quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Eu que não fui feito para esquecer

Uma das frases mais belas que meus olhos conheceram é produto da tristeza à qual Mário de Andrade se lançou em decorrência de sua ruptura com Oswald de Andrade. Ele afirma em carta a sua amiga Tarsila do Amaral:

"E então eu, que não fui feito para esquecer, não será possível jamais que eu me esqueça, nem de ninguém nem de nada".

A não vocação para esquecer parece fazer arder ainda mais a derradeira desavença, que ele assim caracteriza: "Eu sei que somos todos vítimas de um ventarrão que passou. Passou. Porém a árvore caiu no chão e no lugar duma árvore grande, outra árvore tamanha não nasce mais. É impossível".

O caráter irrevogável de certas dores é assustador. Mas é capaz de produzir belezas de igual proporção, que ficam pulsando eternamente no adormecer das palavras.


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