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- Moço, o senhor me consegue uma cerveja dessas suas? Eu pago.
- Não estão para vender.
- Eu pago.
- Não estão para vender.
- Eu pago o dobro.
O homem usava um chapéu panamá. Tinha um rosto magro, comprido, decorado por uma barba rasa, que era um marrom meio iluminado. Era bonito. Deu logo uma lata de cerveja àquela louca, para evitar chatear-se. Só prestou atenção nos olhos dela segundos depois.
- Não chore não, moça!
- Pois eu quero é chorar, não me amole.
- Pois então chore, que chorar é bom. E chorar num porre é quase política de redução de danos.
Teresa desfez a expressão tristonha e olhou o rapaz como quem representa um ponto de interrogação. Não disse nada, desfocou sua vista para melhor refletir sobre aquela condição, e, quando notou, talvez muito tempo depois, os bêbados já estavam longe. Ainda cantavam.
Começou a desenhar na areia. Lembrou que, na bolsa, havia lápis e um caderno. Deixou as mãos andarem sozinhas pelas folhas, e elas produziram alguma coisa. Aos poucos, foi-se configurando um desenho inovador, inspirado, interessante. Um novo jeito de olhar para a tristeza que há intrinsecamente no mundo e no amor, um aglomerado de sentimentos confusos, que se combinam e se contrapõem a sentimentos desconhecidos e imprevisíveis que vêm de outrem.
Quando Teresa se despertou, nas primeiras horas da manhã, estava jogada na praia, ao lado de sua obra, e ela era horrível. Ainda tinha uma lata de cerveja quente pela metade.
Olhou ao redor, não havia ninguém. Havia, isso sim, uma dor de cabeça lancinante. Que ideia imbecil beber sem ter jantado. Pensou que acabara de atingir o fundo do poço, o subsolo que fica abaixo do fundo do poço, talvez até o magma terrestre. Ia chorar de vergonha de si, mas, enfim, já tinha chorado demais. Levantou-se, a roupa repleta de areia molhada, a cara amassada e toda borrada de maquiagem derretida. Lavou o rosto no mar e foi embora, carregando a sandália nas mãos. Não sabia aonde ir.
Pegou um ônibus, foi parar na Joaquina. Entrou de roupa naquela água estupidamente gelada, numa tentativa desesperada de conter a ressaca. Pior seria se pegasse uma gripe braba, afinal, por estar tão frágil, imunidade baixa, ela se tornaria uma pneumonia. Que Gentil chorasse eternamente sua morte precoce. Faria um desenho para registrar que morreu de amor. De amor nada, de desgosto. Ele se sentiria culpado para o resto da vida.
Começaram a chegar surfistas à Joaquina, e então ela saiu de lá. Foi à lagoa. Procurou camarões, queria comer camarão. Nada de morrer de pneumonia, vamos morrer por intoxicação alimentar. Choque anafilático. Qualquer coisa assim. Já que é para perder a dignidade, que seja de uma vez.
E porque a vida é mesmo cruel, lá vinha Gentil. Lindo como sempre, de chinelos, uma manhã de sábado lhe pulsando nos olhos.
***
Continua...
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