segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Sobre presença de palco

Outro dia, falávamos do show de uma cantora que eu não conhecia. Ouvi críticas à presença de palco dela, e mesmo não a conhecendo, não pude ouvir calada.

Precisa ter cuidado para condenar a presença de palco de alguém. Teresa Cristina disse que já foi muito criticada por cantar de olhos fechados, e foi por isso que compôs "Cantar". Eu penso que a interpretação é parte fundamental da tal da presença de palco, e ela é muito pessoal de cada artista, não podem querer ensinar alguém a fazer isso. Você pode, no máximo, contribuir para a pessoa encontrar a melhor maneira de se expressar, mas sem contrariar sua própria personalidade. Quando eu canto uma canção, o que sai de mim é uma síntese da soma eu + ela; eu falo dela como eu entendo dela, não como ela é. E é a minha forma de falar.

Eu valorizo muito a espontaneidade, então, obviamente, não creio que exista um só jeito de fazer isso. Tenho horror a "ensaio" de presença de palco, do treinamento sistemático de movimentos coordenados, de expressões faciais. Elza Soares, que não tem podido levantar-se da cadeira para cantar, tem, ainda assim, mais presença de palco que muita gente que gosta de saltitar e falta só dar piruetas - mas tudo fake, porque não espontâneo.

Nunca permiti que meus professores e professoras de canto tentassem interferir nessa parte. Essa parte é minha, eu extravaso a música espontaneamente, do jeito que ela sair de mim na hora.

Treinar presença de palco me parece uma tentativa de botar na caixinha a abordagem que o próprio artista faz da sua arte - ou seja, aprisionar algo que tem que ser livre. Torná-la mais um elemento que pode ser produzido em série, como se todo mundo fosse igual, ou devesse ser. Óbvio que, para alguém que se apresenta para uma plateia, é importante superar a timidez e estabelecer algum tipo de empatia com seu público. Mas há diversas formas de fazer isso. Treinar presença de palco não me parece uma boa coisa, ao contrário.

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