segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Herói Humano

Era um herói tão humano
Que algo lhe iria assustar.
Para os outros, destemido.
Para ele, alguém a buscar
Uma coisa que perdera
N'algum outro lugar.

Não sabia bem o que era,
Nem onde iria encontrar.
Saiu a ganhar o mundo,
Chamando na flauta a dó
De quem nada tinha a ganhar.

Certa vez, nosso herói
Atravessou um deserto
Sozinho.
Nem percebeu o caminho.
E quando chegou, cansado,
Mal teve o tempo parado
De orgulhar-se de si.
Logo viria a partir,
Desbravar novas terras inglórias,
Recompor-se no som da memória,
No tom das dores ardidas
Cantadas em verso e prosa
Em todo canto da vida.

E ele não temia.

A montanha era alta,
As árvores, pouco amistosas,
O chão, superfície rochosa
A desafiar sua flauta.

O frio não lhe assustava,
O escuro era seu camarada.
As pessoas eram sem rosto
Os livros não tinham consolo.

A flauta ainda cantava...

E seguiu, sem armadura.
Como fosse familiar.
Mas tudo mudou de figura
Quando o herói chegou lá...

Lá era maior.
Fez caretas para assustar.
E nosso herói destemido
Preferiu o trajeto voltar...
Por vias sem acidentes,
Para bem longe de lá.

E quem poderia supor
Que o calcanhar de aquiles
Do bravo compositor
Era lá
Maior do que a própria montanha,
Que toda blasfêmia e infâmia,
Que com as próprias mãos escalou?

Nenhum comentário: