quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Léo e Verônica - parte 10 de 10

Verônica decidiu dedicar-se integralmente ao trabalho, de modo que não restasse tempo nem forças, e logo, nem vontade nem motivos para pensar no caso encerrado. Pensou que seria desejável voltar à Itália para uma nova etapa de estudos e pesquisas, pensou em outros lugares, pensou em outros estudos. Concentrou-se em escrever um projeto, leu pilhas de livros e, quatro meses depois, estava a caminho do Peru para começar a pesquisar História da Arte na América pré-Colombo.

Passado o momento de tristeza profunda, a solução que Léo encontrou também foi refugiar-se no trabalho. Abandonou os happy hours com os colegas da agência, até porque queria evitar Laís mais do que nunca. Sentia raiva da ex-mulher, atribuía a ela seu rompimento com Verônica. Mas as semanas passaram-se uma a uma, cada uma com sete dias e cada dia com vinte e quatro horas. Sem se apressar e sem nem demorar, tudo voltou ao normal.

Depois de seis meses, os movimentos de rotação e de translação continuavam sendo executados rotineiramente pelo planeta Terra. E então, na mesma semana em que regressou a Brasília, coincidentemente, Verônica reencontrou Maria Elena, aquela ex-colega de faculdade, num bar onde amigos da universidade se reuniram para recepcioná-la de volta.

Lembrou-se do contexto em que viu a moça pela última vez, mas, desta vez, não houve modo de desviar o caminho ou fingir não ver.

- Que alegria, Verônica!

- Pois é, quanto tempo.

- Que coincidência maravilhosa! Sabe quem encontrei há poucos dias? O Léo! Falamos de você!

- Ah, é mesmo? – Verônica ficou um pouco desconcertada – Não o vejo há muito tempo, o que falaram?

- Nada demais, ele me disse que você estava no Peru.

- Puxa. Como será que ele soube...?

- Não sei não, mas a esposa dele não gostou de perceber que ele sabia de seu paradeiro! – falou Maria Elena, maliciosamente.

- Esposa? Ah, claro, a Laís, não é? – jogou verde para colher maduro.

- Ela mesma. Parece adorável.

- Sim. Ela é incrível.

“Mas que homem covarde”, pensou Verônica. “Como pude me envolver com ele?!”, indagava-se, desprovida de sentimentos de amor ou carinho, mas tomada por um ressentimento inusitado e firme. Desligou-se do mundo durante alguns minutos, para digerir a informação.

Léo lhe falara muitas coisas sobre sua relação com Laís. Antes de lembrar como era bom o começo, em que vivenciava as delícias de “um lago tranquilo”, ele enfatizava o gênio difícil da mulher, as grosserias, a má vontade, o comodismo, o jeito estreito de pensar a vida. Parecia até que o amor se esgotara havia muito, não era coisa nova. Mas em vez de permitir que os horizontes se lhe abrissem, em vez de deixar que ar puro lhe tomasse os pulmões, que uma vida nova lhe trouxesse novos amores e possibilidades, lá estava Léo, com o rabinho de Labrador entre as pernas. Verônica deixou que a decepção lhe pesasse por alguns minutos, e, num gole de cerveja, voltou-se para os amigos. “Ainda bem que eu não insisti nessa história”, foi a sensação que prevaleceu.

Enquanto isso, Léo voltava a boiar ao sabor das águas tranquilas do casamento. Prometeram nunca falar de Verônica, e assim foi. Mas, dentro dele, o altar de sua deusa estava recomposto, sem quase nem um arranhão.

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