As seis partes anteriores estão disponíveis neste blog.
Incomodada pelo gradual e injustificado afastamento, Verônica passou a cutucar o namorado para entender o que se passava. A situação não chegou de repente, mas foi de repente que ela notou. Sabia que o pós-separação não seria fácil, mas não tolerava que as coisas acontecessem somente na cabeça de Léo, enquanto ela assistia, deduzindo as cenas dos capítulos anteriores. Quando provocado, Léo tergiversava.
- Às vezes ela está bem, às vezes não... Tente entender, foram sete anos...
- Até quando?
- Até quando o quê?
- Até quando eu vou ter que entender que você não entende que sua ex-mulher está esperançosamente tentando se reaproximar de você?
Léo tinha convicção de que entre ele e Laís já não havia amor, isso não era uma questão. Separaram-se de comum acordo, ela também demonstrara por meses a fio o quanto a presença dele lhe era dispensável. O divórcio tinha sido para os dois uma libertação daquela obrigação de conviver que não tinha mais sentido. Esforçava-se para conversar com naturalidade, para mostrar à ex-mulher que, mesmo que não fossem casados, ela fazia parte da vida dele de um jeito bom. Escondia de Laís os resquícios de Verônica que havia no seu corpo e nos seus olhos para não feri-la, imaginando que essa ação se daria por tempo determinado. Logo, estaria livre. Assim que Laís também estivesse.
Assim, a presença imperiosa de Laís fazia com que o deslumbramento por Verônica cedesse lugar a dúvidas e olhares distantes. Parecia que a cautela que Verônica sugerira no início começou a fazer sentido para o moço.
A displicência crescia gradativamente, até explodir numa tarde chuvosa. Depois de três dias inteiros sem falar com o namorado, Verônica telefonou tensa:
- Léo, eu quero saber o que está acontecendo.
- Ué, não está acontecendo nada...
- O que mudou?
- Nada mudou...
Encontraram-se para jantar, e ela não estava de bom humor. Léo tentou tranquilizá-la, disse que estava desenvolvendo projetos importantes na agência, que não precisavam se relacionar com aquele grau de intensidade.
- Alto lá! Quem estabeleceu essa dinâmica foi você!
Verônica, que antes nem estava certa do que sentia por ele, agora notava isso acontecer sob seu nariz sem saber explicar. De um lado, não apostava em que Léo e Laís tivessem um amor a ser reatado, e exatamente por isso o afastamento de Léo fazia pouco sentido. Talvez estivesse aberto a conhecer outras mulheres e viver outras histórias antes de se envolver profundamente com alguém, como ela mesma tentara alertá-lo na mesma noite em que ele, como um menino que chora com medo do trovão, disse que a amava.
Ao observar a falta de palavras expressa num olhar assustado, de quem entrou na sala errada, Verônica respirou fundo e voltou atrás. Em parte.
- Desculpe, Léo. Sempre fui eu quem disse que deveríamos ir devagar, respeitar seu tempo de se recompor do fim de um casamento. Você não se preocupava com isso, mas vejo que agora está pisando no chão novamente...
***
Continua...
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