1
2
3
4
5
- Não sabia que estava aqui. – ele gaguejou.
- Você não é o último motivo que eu tenho para visitar Florianópolis. Eu conheci primeiro ela, depois você – falou, meio ranzinza, meio debochada – A namorada não veio?
Só faltava não haver namorada nenhuma.
- Não, não. Nem sei por onde ela anda hoje, temos um relacionamento aberto.
Aberto é a puta que pariu.
Por que estava dizendo aquilo?! Teresa sentiu cócegas naquela parte do corpo responsável por produzir raiva. Relacionamento aberto?! Ora, e o que me importa? E não adianta esse sorrisinho maroto ridículo, canastrão! Antes de comover ou seduzir, vai se assemelhar àquelas bandas de pagode romântico bem cafona, de camisa multicolorida, óculos espelhados e tênis de plataforma. Cantando músicas que prometem ir buscar a lua, o sol, as estrelas, os cometas e até os buracos negros desta e de todas as galáxias em nome do amor.
- Ora, que bom para você. Desejo de coração que fique com ela e com todas as mulheres que puder.
Ele riu, ela não. Dito isso, Teresa se virou para o balcão, chamando Romeu para lhe servir outra dose. Gentil ficou no vácuo. Um pouco aturdido, afastou-se devagar, meio que olhando para trás, meio que fingindo que aquilo estava nos planos. Foi à direção de seu amigo, quase sem rumo, e sentaram-se na área externa do bar.
- Mulher, o que afinal você quer? – Romeu perguntou – Quer disputá-lo? Quem mostrar-lhe que está bem, para efetivamente sentir-se melhor? Quer esquecê-lo? Que curtir a dor? Eu não te entendo, de verdade.
- Eu quero é outra dose, Romeu. Porra.
O coração da carioca ainda estava disparado, custando a digerir a situação recém-vivida. Aberto?! Que tipo de gente meio que entra num relacionamento aberto, e diz isso a conta-gotas para as outras pessoas? Procurou desviar o foco de sua atenção para ver se controlava aquele sentimento esquisito, que escapava dela mesma na forma de respiração ofegante e um pouco de tremelique. Ao menos, a ela, parecia que estava respirando ofegante e tendo tremeliques.
Começou a correr os olhos pelo pequeno salão, pretensamente mansa, como que investigando reações, como que altiva. Apenas uma mesa estava ocupada, e eram três homens. Reparou que um daqueles homens não lhe era estranho e fixou o olhar nele por alguns segundos. Mas não se lembrava de onde o conhecia. Deixa pra lá.
Pouco tempo depois, chocou-se com o rapaz ao sair do banheiro.
- Acabaram-se os motivos de chorar? – ele perguntou sorridente.
Ela ficou muda porque realmente não lembrava quem diabos era aquela pessoa, mas era um homem bonito. Ele percebeu que a memória da senhorita falhava, e continuou:
- Talvez os procedimentos de redução de danos tenham surtido efeito.
***
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário