Já que ontem foi o Dia das Mães, um bom artigo da minha amiga e companheira Tica Moreno, militante da Marcha Mundial das Mulheres, sobre o tema, numa perspectiva feminista. Retirado do blog 300: www.trezentos.blog.br.
As propagandas do dia das mães (e das semanas anteriores) rendem milhares de agradecimentos à todas as mães. “Aquela que depois de um dia de stress no trabalho chega em casa e, sorrindo, cuida da casa, das crianças…” (Renner). Sorrindo =)
Tem também o Ponto Frio, que ajuda os filhos na hora de escolher o presente: “quer fazer sua mãe feliz?” …(muitas fotos de eletrodomésticos, em varias parcelas)… “Renove a cozinha da sua mãe!!”
A gente já sabe que o mercado aproveita todas as datas possíveis pra vender, vender, e vender mais ainda. As vendas para o dia das mães só ficam atrás do comércio perto do Natal. E as propagandas aproveitam pra reforçar a idéia hegemônica de que as mulheres têm que dar conta de trabalhar fora (ganhando em média 70% do que os homens ganham) e trabalhar muito dentro de casa, no trabalho doméstico e de cuidados (das crianças, do marido, dos seus pais, mães, sogras e sogros…) Sorrindo! Afinal de contas, os eletrodomésticos estão aí pra ajudar!
Mas nós precisamos mesmo que os homens estejam aí também, pra dividir! E que o Estado reconheça a enorme quantidade de trabalho que as mulheres fazem todos os dias pra garantir a reprodução social. As feministas propõem que esse reconhecimento se materialize em creches públicas, restaurantes e lavanderias coletivas, etc. No início do século passado, as socialistas já apontavam essa necessidade pra construir igualdade de fato entre homens e mulheres. A revolução russa avançou um pouco neste sentido, promovendo (pouquinhas) ações de socialização do trabalho doméstico. Algumas prefeituras no Brasil também investiram nessas políticas. Mas os dados de 2007 mostram que só 17,1% das crianças de 0 a 3 anos frequentavam creches (públicas e privadas). Outra informação do site do IBGE, sobre os dados da PNAD 2007:
Na análise das famílias, os números mostram que a existência de um cônjuge masculino dentro de casa representa um aumento de cerca de duas horas semanais em afazeres domésticos para as mulheres que se declararam responsáveis pelo domicilio. Entre estas mulheres, a maior jornada observada em afazeres domésticos ocorre nas famílias formadas por casal com filhos menores de 14 anos (29,7 horas semanais) mas , neste mesmo tipo de arranjo, onde a mulher não tem cônjuge, o tempo médio despendido é de 27,6 horas.
A socialização do trabalho doméstico continua sendo uma demanda atual, é uma das necessidades para superar a divisão sexual do trabalho, e possibilitar igualdade e autonomia para as mulheres.
A gente tem mesmo que agradecer todas as mães que passam por muito perrengue pra dar o melhor pros filhos… E, além de agradecer, a gente tem que lutar pra transformar as relações desiguais, e garantir, para todas as mulheres que decidam ser mães, que a maternidade seja sempre mais prazer que perrengue.
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