terça-feira, 11 de março de 2014

O alvo

Sempre teve pavor de baratas, e nem vergonha disso tinha. Se era pra matar, que fosse à distância, afogadas em veneno. Um mar de veneno sobre aquelas criaturas nojentas, por mais que o amigo já lhe houvesse avisado:

- Se as baratas sobrevivem a uma guerra nuclear, que diabos eles põem no Baygon?!

Naquela manhã, adentrou o banheiro sonolenta, mas não o bastante para ignorar a presença de más companhias. Uma barata colocava-se caprichosamente na parede interna ao box, sobre o chuveiro. E agora, que eu faço? Vou de novo chegar atrasada ao trabalho por causa desse ser repugnante que não me deixa tomar banho!

E saiu pela casa choramingando - manhãs são mesmo dedicadas ao mau humor -, até que encontrou o amigo:

- Uma barata não me deixa entrar no banho.

Foram os dois conferir.

- Tem certeza que é barata? Parece pequena.

- Sim, temos que matá-las desde jovens pra que não ousem procriar!

E lá foi o rapaz armar-se para enfrentar o monstro. Ela se afastou. Em poucos minutos, ele voltou, e a expressão era de desolamento.

- Pegamos o cara errado.

- Oi?

- Era só um besourinho.

Ela nem ligou. Certificou-se de que o cadáver fora removido e entrou no banho, para se atrasar o menos que pudesse para o trabalho. Ele não teve paz. À noite, sonhou que era um policial inglês perseguindo terroristas no metrô.

Nenhum comentário: