O coração gosta de florescer, e se abre em primavera para a vida sempre que pode. Procura o pólen, inventa dias de sol, e se precisar da chuva, o coração sabe chover. A gente inventa os motivos. A gente sabe fazer.
E se não houver música para ouvir, a gente canta. E se cantar for difícil, a gente escolhe uma música mais fácil. Quando chove, a gente chove junto. Eu chamo Belchior para chover em mim. Quando não há plantação plantada, a gente planta agora, dane-se atraso. Eu rego com vinho e lágrimas, eu peço as desculpas que for preciso, e o coração pulsa tanto que só pode ser sinal de um tempo bom.
Sentir a pulsação do coração é tão bom que a gente nem pensa para onde esse maluco está indo. Ele se joga porque ele renasce, ele não consegue morrer, e cada vez que você assina a certidão de óbito, ele se faz de morto para reviver na primeira esquina em que você passar desavisada. E pulsa, então, na direção que quiser, sem que você tenha conseguido controlar ou antever. Agora, não reclama da falta de convencionalidade.
E se você pensar que não pertence mais a aqui, aqui ressuscita em outra carne, e se levanta em caras e tempos de outras pessoas e motivações. Levanta a bandeira, que essa é sua sina, ela nunca vai te largar. Não adianta desdizer nem maldizer a mãe que te inventou. Levanta a bandeira, e quando você a levanta, precisa da força da pulsação do coração que, satisfeito, te ajuda. Meu coração não é meu, ele corre para onde quer. Eu que sou dele.
Você pensa que morreu. Mas este ano, eu não morro.
A gente se apaixona no descuido. E o descuido é perigoso, mas a gente está aqui pra sobreviver a ele.
A falta nunca será preenchida. O vazio faz é aumentar. Mas aumenta, também, o espaço para caberem novos amores e personagens. A vida renasce, a vida floresce. E eu só consigo sentir gratidão. Por ter tido as minhas amigas na minha vida, por elas terem me transformado. Por ganhar novos amigos agora. Porque meu coração pulsa, porque eu sinto frio na barriga, porque eu sinto tanta inquietação que eu não consigo seguir o dia se eu não escrever.
E tudo que eu pensei que não havia, renasce. Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto. Eu sempre vou cantar.
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