quinta-feira, 14 de junho de 2012

Longe do Sol

*


Feche a porta
E as janelas
Nem deixa cotovia piar
Sem barulho
Sem notícias
Pra esconder nosso lugar

Em silêncio
Sorrateiros
Tentando ir além
Ser nada
Ser nenhum
Ser um pouco de ninguém

Desliga o som
Apaga a luz
O galo, não deixa cantar
Mexericos
Melodias
Um balde de blablablá

Fala baixo
Pisa leve
Aqui não há frio
Aqui não há medo

Nosso lugar é livre
Da luz que ofusca
Do som que ensurdece
Nosso lugar é livre
Para a gente poder existir

Não grita
Não canta
Não pule de felicidade
Não se agite
Não se mova
Não se ponha com o sol

Que quando ele cai
É o nosso lugar no mundo
À noite, no escuro
Na calada
Clandestina
Uma vida paralela
Uma vida para lê-la
Pra ter certeza
De que o que sonhamos
Aconteceu

Quietinhos
Intensos

Não, não se apresse
Não há preces
Não há culpa para punir
Nem crime para sentenciar
Não há erro
Nem há outro lugar
Não se afobe
Não me console
Não se mate

Vamos puxar o sol pra baixo
Pra fazer casa
Num brilho de estrela
A mais distante
Perdida no céu profundo

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* Para uma epifania linda que eu tive outro dia.

4 comentários:

Marina Carvalho disse...

Nossa Ale que bonito. Acho que é um dos mais lindos seus que eu li.

Rod disse...

Você é demais.

I. A. disse...

Alê, querida. Que preciosidade. Você escreve muitíssimo bem, quanta poesia nas suas palavras. Li os trechos de um texto que você postou no FB, e o último poema que você tinha postado. Este de hoje é sensacional. Parabéns, quero sempre te ler, não deixe de dividir tua arte com a gente. Um abração. I. A.

Fernando Amaral disse...

Pustaquelospa... epifania e tanto!