quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O assassino era o escriba

(Paulo Leminski)

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjunção.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

***
Viva a língua portuguesa! Contra a reforma ortográfica neoliberal do Governo Lula! rsrs... adoro este poema, queria socializar.

Um comentário:

Rodolfo Vianna disse...

Impressionante. Analisamos esse poema na aula do mestrado há umas três semanas!
Saudades que gramática nenhuma dá conta!
Rodolfo.