Quantas vezes se não lhe disseram que aquele amor não prosperaria, que era impossível manter-se enamorado pela lua? Mas o menino trazia um céu de serenidade nos olhos, e, se sentia saudades ao longo do dia, a chegada da noite o acalentava como abraço nenhum neste mundo. Conversavam, trocavam confidências, cuidavam-se, beijavam-se silenciosos, banhavam-se em leves águas prateadas, e ele se deixava levar, às vezes, mais do que devia. Claro que doía o trajeto de volta ao ponto de onde não é permitido ultrapassar. Mas sentir dor é coisa da vida. No plano dos sentimentos, não há experiência que não cause dor. E se houver, há de ser coisa infeliz, porque incapaz de sentir com o corpo e a alma inteiros de uma vez.
Quem se apaixonava por estrelas cadentes ou seres humanos, casava-se, gerava herdeiros, dividia contas, problemas e soluções, jamais conseguia entender aquele amor. É fadado ao fracasso, evidente!, acusavam.
E são diferentes as estrelas cadentes e os seres humanos?, perguntava ele, curioso. São perfeitamente harmoniosos esses encontros? Você consegue suportar as contradições imprevisíveis como eu posso suportar as previsíveis? E via pelo mundo traição, violência, mentira e desamor. Por que meu amor é menos real do que isso? Por que temem pelo meu sofrimento se ele é comum a todos nós?
Ora, já se apaixonaram pela lua antes, respondiam-lhe. Nunca vingou, é história pré-determinada: acaba triste.
E o menino assistiu, ao longo de décadas, romances de estrelas cadentes e seres humanos se acabarem tristes. Por traição, violência, mentira, desamor, ou mesmo pela morte. No renascer das almas, aqueles seres não se reconheciam mais. Enquanto isso, o fim jamais chegou para ele e a lua. O menino renasce em flor, coruja, pássaro, borboleta e ser humano, sempre no mesmo amor, e a lua continua iluminando-o risonha em prateado, como se fosse a primeira vez.
Leonid Tishkov, Private Moon |
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