terça-feira, 15 de junho de 2010

"O mito da maternidade é um saco"

Alberto:
(...) Então tá, vejo isso e te retorno. Ah! Como tá seu sobrinho?

Mariana:
Tá ótimo. Mas os pais são dementes.

Alberto:
hehehe... por quê?

Mariana:
Fico enojada de ficar perto deles com o pobre bebê.

Alberto:
O que foi desta vez?

Mariana:
Nada demais. O mito da maternidade é um saco.

Alberto:
Ahn?

Mariana:
Aquilo de corujice, imbecilidade, entende? Conhece a fábula da coruja que teve filhotes?

Alberto:
Não.

Mariana:
Claro que conhece. Todo mundo conhece. Olha eles: “O Miguel sorriu pra nós hoje! Vamos pintar um quadro, depois, vamos fazer uma exposição no Pátio do Colégio, afinal, é inacreditável”. Porra.

Alberto:

hahaha, não exagera, vai... você está sem paciência porque são vizinhos.

Mariana:
É sério. Você não se enoja? Eles acham que são pais de um ET. Devem estar comprando um telefone e uma casa pra ver se a criança se identifica.

Alberto:
“Enojar” é um pouco demais... acho meio besta, mas enfim. Quem sou eu? Quero ter os meus, um dia.

Mariana:
Besta? É muito chato! Bicho, é uma criança rindo. Crianças riem, isso não tem nada demais. Não faz de ninguém um ser extraordinário, acima do normal, tocado por Deus. Não precisa ser filho do sol pra rir.

Alberto:
Mas se ele não for especial pros pais, vai ser pra quem? Pais são assim mesmo, ficam bobos.

Mariana:
“Bobos” é generosidade sua. Filhos sempre são especiais, ok, não tô discordando. Mas tem limite. Credo. Coitada da criança. Imagina se um dia alguém disser pra ele que ele não é rei do continente. Vai ser a primeira grande decepção da sua vida. Nunca vai se recuperar. Haja terapia.

Alberto:
Mas você também elogia sorrisos bonitos, até de atores de televisão.

Mariana:
Uma coisa é você achar um sorriso bonito. Outra coisa é você achar que é espetacular, extraordinário, prova da existência de Deus e da capacidade extraterrena de uma criatura. Porra, todo mundo ri! Não tem nada demais nisso.

Alberto:
Hahahahaha... quantos adjetivos...

Mariana:
Eles passaram horas falando das habilidades extrassensoriais, dos talentos irrefutáveis e dos poderes inacreditáveis de um bebê de 3 meses! Eles pensam que geraram Einstein! Porra, como assim??? É uma criança normal, como outra qualquer, que faz coisas que toda criança faz quando tem essa idade. Imagina quando o menino começar a andar! Eles vão achar que todos os planetas do Sistema Solar vão bater na porta pra saudar o feito inacreditável. Que nem os reis magos, mas mais cintilantes.

Alberto:
Você tá certa, é uma criança normal... só tem um detalhe que você esquece: é o FILHO deles.

Mariana:
E daí? Poderia ser de outra pessoa qualquer. Ia ser igual e fazer as mesmas coisas que qualquer criança faz.

Alberto:
Mari, Deus a perdoe.

Mariana:
Bem lembrado. Nem Deus trata assim seus filhos. Logo o primogênito já foi expulso do Paraíso!

Alberto:
hahahahahahaha

Mariana:
Bom, vou desligar. Tá chiando. ODEIO este telefone. Que nojo.

Alberto:
Você tá com nojo de tudo hoje, hein.

Mariana:
Olha, vou te repassar um e-mail que enviei há alguns minutos pra um devedor da firma. Daí você vai ver o tamanho do meu nojo hoje. (...)

2 comentários:

Anônimo disse...

Desculpe, admiro mt vc, mas achei que o texto reafirma uma lógica de birra e intolerância e não contribui para nenhum debate sobre maternidade ou respeito às crianças.

Ludimilla disse...

huahuahuahauhauauahaua
Muito bom, Alê! Engraçado e leve. BJKS.