segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O relacionamento - 5 de 7

Aqui você pode acessar as parte UM, DOIS, TRÊS e QUATRO.


Acordou ao lado do estranho sedutor. Estava muito cedo ainda, e ele já precisava partir. Recomendou-lhe que dormisse mais e que esquecesse Gentil.

- Não vou procurá-lo, te falei! – ela garantiu – Eu ainda tenho algum resquício de dignidade.

O paraense riu, beijou-lhe os lábios e saiu sorrindo. Dentro do quarto, ela sorriu de volta, para si mesma, e voltou a dormir.

O domingo começou ao meio-dia. Teresa deixou o quarto com sua tristeza em direção à Lagoinha do Leste, sua praia predileta. Nunca foi até lá na companhia de Gentil, porque é necessário percorrer uma trilha para atingi-la, e ele não era muito chegado a grandes esforços – imagine, se nem de um namorico à distância o paspalho dava conta.

Ficou ali, sentada diante do mar, durante um tempo que não calculou ou controlou. O vai e vem das águas, a quebra desigual das ondas, o horizonte bem distante, lá no fundo, tudo parecia dar conselhos. Mas não era nada do tipo “ele não te merece”. Era mais como: “passa”.

Não que a dor passe. Isso se ouve das mães desde crianças, quando se abre um machucado no corpo. Passa. Depois de adultos, não é a dor que passa. É você que passa. E faz a opção de carregar aquela dor ou não. Teresa olhava o mar e não encontrava o fim dele. Seus olhos fixaram-se no horizonte, olhando tudo que havia debaixo daquelas águas. Tanta coisa se passou. Tantos caminhos elas já devem ter conhecido, tanta gente já deve ter se deixado levar por aquele movimento. No fim, o sofrimento de agora é pequeno mesmo, porque o agora é pequeno demais.

Antes que ameaçasse cair o sol, ela se levantou e pegou a trilha de volta. Cansada, sentiu-se melhor pela primeira vez em... Dois dias.

E foi a Santo Antônio de Lisboa. Caminhou pelas ruazinhas inadvertidamente, a passos lentos, como quem não quer chegar a lugar nenhum e não vê problema nisso. A noite rasgou o céu, trazendo-lhe uma certa nostalgia, aquela dorzinha insistente no peito, uma tristeza melancólica que não cessava, mas era só o restinho dela. Talvez fosse só o fim do domingo, o fim da viagem. Vai saber.

Voltou ao bar de Romeu. Ao avistá-la, o amigo riu:

- Foi boa a noite?

- É, foi sim, o sujeito era legal.

Sentou-se ao balcão pela terceira vez em três noites. Agora, com menos gente no bar, contava com a companhia do velho amigo. Teresa parecia calma, mas o corpo estava cansado. A alma também estava esgotada, coitada. Chega, Teresa. Deu.

Não demorou muito tempo e um rosto bastante familiar adentrou o bar, falando alto e dando risadas. Seu peito fez-se água e escorreu pelo sangue. Era Gentil, acompanhado de um amigo.

Ele a viu e se dirigiu até ela, sem jeito, um pouco surpreso pelo encontro.

- Tudo bom?

- Tudo sim.


***
Continua...

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