quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O relacionamento - 1 de 7

- Eu meio que estou entrando num relacionamento.

A confissão lhe caiu feito bomba. Não que não esperasse. Aliás, desconfiava vividamente. Os telefonemas passaram a ser esparsos, as conversas, mais curtas. Ele já não gastava suas madrugadas na internet em conversas virtuais que acendiam o peito e o corpo em contraste com o escuro do quarto e da solidão. Já não comentava com ela as desventuras do Botafogo, nem procurava saber quando o visitaria em Florianópolis.

Também, que havia de fazer? Namoro à distância já é problema. Namorico, então... Não é problema porque não existe. É um pré-namoro, é um feto, é um antifeto, é uma coisa qualquer que poderia ser, mas não é.

- Ora, Gentil, que vou eu lhe dizer? – tentava parecer altiva – Você não me deve explicação alguma.

O que disse?! “Não deve explicação”? Claro que deve! Não só deve, como devia ter dado antes! Esperar agora? Véspera de seu embarque?

- Não se preocupe comigo.

A boca não falava o que o coração elaborava. Era o susto.

Decidiu, altiva, manter a viagem programada. Ora, cancelar voo dá prejuízo. Além do mais, ir a Florianópolis sem mais ter nada com ele mostraria que ela nem se importava com aquele tal de relacionamento. Florianópolis com ou sem você, tanto faz.

O que mais lhe doía era aquele diacho de sentimento de rejeição. Teresa e Gentil poderiam significar nada um para o outro dali a poucas semanas, simplesmente porque perceberiam que não combinavam. Ou porque brigariam por causa de política. Ou poderiam ficar juntos até esgotar a vontade, e, depois disso, mal se lembrariam do nome um do outro.

Mas não. Prematuramente, o manezinho lhe informava que havia outra mulher em sua vida. Isso traz a fúria dos deuses gregos ao corpo dos mortais, e o que era um namorico que tinha a distância como componente divertido passa a ser uma paixão incontrolável que tem a distância como obstáculo. Ora, se ele estava aberto para meio que entrar num relacionamento, devia ser com ela, não com uma fulana qualquer que nem tinha entrado na história. Quem ele iria namorar? J. Pinto Fernandes?

Teresa embarcou, altiva. Chorou no avião durante todo o trajeto, sem altivez alguma. Uma hora e meia separava o Rio de Janeiro de Florianópolis, era lágrima pra caramba. Desceu do avião e ninguém a estava esperando.

O jeito é beber. Foi ao bar do amigo Romeu.


***
Continua...

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