segunda-feira, 19 de abril de 2010

Remoto controle

Com votos sinceros de felicidade, amor e companheirismo.

- Ai menino... tenta se controlar.

É difícil, quando encontra um grande amor, a pessoa se controlar. Ainda mais um escorpiano. Ainda mais uma figura daquelas que não sabia como ser ele mesmo só pela metade.

- Não interprete mal os sinais. Não se empolgue com indicações frágeis. Não imagine demais pra não quebrar a cara. Não demonstre muito o que você está sentindo.

Desde sempre, o amor é um jogo. São os conselhos que a gente escuta. Principalmente, as mulheres, verdade. É preciso se preservar. E tem aquela ideia de que as pessoas não gostam de amores "fáceis". "Não seja fácil, se faça de difícil, não retorne a ligação, jamais ligue. Controle-se!", sempre disseram.

Não necessariamente pela mesma razão que nossos pais, mas autocontrole é sempre um conselho que está na ponta da língua. É que a disposição de sair voando que nem um balão desgovernado gosta de prevalecer diante da razão, especialmente nesses momentos de início de paixão. Os amigos e as amigas se preocupam, não querem que você sofra, querem te proteger ou, no mínimo, poder dizer depois: "eu avisei". Como se um chute desses fosse produto de algum cálculo previsível.

- Amigo, não manda essa carta, você está indo muito rápido e muito cedo. Calma. Mantenha o autocontrole. Você pode assustar o rapaz.

Ele prometia que ia ouvir o conselho. Dias depois, eu saberia que a carta havia sim sido enviada.

Outras recomendações de autocontrole ele ouviu. Mas eram aquelas que dialogavam com as suas expectativas, não as que normatizavam suas ações.

- Calma, você que é assim, afobado, quer amar tudo de uma só vez, não espere que todos sejam como você. Controle-se.

Chorando um pouco, resmungando, ouvia e se segurava na cadeira. Pra não sair correndo e fazer tudo o que queria mas que era precipitado.

E a história começou a se desenrolar. Não é que havia correspondência? Autocontrole, meu amigo, o mundo não acaba se ele precisa desistir de ir te visitar... um ano tem 365 dias, um dia tem 24 horas, uma hora tem 60 minutos... aquele minuto que você está vivendo não define tudo!

Mas cada minutinho daqueles ia definindo como seria aquela relação que estava começando. Um pouco estabanada, é verdade, mas ia acontecendo, ia rompendo barreiras (do mundo e de cada um dos dois), ia criando sua própria identidade e dispensando os modelos, os padrões e os conselhos de quem estava de fora. E aquela ansiedade de ser feliz, de viver a paixão, de torná-la um amor, de deixar esse amor transformar a si mesmo e ao mundo ao redor... deixou de ser ansiedade e virou uma vontade imensa de fazer bem ao outro. Foi emocionante assistir a esse parto natural.

Casaram-se um ano depois. Madrinha, testemunhei feliz. Com 30 anos na cara, já dá pra entender como são as coisas. A principal função do tal autocontrole, é sentir o gosto especial de encontrar alguém e um momento que te permitam mandar todo aquele controle à merda.

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