sexta-feira, 21 de junho de 2013

As epifanias e a dança da esperança

Subia a ladeira apressada, mas sem vontade. O corpo todo doía, principalmente as costas. E mais ainda, o coração. Engana-se quem pensa que o palpitar do coração é embalado apenas nas paixões por pessoas desta vida. O coração apaixona-se por muita coisa, e sente as dores dos ataques às coisas bonitas em que acreditamos.

Subi, cheguei atrasada para o almoço. Na minha cabeça, tinha um nó. Se ninguém sabe bem o que está acontecendo, por que eu haveria de saber? Mas senti que a alegria inicial que o processo me desencadeou, pela beleza da tomada das ruas por um objetivo coletivo, pela beleza de conquistar uma vitória importante em meio a isso... Essa alegria foi subitamente substituída por uma tristeza que não tinha origem e que ocupava o corpo e a alma agora.

A tristeza de constatar a intolerância contra os seus. Não é porque poderia ter sido comigo. É porque foi contra gente que dedicou e dedica muito tempo de sua vida para lutar pelo que acha justo, não para si, para todos(as). Gente assim foi agredida por portar bandeiras. Rasgaram suas bandeiras como quem quer rasgar sua esperança. E eu não tô falando só de petistas quando falo "nos meus".

Senti em mim todas essas dores. A dor do Itamaraty, obra de Niemeyer, em chamas em Brasília. A dor dos ataques sofridos pela esquerda. Aqueles que acordaram agora atacando quem sempre esteve desperto e em luta por igualdade e justiça. E sempre apanhou por isso, inclusive, da mesma mídia que hoje os apoia.

Subindo mais, ouço gritos. "Alê, Alê!". Não encontro. "Olha para cima!". Um amigo me chamava com um sorriso, como quem pede "fique bem". Sorri porque é bom ver um rosto amigo lhe sorrindo nessas horas. E segui o trajeto.

Ao chegar ao trabalho, outro amigo chama no chat da internet: "Alê, estamos fudidos". Eu ri. A isso se seguiu uma conversa sobre o que deveríamos fazer para não mais estar... assim. rs...

E 70 pessoas discutiam avidamente: o que fazer? Por que isso aconteceu? Aonde isso vai levar? Aonde queremos que chegue? Precisamos gritar, precisamos gritar! A beleza das pessoas que se organizam para defender sua história, sua identidade, seus sonhos. Principalmente seus sonhos. Coletivos. Não são os erros do caminho que vão atrapalhar a gente de persegui-los.

Xô, tristeza. Ela deu lugar ao sorriso do Tiago, ao sarcasmo atento do Borgonovi, ao turbilhão de ideias, planos, vontades e determinação de gente da minha geração que está acordada há muito tempo, com muita história pra contar e ainda mais história para escrever. Brava gente, já que está na moda usar trechos de hinos.

E quem há de sucumbir à tristeza, quando há tanta beleza pela vida?

Os laços solidários que me unem a essas pessoas sempre salvam meu dia. Por isso, meus camaradas, a tristeza não me abateu, e eu estou aqui para defender a alegria. A minha, a de vocês, a do povo brasileiro. Contem comigo nas trincheiras vermelhas sempre. Não passarão!

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