segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jabulani pra frente

Sexta-feira, o clima era de chateação geral na capital federal. Aposto que no Brasil inteiro foi assim. Frustração, desesperança, desconsolo, tristeza. Mas passa. Tristeza tem fim e felicidade também.

Eu não me mobilizo para torcer pelo Brasil, desde que me conheço por gente (a primeira Copa de que me lembro bem é a de 94). Não me mobilizo porque aquilo não me seduz, não me encanta, não me desperta sentimentos bons em relação ao esporte ou ao Brasil mesmo.

Não vou aqui criticar quem faz o contrário. Inclusive porque eu estaria me contradizendo. Pra mim, é simples assim: é um torneio internacional, muito bom de acompanhar, e eu escolho o time que eu quiser para torcer. O que eu gostar mais. Pra Holanda ganhar seu primeiro mundial. Pro Messi se consagrar de vez. Pro futebol bonito triunfar sobre a retranca. Sei lá. Não é automático que eu torça pelo Brasil simplesmente porque é o país em que eu nasci. E daí??? Faço muito mais coisas por ele do que torcer pela sua seleção de futebol. Mais do que muita gente que compra a camisa oficial, se esgoela de torcer e chora na eliminação. Mais do que os jogadores que compõem a seleção, apostaria.

Começa assim: vivo a contradição de ser uma feminista que gosta muito de um esporte praticado quase que exclusivamente por homens, discutido majoritariamente por homens, adorado por quase todos os homens. Obviamente, isso o torna, ainda, um esporte bem masculino, em que encontram eco as mais diversas manifestações de machismo que têm lugar na sociedade como um todo. Mas sabemos que há espaços em que se concentram mais.

A estúpida declaração de Felipe Melo sobre chutar bolas e mulheres, antes do início da Copa, foi apenas a pior delas nesse contexto de campeonato mundial. Mas nem precisa ir muito longe, basta olhar o tempo recente, para lembrar de causos como os que envolvem o "imperador" Adriano e suas famigeradas brigas com a mulher e seus percalços com a polícia carioca. Sem contar o suposto filho que Ronaldo não reconhece (no Japão?), a acusação a Robinho por tentativa de estupro (na Espanha?), declarações, declarações e mais declarações desastrosas, como a do Neymar - aquele mesmo, que não foi pra Copa -, que diz que não é negro. Recentemente, vimos chegar o cúmulo do absurdo de o goleiro campeão brasileiro ser suspeito de espancar uma mulher até a morte (com quem ele teve um caso extraconjugal e um filho clandestino).

Isso sem contar o que é parte do futebol em si. A presença avassaladora das empresas multinacionais nas equipes, os interesses privados, máfias que dominam campeonatos, as manipulações, os mercenários, as acusações de corrupção. São muitas e bem concretas, não são só especulação. Alguém não se lembra dos processos na Justiça, investigações da polícia, CPIs no Congresso Nacional?

Não vão me convencer a morrer de amores pela seleção e a organizar a minha vida em função disso de 4 em 4 anos. Não me dá vontade. Quem quer, que o faça, e - eu preferiria -, sem militar pela causa, sabendo que é só um campeonato de futebol. E sem vir tentar salvar a minha alma, me converter, essas coisas bem chatas. Eu também não estou pedindo pra ninguém deixar de torcer pra seleção brasileira. Afinal, isso implicaria em deixar de torcer para seus times também, em alguma medida - pra ser coerente.

Ninguém que venha me incomodar por não fazer a mesma opção. Não vou chorar a eliminação, não vou comprar briga que não é minha, não vou aderir a rivalidade tosca nenhuma. E vou torcer por quem eu quiser, sem compromisso prévio ou "natural". Minhas demonstrações de carinho pelo Brasil, prefiro executar de outra forma, por exemplo, lutando com dedicação pelo que acho melhor pro nosso povo e pra nossa soberania.

"Mas Ale, o povo fica feliz com a vitória". Tem muita coisa que é capaz de gerar felicidade coletiva, as pessoas não dependem apenas do futebol de 4 em 4 anos. Realmente, não me sinto culpada por não engrossar o côro dos contentes nesse âmbito. E, em hipótese alguma, vou choramingar ou concordar com quem choramingue que a ausência de "bad boys" levou o Brasil ao fiasco. Não sou lá muito a favor de dar chance boa a gente que já a tem de sobra, e só aproveita mal. Não me parece que o Brasil seja assim tão carente de bons jogadores a ponto de depender de quem dá demonstrações sucessivas de desvios de comportamento, de postura e até de caráter.

E, no mais, 2014 está aí. Para os superticiosos de plantão, os 190 milhões de técnicos de futebol, os das mesas redondas de boteco... assunto pra conversar, tem de sobra. Que volte o campeonato brasileiro. Que voltem os esportes todos à mídia. E que a seleção brasileira, cada um de seus jogadores, e que a Copa e todos os times brasileiros façam por merecer toda essa atenção e esse carinho das pessoas, daqui até 2014.

2 comentários:

joão paulo soares disse...

Pô, alê, demorei um tempo pra descobrir que "pitacos" era igual a "comentários". Na maior parte do tempo, concordo com tudo o que vc escreveu. Só discordo por um breve período a cada 4 anos. bj

Bruno Elias disse...

Ale,

Sigo o teu blog mas não tinha lido este teu texto ainda. Por uma coincidência feliz, também acabei escrevendo sobre minhas impressões sobre a Copa da África...talvez você não concorde muito rsrs mas veja lá...

http://brunoeliasjpt.blogspot.com/2010/07/que-venha-proxima-copa.html

bjo grande e que venha 2014!

Bruno Elias