Ora, e quem há de me condenar?
É o amor quem me redime diariamente,
Tão irremediável quanto a morte,
Tão incorrigível quanto a passagem do tempo.
Quem haveria de me impor limites?
Se o pensamento é livre e voa
Ainda que o corpo esteja encarcerado em normas,
E que os movimentos estejam controlados
Pela moral dos que fazem a moral
Alheia à vida real
(que é tão amoral!)
Somente para criminalizar
A nossa própria humanidade
E meter-nos a culpa para nos imobilizar.
Quem atirará a primeira pedra?
Aquela que fere o corpo
Mas fortalece o desejo da alma
De subverter a lógica estúpida e mesquinha
Das gentes que teimam em não amar
Mas em obrigar-se ao fardo
Ignorando a beleza do saltitar espontâneo do coração
Cobrindo a vida de correntes
Para sacar-lhe o que tem de mais belo:
O movimento.
Mas eu vos direi, no entanto:
A vida não cabe nos seus códigos
O amor não descansa mesmo amordaçado
É ele quem me dá pão e água
Que, envoltos em olhos, bocas e braços,
Fazem-se peixe e vinho,
E assim, me alimento da presença
Para sobreviver à ausência que depois vem.
O senso que me orienta
Anuncia-se no ardor irrequieto da minha pele:
É o pulsar incessante e contente do meu peito em festa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário