Eu sou noveleira confessa e não tenho vergonha.
Outro dia, não sei por que, lembrei de uma novela que vi muitos anos atrás. Muitos mesmo. Nem ficou para a posteridade, acho que era ruim. Era de 18h. Tony Ramos era o personagem principal, um cara que tinha memória de vidas passadas. Tinha vivido um grande amor impossível, acho que foi morto por isso e, em seu leito de morte - ou no dela, não lembro -, combinaram de se encontrar numa vida posterior. E lá estávamos nós acompanhando a vida posterior.
Ele tinha consciência de estar procurando essa mulher da vida passada. Chegou a um velho casarão que quase caía aos pedaços, e lá estavam uma moça (Viviane Pasmanter), um senhor idoso (Elias Gleizer) e uma criança (x). Todos muito pobres, sem teto. Tornaram-se grandes amigos dele, parceiros nessa busca. O casarão tinha a chave da resposta. Foi lá, em séculos passados, que a história andou.
O mocinho se apaixonou por uma mulher (Helena Ranaldi), e outra se apaixonou por ele (Paloma Duarte). Esta, sabendo da ânsia do Tony Ramos pela princesa da sua lembrança, chegou a se fazer passar por ela. Ele tentou, a novela inteira, descobrir em qual das duas residia sua "Valentina" - o nome dessa personagem foi o único que eu não esqueci.
No final da novela - cujo nome não lembro de forma alguma -, a mulher que tinha sido seu grande amor na outra vida era aquela que, agora, se tornara sua melhor amiga (Viviane). Apaixonada por outro. E ele, pela Helena Ranaldi. Não terminam juntos, porque cada um tem seu próprio final feliz nessa vida que acompanhávamos. Tinham amor um pelo outro, amor de amigos, de companheirismo. Cada um tinha sua própria vida, afinal, sem serem reféns do destino ou de uma promessa feita há tanto tempo ( ! ).
Eu, adolescente que era, adorei a imprevisibilidade. Hoje, lembrando, gosto da ideia de que não há destino, nem "amor da vida". O amor está onde você o coloca, e sempre tem contexto. SEMPRE tem contexto. Tipo... viver agora aquele grande amor que você não pôde viver dez anos atrás talvez não faça sentido.
Imaginar finais para histórias que nunca puderam continuar é tarefa para roteiristas, escritores, poetas. A idealização do que nunca foi, rivalizando covardemente com a vida real. A glamourização do "se". A invenção do sim. Enquanto isso, a vida real acontece do lado de fora de si.
Quem presta atenção demais ao que passou sem nunca ter sido, somente cria novas situações de frustração para depois... O belo casarão sempre vai estar lá. Mas a Valentina não vai ser pra sempre a mesma pessoa.
Um comentário:
Muito oportuno suas palavras, pois a cada fase da vida esperamos sempre um algo a mais que nunca chega, porem ao chegar-mos anos adiante nos damos conta que o que vivemos era o que nos faz falta hoje. @rmsderivado!
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