terça-feira, 20 de julho de 2010

A lama e os inteligentes

- A mãe dela a abandonou em tenra idade. O pai dela, segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, é estuprador. Olha o histórico dessa moça? Ela era atriz pornô, trabalhava em produções pornográficas, era profissional do sexo. Não estou jogando lama em ninguém, só estou mostrando a pessoas inteligentes o argumento defensivo.

Essa fala, de acordo com o portal do jornal "O Globo", é de Ércio Quaresma, advogado de Bruno Fernandes, goleiro do Flamengo, e de mais cinco acusados por envolvimento no caso.

Não vou eu, aqui, analisar desde um ponto de vista jurídico o encaminhamento das investigações. Certo é que os indícios são inúmeros de que a garota foi morta de forma fria e cruel, e, aparentemente, porque o milionário pai de seu filho não queria garantir o que era direito dela e da criança.

Desqualificar a vítima - a mulher assassinada sem direito a defesa e por motivo fútil - por meio de afirmações levianas sobre a vida dela, que, verídicas ou não, nada têm a ver com a história de sua morte, aponta o caminho que a defesa de Bruno vai trilhar: a mesma truculência que matou Eliza. O mesmo machismo. Machismo que deveria remeter a comissão de ética advogados que se utilizam dele para confirmar suas teses.

Por "pessoas inteligentes", no discurso do ilustre jurista, entenda-se: aqueles homens que sabem que quando uma mulher é violentada a culpa é, evidentemente, dela mesma, não do agressor cretino e covarde.

Por "lama", entenda-se: informações difamatórias que podem ou não ser verdade, ninguém nunca vai saber e em nada mudará a história em caso de confirmação. Mas essa "lama", jogada sobre uma Eliza que não tem como contratar advogado para defendê-la, tem papel fundamental na desqualificação da vítima, do caso, no argumento de que sua vida não vale nada ou de que sua moral seria tão questionável que morte dela pode ser um grande engano! Isso, se não livrar a cara de seu cliente, atenuaria a gravidade do ato praticado por ele, expressa no tamanho da sua pena. Um nojo, não é?

No mais, sou da tese de que mulher que se prostitui não é criminosa. Criminoso é quem prostitui as mulheres. Mais um ponto contra os defendidos por Quaresma.

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