Um artigo despretensioso para analisar a conjuntura, sob as emoções dos resultados da eleição para Presidente da Câmara Federal ontem.
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O que aconteceu ontem não foi surpresa. Não foi fato isolado. Não foi incoerente com o que o PT vem fazendo há, no mínimo, 20 anos. Isso não é "errar na tentativa de acertar", não. Isso é ESCOLHA POLÍTICA, uma escolha feita há muito tempo, diante da qual houve e há muita resistência; resistência que foi, por diversas vezes, esmagada com autoritarismo.
Um setor do partido fez SIM uma opção que nos conduziu a esse processo todo. As políticas de alianças, o pragmatismo eleitoral, as concessões programáticas. Entramos num jogo aceitando jogar sob as regras dos adversários, muitas vezes nos misturamos com eles, muitas vezes nos rebaixamos ao nível deles. E lhes demos espaço e os mantivemos no poder. Isso não é o imponderável, esse não é o único jeito, e não foi decidido coletivamente que seria assim.
Não tem conversinha fiada de "vem disputar o fórum partidário" que me convença de que eu também tenho responsabilidade pelo que está acontecendo. Eu fiz isso enquanto minha saúde física e mental aguentou, e fiz muito. Fui dirigente municipal e estadual do PT. Integrei a Secretaria Nacional de Mulheres. Disputei com sangue, suor e lágrimas opiniões e ações. Trabalhei muito. Fui derrotada na maioria das vezes.
Eu não vou aceitar a responsabilidade coletiva não. E com isso, não estou responsabilizando a maioria do partido de forma monolítica. Mas camaradas, não se enganem: escolhas foram feitas. Alguém fez. E uma parte delas foi feita fora das tais instâncias partidárias, inclusive.
Nossa presidenta sofreu um golpe articulado e encaminhado por quem foi considerado aliado nesse maldito presidencialismo de coalizão em cujas estruturas não ousamos mexer. Eu sei que foi pelos nossos acertos que tomamos o golpe. Mas foram os erros que abriram o caminho pra ele. E ontem, vimos parte do PT votar num sujeito pertencente ao agrupamento que nos usurpou o poder, e achar que isso poderia dar certo em qualquer critério que se queira adotar. Vimos parte do PT ajudar a eleger Presidente da Câmara um verme político, leal e legítimo representante da nojenta elite colonialista brasileira, guardião de propostas conservadoras, privatistas e que certamente arrancarão direitos da classe trabalhadora que tanto nos custou conquistar.
Os Governos Lula e Dilma, por contradições que nos tenham trazido, melhoraram a vida do povo. Trouxeram para o centro do poder itens de um programa democrático e popular que é a jóia mais linda que a gente já produziu. A gente sabe, a gente defende com unhas, dentes e garras essas conquistas. Mas a direção do PT achou que poderíamos governar em conciliação com os setores que sempre desejaram "se livrar da nossa raça". Incorporamos suas práticas e adotamos suas opiniões muitas vezes. Na primeira oportunidade, eles tomaram de assalto a presidência, num golpe ao qual não pudemos reagir, porque não conseguimos construir força política para isso. Só construímos coalizão.
Eu aguardo há dez anos alguma autocrítica. Alguma sinalização de que um dia vamos discutir o que foi que deu errado. Um mínimo de balanço sério e decente dos últimos 14 anos. Não é pra apontar dedos na cara. É pra crescer. É pra ser melhor. É pra estar à altura da conjuntura.
Mas infelizmente, nós não estamos à altura da conjuntura. O que aconteceu ontem é só o desfecho de toda essa tristeza: a gente não só não vai fazer autocrítica, como vamos insistir no erro quantas vezes o erro se apresentar para nós. Parece até que esse setor se convenceu do erro, mesmo. É por isso que eu não aceito e não vou aceitar a coletivização da "culpa".
Eu sei o tipo de coisa que posso ouvir e/ou ler por estar dizendo tudo isso. "Vocês também sujaram as mãos", "Se a parte ruim é nossa, a boa é nossa também", "Vocês se beneficiaram dos tais erros" e baboseiras desse tipo, sem nenhum valor político, muito menos moral. O que só me fará ter mais certeza de tudo que escrevi acima: não estamos à altura da conjuntura.
E lá vamos nós para as eleições municipais, como se nada tivesse acontecido.
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