Certo dia, eu acordei grávida. Não sei o que aconteceu, eu não estava assim ao dormir. E dormi sozinha, sem ninguém, sequer acredito no Espírito Santo (somente no santo espírito que tagarela embriagado comigo depois de algumas doses sem jeito).
De repente estava assim, grávida, e não sabia pra onde correr, nem pra quem contar. Tanta gente com quem posso contar e tão pouca gente pra quem eu posso contar. E contei pra mim mesma para ver se eu acreditava, mas acho que não.
Saí grávida, sentindo enjoos e medo. Cheguei à aula, a professora me estranhou. Viu-me triste e quis me abraçar, mas não deixei. Corri trabalhar, mas não queria trabalho, queria pranto, estava confusa e apavorada. Parei de fumar, e só fui almoçar porque eu já não era uma só. Passei no banco, no supermercado, na farmácia. Foram todos gentis, mas pensavam que estava tudo normal. Estava não. Eu estava grávida.
Em casa não chorei mais, controlei meu medo e meu mistério para poder encarar as mulheres estéreis de quem descendo. Elas me sorriam - um pouco encantadas, um pouco com dó. Eu jamais consegui corresponder adequadamente o cuidado que elas têm por mim, e agora, que estava grávida, elas acreditavam mais do que nunca que sou especial.
Fui dormir quase conformada, lembro do suspiro profundo que precedeu minhas tentativas em vão de pregar os olhos. A barriga já se mexia, alguém ali já saltitava, eu não encontrava posição, sentia todo o peso dentro de mim. Quis chorar e senti culpa - ora, que criatura pode chorar para transbordar um filho? Tentava lembrar, mas minha memória fora engolida pela barriga. Aquela pessoa que eu era ficava distante, como vista bem pequena no afastar-se de uma estrada, e eu não tinha outra saída se não fazer com que se reconciliassem meu desejo e meu destino.
Dormi porque não consegui mais não dormir. E quando despertei, a cama estava repleta de cores estranhas, mas vibrantes. Alguma coisa havia saído do meu ventre, mas eu não encontrei.
Tropecei numa clave de sol, andei pela casa à procura do meu filho, e estava tão leve que tinha que me esforçar para fincar os pés no chão. Procurei por todo o canto e aquelas cores ainda caíam de dentro de mim, como fossem o que sobrou daquela gravidez não planejada.
Aos poucos, o chão era feito de puras cores. Tanto, que a casa parecia outra agora. Era uma casa mais bonita, e parecia fazer mais sentido que antes. A doutora que cuida da minha alma me recomendou um pouco de repouso, e quando abri a janela, lá estavam todos os sonhos que eu tinha esquecido. Havia um vasto horizonte, barulho de água corrente, raios de sol e uma paz que eu nunca tinha visto, só imaginado. O céu estava aberto, e havia música tentando entrar em casa.
Eram duas músicas, na verdade. Deixei que entrassem e elas me fizeram companhia, disseram que logo viria uma terceira canção e que, só então, poderiam agraciar meu bebê.
Acabei lhes contando que eu não sabia aonde o bebê foi parar. Elas riram de mim: mãe de primeira viagem. Dentro de mim, já não havia um filho, mas sim, alguma coisa forte e definitiva que pulsava alegremente, sem se preocupar em acertar o compasso.
Nunca encontrei o tal bebê. Mas as cores ficaram pelo chão, a janela permaneceu aberta e, quando chegou a terceira música, elas me tranquilizaram, assegurando que esse tipo de parto é assim mesmo.
Até hoje, eu não sei bem o que foi que aconteceu naquele dia. Mas eu nunca mais fui a mesma. Nem minha casa. Nem meu coração.
Música, feminismo, diálogos, política, futebol, crônica e poesia convivendo no mesmo espaço. E sem conflito.
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segunda-feira, 14 de setembro de 2015
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Pequenas enormes felicidades
Uma espreguiçada de manhã de sábado
Mergulhar no mar do Nordeste
Encontrar dinheiro no bolso da calça
Ouvir a voz do Mário Reis
Deixar ecoar aquela risada
Ganhar um abraço de braço inteiro
Marcar passagem pra Porto Alegre
O nascimento do Antônio
O aniversário da Juliana
Saber que hoje é dia de samba.
***
Que o Antônio venha para se somar à luta por um mundo melhor! E que o mundo seja melhor para merecer a presença do Antônio! Um viva aos papais Clarissa Jokowski e Bruno Elias! :)
Mergulhar no mar do Nordeste
Encontrar dinheiro no bolso da calça
Ouvir a voz do Mário Reis
Deixar ecoar aquela risada
Ganhar um abraço de braço inteiro
Marcar passagem pra Porto Alegre
O nascimento do Antônio
O aniversário da Juliana
Saber que hoje é dia de samba.
***
Que o Antônio venha para se somar à luta por um mundo melhor! E que o mundo seja melhor para merecer a presença do Antônio! Um viva aos papais Clarissa Jokowski e Bruno Elias! :)
domingo, 21 de setembro de 2014
Defender a família?
"(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)"
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)"
Alberto Caeiro
É impressionante a quantidade de candidatos proporcionais que vão à TV afirmar seu empenho em defesa "da família". Parece-me um legado do processo eleitoral de quatro anos atrás, em que, a certo momento, eu já não sabia se estava votando para presidente ou para papa.
Lembro-me do primeiro romance que me marcou, Capitães da Areia, de Jorge Amado, eu devia ter uns 15 ou 16 anos. Recordo com nitidez a frase que encerra o romance: "porque a revolução é uma pátria e uma família".
Pouco tempo depois, tornei-me militante do movimento estudantil, depois, do movimento de mulheres, e junto, do PT. Dedicava a isso todo o meu tempo, acordava feliz às 7h de um sábado e de um domingo para atividades políticas e militantes. Era encantadora a convivência com as pessoas que tinham assumido o mesmo compromisso de vida que eu, particularmente, aquelas que atravessaram períodos cruéis, como a ditadura militar, sem deixar que fosse abalada sua confiança no que estavam propondo.
Era muito o tempo que passávamos lado a lado. Havia viagens (curtas e longas) a trabalho, havia reuniões de dia inteiro, de finais de semana inteiros, havia trabalho de dia e atividades militantes à noite, havia horas a fio dedicadas à organização de eventos políticos. Com algumas dessas pessoas, a relação ultrapassava os limites dos afazeres, e assim ganhei muitos amigos e amigas. Com esses, eu reclamei muito da vida e festejei muito a vida. Não era problema nenhum passarmos o dia trabalhando juntos e irmos juntos para a festa à noite. "Aquele que faz o pagode e sacode a poeira suada da luta". Éramos filhos e filhas da mesma escolha, a vida nos juntou e nos mantermos unidos era uma escolha também.
Da mesma forma, outras trajetórias coletivas foram construídas, em outros espaços da vida social. Outro dia, estava numa das rodas de samba que frequento aqui em Brasília, e pensava exatamente sobre isso. O grupo é formado por amigos que se reúnem semanalmente há 26 anos, e o elemento aglutinador é o samba, é a música popular do Brasil. Na última quarta, surpreenderam seu Nilton - o mais velho deles - com uma paródia maravilhosamente bem feita de "Garota, eu vou para a Califórnia", já que o amigo vai passar uma temporada por aquelas bandas. "Na Califórnia é diferente, irmão, nem todos gostam de samba". Seu Nilton ouviu surpreso e emocionado. E, no seu retorno, estaremos - sim, me incluo - todos ansiosos aguardando-o cantar "Copacabana" e "Marina", com aquela voz que só ele tem.
Não é o único exemplo. Participo de, pelo menos, mais duas rodas de samba com essas características, em maior ou menor grau de aproximação e de tempo de convivência, mas o suficiente para que eu ateste que o samba, com certeza, é uma pátria e uma família. Ele também é uma escolha de vida, e também une pessoas tanto quanto ou até mais que um laço sanguíneo. Ele organiza seu jeito de olhar pro mundo e te faz sentir em casa.
E assim, deve haver outras famílias. Não precisa ter esse grau de abrangência, às vezes é só a turma que se formou junta na faculdade, seja há cinco, seja há trinta anos. Talvez sejam os moradores de uma rua, vizinhos há sei lá quanto tempo, entre os quais há comadres/compadres, desavenças superadas, intimidade, gente que sabe o que o outro está pensando por uma entonação de voz ou um olhar.
Eu quero saber se essa gente toda que fica na TV e nos panfletos que nem profeta alardeando que precisa defender a tal da família e que eles é que serão esses guardiões, eu quero saber se eles vão defender as minhas famílias. Mas provavelmente eles são autoritários o suficiente para ignorar solenemente a laicidade do Estado, achar que a sua religião pode ser imposta a todo mundo mesmo, e que só tem um jeito de se ter uma família: o jeito dele. Pai, mãe, filho. Espírito Santo. Às vezes tem avós, tios, primos.
Em algumas dessas famílias, há processos horríveis de violência contra a mulher, de abuso sexual de crianças. Em algumas, as pessoas se submetem a uma vida de mentiras para tolerar a infelicidade do não-amor, da não-confiança, do não-respeito. Alguns se condenam à convivência eterna somente porque alguém X numa igreja Y lhes disse que há decisões que são irrevogáveis. E há gente que gosta tanto desse tipo de família que tem mais de uma, sem que uma saiba da existência da outra. Vários desses são gente que vai à igreja, diz "graças a Deus" e ora antes de dormir.
Eu prefiro que as pessoas sintam-se em casa na casa que elas escolherem para si. Que organizem sua casa como acharem melhor, e que vivam coletivamente por opção, não porque alguém determinou. Nem a Igreja nem o Estado têm nada a ver com minhas escolhas pessoais. Quem quiser vincular suas decisões à sua religião, que o faça, eu jamais atuaria para impedir, porque todas as minhas famílias sempre me ensinaram o valor da democracia. Mas não vou admitir também que essas pessoas queiram interferir na minha vida a partir de códigos e leis que são só seus.
Quanto às minhas famílias, eu as defendo todo dia, não creio ser desejável que esse tipo de gente me substitua nessa doce tarefa. Obrigada, não.
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Trinta e um anos sem CLARA NUNES
Eu não sabia que era hoje, Clara. Não lembrava, sei lá. Prefiro guardar a data do seu nascimento, em 12 de agosto de 1942.
Eu não sei quem eu sou sem você, mesmo nunca a tendo visto em vida. Mesmo sabendo que me apareceste como um fantasma do bem, me mostrando o samba, me dando um jeito feminino de cantar forte. E como disse o nosso amigo João, tirando a preta do cerrado, pondo rei Congo no Congado...
Lembro como ontem ouvir "O Mar Serenou", uma década atrás, e pensar... Tem espaço pra ser mulher nessa história de samba. Lembro que, minutos após te ouvir, fui à beira do mar testar se eu poderia ser sereia. E graças a você, eu soube que eu sou sim, sereia.
E cada vez que o vento vem, eu peço que me traga um pouco de você... Se não sua voz, então, que me traga o que você faria, porque nada foi fácil pra você, como não é pro povo brasileiro. Mas você é guerreira, como as mulheres brasileiras são. Você sempre foi.
E, Clara, você foi Clara. Clara ficou espalhada como se tivesse sido cinzas que teu vento levou pra onde quis. Há você em cada canto deste país, onde se canta samba, onde se celebra nossa história... Tua voz ecoa que nem grito que lançaste pra demarcar justamente isso: a nossa história, que cavaste suave pra fazer brotar onde tinha que ser. Eu fui. Eu sou.
Clara, querias tanto ter filhos... Isso nunca lhe aconteceu pela biologia. Mas Clara, minha Clara, linda do meu coração: tiveste muitos filhos e filhas por este Brasil. Estamos aqui, sem seu sobrenome, pra reproduzir teu legado. Porque, para nós, é uma honra continuar.
Não tem um dia em que eu não pense... Como seria tudo isto se você estivesse aqui? Mas tu não és tristeza, nem frustração... Tu és a força da nossa bravura, tu és a beleza da nossa cultura, tu és a voz que vive pulsante em cada mulher, em cada sambista, em cada musicista... Para a gente fazer nossa cultura ser eterna, ser reinante sobre tudo... Como és tu, filha da rainha dos ventos, que, nos meus sonhos, está sempre em cada sopro de ar que vem na minha direção.
Obrigada por ter me levado ao lugar de onde eu vou contribuir mais pro mundo ser melhor. E se o mundo me diz não, meu sim vem de ti. Porque você vive sempre com a gente. E a gente fica a lembrar, vendo o céu clarear, na esperança de vê-la...
Eu não sei quem eu sou sem você, mesmo nunca a tendo visto em vida. Mesmo sabendo que me apareceste como um fantasma do bem, me mostrando o samba, me dando um jeito feminino de cantar forte. E como disse o nosso amigo João, tirando a preta do cerrado, pondo rei Congo no Congado...
Lembro como ontem ouvir "O Mar Serenou", uma década atrás, e pensar... Tem espaço pra ser mulher nessa história de samba. Lembro que, minutos após te ouvir, fui à beira do mar testar se eu poderia ser sereia. E graças a você, eu soube que eu sou sim, sereia.
E cada vez que o vento vem, eu peço que me traga um pouco de você... Se não sua voz, então, que me traga o que você faria, porque nada foi fácil pra você, como não é pro povo brasileiro. Mas você é guerreira, como as mulheres brasileiras são. Você sempre foi.
E, Clara, você foi Clara. Clara ficou espalhada como se tivesse sido cinzas que teu vento levou pra onde quis. Há você em cada canto deste país, onde se canta samba, onde se celebra nossa história... Tua voz ecoa que nem grito que lançaste pra demarcar justamente isso: a nossa história, que cavaste suave pra fazer brotar onde tinha que ser. Eu fui. Eu sou.
Clara, querias tanto ter filhos... Isso nunca lhe aconteceu pela biologia. Mas Clara, minha Clara, linda do meu coração: tiveste muitos filhos e filhas por este Brasil. Estamos aqui, sem seu sobrenome, pra reproduzir teu legado. Porque, para nós, é uma honra continuar.
Não tem um dia em que eu não pense... Como seria tudo isto se você estivesse aqui? Mas tu não és tristeza, nem frustração... Tu és a força da nossa bravura, tu és a beleza da nossa cultura, tu és a voz que vive pulsante em cada mulher, em cada sambista, em cada musicista... Para a gente fazer nossa cultura ser eterna, ser reinante sobre tudo... Como és tu, filha da rainha dos ventos, que, nos meus sonhos, está sempre em cada sopro de ar que vem na minha direção.
Obrigada por ter me levado ao lugar de onde eu vou contribuir mais pro mundo ser melhor. E se o mundo me diz não, meu sim vem de ti. Porque você vive sempre com a gente. E a gente fica a lembrar, vendo o céu clarear, na esperança de vê-la...
terça-feira, 15 de junho de 2010
"O mito da maternidade é um saco"
Alberto:
(...) Então tá, vejo isso e te retorno. Ah! Como tá seu sobrinho?
Mariana:
Tá ótimo. Mas os pais são dementes.
Alberto:
hehehe... por quê?
Mariana:
Fico enojada de ficar perto deles com o pobre bebê.
Alberto:
O que foi desta vez?
Mariana:
Nada demais. O mito da maternidade é um saco.
Alberto:
Ahn?
Mariana:
Aquilo de corujice, imbecilidade, entende? Conhece a fábula da coruja que teve filhotes?
Alberto:
Não.
Mariana:
Claro que conhece. Todo mundo conhece. Olha eles: “O Miguel sorriu pra nós hoje! Vamos pintar um quadro, depois, vamos fazer uma exposição no Pátio do Colégio, afinal, é inacreditável”. Porra.
Alberto:
hahaha, não exagera, vai... você está sem paciência porque são vizinhos.
Mariana:
É sério. Você não se enoja? Eles acham que são pais de um ET. Devem estar comprando um telefone e uma casa pra ver se a criança se identifica.
Alberto:
“Enojar” é um pouco demais... acho meio besta, mas enfim. Quem sou eu? Quero ter os meus, um dia.
Mariana:
Besta? É muito chato! Bicho, é uma criança rindo. Crianças riem, isso não tem nada demais. Não faz de ninguém um ser extraordinário, acima do normal, tocado por Deus. Não precisa ser filho do sol pra rir.
Alberto:
Mas se ele não for especial pros pais, vai ser pra quem? Pais são assim mesmo, ficam bobos.
Mariana:
“Bobos” é generosidade sua. Filhos sempre são especiais, ok, não tô discordando. Mas tem limite. Credo. Coitada da criança. Imagina se um dia alguém disser pra ele que ele não é rei do continente. Vai ser a primeira grande decepção da sua vida. Nunca vai se recuperar. Haja terapia.
Alberto:
Mas você também elogia sorrisos bonitos, até de atores de televisão.
Mariana:
Uma coisa é você achar um sorriso bonito. Outra coisa é você achar que é espetacular, extraordinário, prova da existência de Deus e da capacidade extraterrena de uma criatura. Porra, todo mundo ri! Não tem nada demais nisso.
Alberto:
Hahahahaha... quantos adjetivos...
Mariana:
Eles passaram horas falando das habilidades extrassensoriais, dos talentos irrefutáveis e dos poderes inacreditáveis de um bebê de 3 meses! Eles pensam que geraram Einstein! Porra, como assim??? É uma criança normal, como outra qualquer, que faz coisas que toda criança faz quando tem essa idade. Imagina quando o menino começar a andar! Eles vão achar que todos os planetas do Sistema Solar vão bater na porta pra saudar o feito inacreditável. Que nem os reis magos, mas mais cintilantes.
Alberto:
Você tá certa, é uma criança normal... só tem um detalhe que você esquece: é o FILHO deles.
Mariana:
E daí? Poderia ser de outra pessoa qualquer. Ia ser igual e fazer as mesmas coisas que qualquer criança faz.
Alberto:
Mari, Deus a perdoe.
Mariana:
Bem lembrado. Nem Deus trata assim seus filhos. Logo o primogênito já foi expulso do Paraíso!
Alberto:
hahahahahahaha
Mariana:
Bom, vou desligar. Tá chiando. ODEIO este telefone. Que nojo.
Alberto:
Você tá com nojo de tudo hoje, hein.
Mariana:
Olha, vou te repassar um e-mail que enviei há alguns minutos pra um devedor da firma. Daí você vai ver o tamanho do meu nojo hoje. (...)
(...) Então tá, vejo isso e te retorno. Ah! Como tá seu sobrinho?
Mariana:
Tá ótimo. Mas os pais são dementes.
Alberto:
hehehe... por quê?
Mariana:
Fico enojada de ficar perto deles com o pobre bebê.
Alberto:
O que foi desta vez?
Mariana:
Nada demais. O mito da maternidade é um saco.
Alberto:
Ahn?
Mariana:
Aquilo de corujice, imbecilidade, entende? Conhece a fábula da coruja que teve filhotes?
Alberto:
Não.
Mariana:
Claro que conhece. Todo mundo conhece. Olha eles: “O Miguel sorriu pra nós hoje! Vamos pintar um quadro, depois, vamos fazer uma exposição no Pátio do Colégio, afinal, é inacreditável”. Porra.
Alberto:
hahaha, não exagera, vai... você está sem paciência porque são vizinhos.
Mariana:
É sério. Você não se enoja? Eles acham que são pais de um ET. Devem estar comprando um telefone e uma casa pra ver se a criança se identifica.
Alberto:
“Enojar” é um pouco demais... acho meio besta, mas enfim. Quem sou eu? Quero ter os meus, um dia.
Mariana:
Besta? É muito chato! Bicho, é uma criança rindo. Crianças riem, isso não tem nada demais. Não faz de ninguém um ser extraordinário, acima do normal, tocado por Deus. Não precisa ser filho do sol pra rir.
Alberto:
Mas se ele não for especial pros pais, vai ser pra quem? Pais são assim mesmo, ficam bobos.
Mariana:
“Bobos” é generosidade sua. Filhos sempre são especiais, ok, não tô discordando. Mas tem limite. Credo. Coitada da criança. Imagina se um dia alguém disser pra ele que ele não é rei do continente. Vai ser a primeira grande decepção da sua vida. Nunca vai se recuperar. Haja terapia.
Alberto:
Mas você também elogia sorrisos bonitos, até de atores de televisão.
Mariana:
Uma coisa é você achar um sorriso bonito. Outra coisa é você achar que é espetacular, extraordinário, prova da existência de Deus e da capacidade extraterrena de uma criatura. Porra, todo mundo ri! Não tem nada demais nisso.
Alberto:
Hahahahaha... quantos adjetivos...
Mariana:
Eles passaram horas falando das habilidades extrassensoriais, dos talentos irrefutáveis e dos poderes inacreditáveis de um bebê de 3 meses! Eles pensam que geraram Einstein! Porra, como assim??? É uma criança normal, como outra qualquer, que faz coisas que toda criança faz quando tem essa idade. Imagina quando o menino começar a andar! Eles vão achar que todos os planetas do Sistema Solar vão bater na porta pra saudar o feito inacreditável. Que nem os reis magos, mas mais cintilantes.
Alberto:
Você tá certa, é uma criança normal... só tem um detalhe que você esquece: é o FILHO deles.
Mariana:
E daí? Poderia ser de outra pessoa qualquer. Ia ser igual e fazer as mesmas coisas que qualquer criança faz.
Alberto:
Mari, Deus a perdoe.
Mariana:
Bem lembrado. Nem Deus trata assim seus filhos. Logo o primogênito já foi expulso do Paraíso!
Alberto:
hahahahahahaha
Mariana:
Bom, vou desligar. Tá chiando. ODEIO este telefone. Que nojo.
Alberto:
Você tá com nojo de tudo hoje, hein.
Mariana:
Olha, vou te repassar um e-mail que enviei há alguns minutos pra um devedor da firma. Daí você vai ver o tamanho do meu nojo hoje. (...)
sexta-feira, 7 de maio de 2010
De presente para as mães, um futuro de liberdade e igualdade
Eu já não gosto daqueles exageros tradicionais que se associam ao ser mãe. Em muitas entrelinhas, lê-se que mãe é aquela sujeita que, irracionalmente, como os animais (frequentemente são comparadas a leoas), provêm, garantem e defendem os filhos e filhas do resto do mundo.
Não gosto da ideia de que "mãe é tudo igual, só muda de endereço". Também não gosto da mística que há em torno da maternidade - é uma bênção, é uma dádiva, é a razão de viver. E não gosto da fábula da mãe coruja, por fim. Ou até gosto, pela denúncia, não pelo culto à "corujice"...
Mas isso sou eu. Tem coisa que não sou eu, que é o mundo.
A maternidade é sim, muitas vezes, um dos caminhos para se ter controle sobre as mulheres e seus corpos. "Uma mulher só é completa se for mãe", proclama-se. O fato de poderem ser mães acaba fazendo delas eternamente reféns do trabalho de cuidados, como se fosse isso uma aptidão natural intrínseca à capacidade de gerar filhos. Então, sempre caberá à mulher, que é por desejo divino um ser cuidador, terno, sensível, cuidar de crianças, de idosos, de pessoas doentes no âmbito doméstico. E se encaminharem naturalmente, no mercado de trabalho, a profissões como Enfermagem, Magistério, Serviço Social e outras. Todas profissões essenciais à vida humana e absolutamente dignas, mas desvalorizadas no mercado em relação a outras, com predominância masculina. É sabido e atestado por inúmeras pesquisas que a feminização de uma carreira incorre numa queda de salários na mesma.
A recusa da maternidade é condenada pela sociedade - orquestrada por suas instituições, como a Igreja, por exemplo - como se as mulheres que não desejam ser mães fossem as bruxas da inquisição. Entre as razões para se manter o aborto criminalizado, está esse pensamento retrógrado de não admitir que uma mulher não queira ser mãe. Como se fosse um destino natural irrefutável.
As vilãs nas novelas não são mães, ou se são, o principal atestado da maldade é o péssimo modo de desempenhar a maternidade. Nas novelas, a maternidade pode representar a redenção de uma vilã em recuperação. Quer algo mais revelador do pensamento dominante do que um enredo de telenovela?
E assim, a indústria, o comércio e mídia se apropriam dessa opressão toda para ganhar o seu. Todo dia das mães é a mesma coisa. Milhares de propagandas na TV, no rádio, nos jornais, revistas, internet anunciam produtos que vão deixar sua mãe bonita, de acordo com os padrões do mercado - cosméticos de todo tipo, roupas, acessórios -, ou, principalmente, eletrodomésticos e utensílios domésticos incríveis que vão permitir a sua mãe ser uma serviçal ainda melhor pra você, pro seu pai, pros seus avós, seus irmãos e quem mais morar na sua casa (ou apenas frequentá-la).
Como ser mulher é muito determinado pela capacidade de dar à luz, fica claro, em todo dia das mães, que o mercado quer as mulheres domesticadas. Quer que continuem cumprindo dupla ou tripla jornada - mas com mais classe, elegância, com mais agilidade graças aos produtos que vendem.
Mas se a sociedade realmente respeitasse as mães, não é assim que elas seriam tratadas.
Assim como se fala do mundo que se quer deixar para os filhos, o que eu queria é que minha mãe tivesse um mundo que não reserva um destino irrefutável pra ela, mas que todas as mulheres pudessem, autonomamente, compor sua própria história. Que possam ser quem quiserem ser, que não dependam financeira nem emocionalmente de ninguém. Que sejam livres, que não seja naturalizado o tanto de trabalho gratuito que realizam em nome "do amor". Que o Estado e os homens garantam a socialização desse trabalho. Eu queria que a mãe de ninguém fosse vítima de violência doméstica, de violência sexual, ou da violência simbólica praticada todos os dias pela mídia e pelo mercado que a organiza, que define que a mulher sofre, que a mulher aceita, que a mulher se subordina. Eu queria que nenhuma mãe fosse submetida ao mar de mercantilização que nossa sociedade se tornou, tratando os corpos delas, de suas filhas, de suas amigas como se fossem produtos a serem consumidos. Ou então, como se fossem corpos doentes, imperfeitos, que precisam ser consertados, medicados, que precisam sofrer intervenção.
E também queria que nenhuma mulher fosse obrigada a ser mãe se não quiser ou não puder. Que todos os filhos e filhas façam mãe mulheres que optaram por isso, planejaram, querem e têm condições de exercer a maternidade da melhor forma possível.
Era isso que eu queria pra minha mãe e pra mãe de todo mundo. E quando eu for mãe, é isso que eu quero de presente no dia das mães. É pedir muito?
***
Este vai dedicado à minha mãe, né. Porque eu tenho certeza que ela vai ler e quase certeza de que vai gostar. rsrs...
Não gosto da ideia de que "mãe é tudo igual, só muda de endereço". Também não gosto da mística que há em torno da maternidade - é uma bênção, é uma dádiva, é a razão de viver. E não gosto da fábula da mãe coruja, por fim. Ou até gosto, pela denúncia, não pelo culto à "corujice"...
Mas isso sou eu. Tem coisa que não sou eu, que é o mundo.
A maternidade é sim, muitas vezes, um dos caminhos para se ter controle sobre as mulheres e seus corpos. "Uma mulher só é completa se for mãe", proclama-se. O fato de poderem ser mães acaba fazendo delas eternamente reféns do trabalho de cuidados, como se fosse isso uma aptidão natural intrínseca à capacidade de gerar filhos. Então, sempre caberá à mulher, que é por desejo divino um ser cuidador, terno, sensível, cuidar de crianças, de idosos, de pessoas doentes no âmbito doméstico. E se encaminharem naturalmente, no mercado de trabalho, a profissões como Enfermagem, Magistério, Serviço Social e outras. Todas profissões essenciais à vida humana e absolutamente dignas, mas desvalorizadas no mercado em relação a outras, com predominância masculina. É sabido e atestado por inúmeras pesquisas que a feminização de uma carreira incorre numa queda de salários na mesma.
A recusa da maternidade é condenada pela sociedade - orquestrada por suas instituições, como a Igreja, por exemplo - como se as mulheres que não desejam ser mães fossem as bruxas da inquisição. Entre as razões para se manter o aborto criminalizado, está esse pensamento retrógrado de não admitir que uma mulher não queira ser mãe. Como se fosse um destino natural irrefutável.
As vilãs nas novelas não são mães, ou se são, o principal atestado da maldade é o péssimo modo de desempenhar a maternidade. Nas novelas, a maternidade pode representar a redenção de uma vilã em recuperação. Quer algo mais revelador do pensamento dominante do que um enredo de telenovela?
E assim, a indústria, o comércio e mídia se apropriam dessa opressão toda para ganhar o seu. Todo dia das mães é a mesma coisa. Milhares de propagandas na TV, no rádio, nos jornais, revistas, internet anunciam produtos que vão deixar sua mãe bonita, de acordo com os padrões do mercado - cosméticos de todo tipo, roupas, acessórios -, ou, principalmente, eletrodomésticos e utensílios domésticos incríveis que vão permitir a sua mãe ser uma serviçal ainda melhor pra você, pro seu pai, pros seus avós, seus irmãos e quem mais morar na sua casa (ou apenas frequentá-la).
Como ser mulher é muito determinado pela capacidade de dar à luz, fica claro, em todo dia das mães, que o mercado quer as mulheres domesticadas. Quer que continuem cumprindo dupla ou tripla jornada - mas com mais classe, elegância, com mais agilidade graças aos produtos que vendem.
Mas se a sociedade realmente respeitasse as mães, não é assim que elas seriam tratadas.
Assim como se fala do mundo que se quer deixar para os filhos, o que eu queria é que minha mãe tivesse um mundo que não reserva um destino irrefutável pra ela, mas que todas as mulheres pudessem, autonomamente, compor sua própria história. Que possam ser quem quiserem ser, que não dependam financeira nem emocionalmente de ninguém. Que sejam livres, que não seja naturalizado o tanto de trabalho gratuito que realizam em nome "do amor". Que o Estado e os homens garantam a socialização desse trabalho. Eu queria que a mãe de ninguém fosse vítima de violência doméstica, de violência sexual, ou da violência simbólica praticada todos os dias pela mídia e pelo mercado que a organiza, que define que a mulher sofre, que a mulher aceita, que a mulher se subordina. Eu queria que nenhuma mãe fosse submetida ao mar de mercantilização que nossa sociedade se tornou, tratando os corpos delas, de suas filhas, de suas amigas como se fossem produtos a serem consumidos. Ou então, como se fossem corpos doentes, imperfeitos, que precisam ser consertados, medicados, que precisam sofrer intervenção.
E também queria que nenhuma mulher fosse obrigada a ser mãe se não quiser ou não puder. Que todos os filhos e filhas façam mãe mulheres que optaram por isso, planejaram, querem e têm condições de exercer a maternidade da melhor forma possível.
Era isso que eu queria pra minha mãe e pra mãe de todo mundo. E quando eu for mãe, é isso que eu quero de presente no dia das mães. É pedir muito?
***
Este vai dedicado à minha mãe, né. Porque eu tenho certeza que ela vai ler e quase certeza de que vai gostar. rsrs...
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Mulheres, mães, mercado
Já que ontem foi o Dia das Mães, um bom artigo da minha amiga e companheira Tica Moreno, militante da Marcha Mundial das Mulheres, sobre o tema, numa perspectiva feminista. Retirado do blog 300: www.trezentos.blog.br.
As propagandas do dia das mães (e das semanas anteriores) rendem milhares de agradecimentos à todas as mães. “Aquela que depois de um dia de stress no trabalho chega em casa e, sorrindo, cuida da casa, das crianças…” (Renner). Sorrindo =)
Tem também o Ponto Frio, que ajuda os filhos na hora de escolher o presente: “quer fazer sua mãe feliz?” …(muitas fotos de eletrodomésticos, em varias parcelas)… “Renove a cozinha da sua mãe!!”
A gente já sabe que o mercado aproveita todas as datas possíveis pra vender, vender, e vender mais ainda. As vendas para o dia das mães só ficam atrás do comércio perto do Natal. E as propagandas aproveitam pra reforçar a idéia hegemônica de que as mulheres têm que dar conta de trabalhar fora (ganhando em média 70% do que os homens ganham) e trabalhar muito dentro de casa, no trabalho doméstico e de cuidados (das crianças, do marido, dos seus pais, mães, sogras e sogros…) Sorrindo! Afinal de contas, os eletrodomésticos estão aí pra ajudar!
Mas nós precisamos mesmo que os homens estejam aí também, pra dividir! E que o Estado reconheça a enorme quantidade de trabalho que as mulheres fazem todos os dias pra garantir a reprodução social. As feministas propõem que esse reconhecimento se materialize em creches públicas, restaurantes e lavanderias coletivas, etc. No início do século passado, as socialistas já apontavam essa necessidade pra construir igualdade de fato entre homens e mulheres. A revolução russa avançou um pouco neste sentido, promovendo (pouquinhas) ações de socialização do trabalho doméstico. Algumas prefeituras no Brasil também investiram nessas políticas. Mas os dados de 2007 mostram que só 17,1% das crianças de 0 a 3 anos frequentavam creches (públicas e privadas). Outra informação do site do IBGE, sobre os dados da PNAD 2007:
Na análise das famílias, os números mostram que a existência de um cônjuge masculino dentro de casa representa um aumento de cerca de duas horas semanais em afazeres domésticos para as mulheres que se declararam responsáveis pelo domicilio. Entre estas mulheres, a maior jornada observada em afazeres domésticos ocorre nas famílias formadas por casal com filhos menores de 14 anos (29,7 horas semanais) mas , neste mesmo tipo de arranjo, onde a mulher não tem cônjuge, o tempo médio despendido é de 27,6 horas.
A socialização do trabalho doméstico continua sendo uma demanda atual, é uma das necessidades para superar a divisão sexual do trabalho, e possibilitar igualdade e autonomia para as mulheres.
A gente tem mesmo que agradecer todas as mães que passam por muito perrengue pra dar o melhor pros filhos… E, além de agradecer, a gente tem que lutar pra transformar as relações desiguais, e garantir, para todas as mulheres que decidam ser mães, que a maternidade seja sempre mais prazer que perrengue.
As propagandas do dia das mães (e das semanas anteriores) rendem milhares de agradecimentos à todas as mães. “Aquela que depois de um dia de stress no trabalho chega em casa e, sorrindo, cuida da casa, das crianças…” (Renner). Sorrindo =)
Tem também o Ponto Frio, que ajuda os filhos na hora de escolher o presente: “quer fazer sua mãe feliz?” …(muitas fotos de eletrodomésticos, em varias parcelas)… “Renove a cozinha da sua mãe!!”
A gente já sabe que o mercado aproveita todas as datas possíveis pra vender, vender, e vender mais ainda. As vendas para o dia das mães só ficam atrás do comércio perto do Natal. E as propagandas aproveitam pra reforçar a idéia hegemônica de que as mulheres têm que dar conta de trabalhar fora (ganhando em média 70% do que os homens ganham) e trabalhar muito dentro de casa, no trabalho doméstico e de cuidados (das crianças, do marido, dos seus pais, mães, sogras e sogros…) Sorrindo! Afinal de contas, os eletrodomésticos estão aí pra ajudar!
Mas nós precisamos mesmo que os homens estejam aí também, pra dividir! E que o Estado reconheça a enorme quantidade de trabalho que as mulheres fazem todos os dias pra garantir a reprodução social. As feministas propõem que esse reconhecimento se materialize em creches públicas, restaurantes e lavanderias coletivas, etc. No início do século passado, as socialistas já apontavam essa necessidade pra construir igualdade de fato entre homens e mulheres. A revolução russa avançou um pouco neste sentido, promovendo (pouquinhas) ações de socialização do trabalho doméstico. Algumas prefeituras no Brasil também investiram nessas políticas. Mas os dados de 2007 mostram que só 17,1% das crianças de 0 a 3 anos frequentavam creches (públicas e privadas). Outra informação do site do IBGE, sobre os dados da PNAD 2007:
Na análise das famílias, os números mostram que a existência de um cônjuge masculino dentro de casa representa um aumento de cerca de duas horas semanais em afazeres domésticos para as mulheres que se declararam responsáveis pelo domicilio. Entre estas mulheres, a maior jornada observada em afazeres domésticos ocorre nas famílias formadas por casal com filhos menores de 14 anos (29,7 horas semanais) mas , neste mesmo tipo de arranjo, onde a mulher não tem cônjuge, o tempo médio despendido é de 27,6 horas.
A socialização do trabalho doméstico continua sendo uma demanda atual, é uma das necessidades para superar a divisão sexual do trabalho, e possibilitar igualdade e autonomia para as mulheres.
A gente tem mesmo que agradecer todas as mães que passam por muito perrengue pra dar o melhor pros filhos… E, além de agradecer, a gente tem que lutar pra transformar as relações desiguais, e garantir, para todas as mulheres que decidam ser mães, que a maternidade seja sempre mais prazer que perrengue.
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