com liberdade.

Gente mal-resolvida com a própria história e os próprios sentimentos; gente que não sabe o que quer e age mesmo assim; gente que vai e volta no que disse, diria, pensou, quis dizer, nem sabe; gente que mistura todos os sentimentos e joga no mundo como se fosse uma bola de futebol americano...

E gente que olha nos olhos. Diz a verdade, sem maquiar muito, só o necessário, sem enganar ninguém. Gente que fala que vai fazer e faz. Gente que não faz o que não quer. Gente que se incomoda em reprimir vontades. Gente para quem a vida é mais simples do que parece.

Aí, você encontra uma dessas depois de lidar com uma dúzia do outro tipo. Parece que a vida se abre em flor, não parece? Ora, ora, nada precisa ser difícil assim.

É um encanto a simplicidade das pessoas.

Nenhum comentário: