O amor envolve tanta coisa, que dá preguiça só de pensar. Como um bolo de roupas pressionadas uma contra a outra, envoltas por um elástico (ou coisa do tipo) pra caber numa mala de viagem.
O amor envolve o teu medo de se relacionar e a minha pressa de me aprumar. Envolve os traumas e as manias que acumulamos solitariamente no caminho que um percorreu até o outro. Amor envolve um certo orgulho, envolve vergonha também, paciência, e um sem-fim de dúvidas e de vontades.
O amor envolve meu medo de me relacionar e a tua vontade de viver só. Tua sede de noite e minha necessidade de dia. O amor envolve meus fantasmas, teu tédio, os romances que leste e as minhas lembranças de família, derramadas dum baú.
O amor desenvolve as minhas teorias sobre o tempo e as tuas hipóteses sobre o nada. Desenvolve conversas perdidas na história e desejos mal-resolvidos; desenvolve porque, como coisa viva, não pára de ir pra algum lugar enquanto não morre. O amor desenvolve o medo da morte e a paz da vida.
O amor desembrulha pequenas coragens, temores ocultos, o amor desembrulha os corpos e os mergulha um no outro só pra mostrar que o que é real se toca. O amor desembrulha presentes e passados, anseia o futuro perigosamente e embrulha estômagos com ansiedade e poréns.
O amor envolve a nossa música, as manhãs de sábado, as tensões na nuca. O amor envolve uma disposição assustadora para a eternidade, e tenta a todo momento escapar da juventude pra dizer que não se aprisiona em lugar nenhum.
O amor envolve o que meus amigos pensam de você, e o que sua mãe te predestinou desde sempre. O amor envolve os times opostos, o vinho e a tequila, o samba e o rock, a praia e a chapada. O amor é birrento porque, de tanto medo de que o matem, prefere dominar a própria morte suicidando-se.
O amor envolve a pele áspera do teu braço, os dedos curtos do meu pé, os olhos fundos, os dentes tortos. O amor envolve nossa diferença de altura, de idade, de origem, de endereço.
O amor envolve as concepções que há sobre ele e devolve os formatos que inventaram para senti-lo. O amor balança, dança, bamboleia e se esquiva docemente das fórmulas que o sufocam, o amor sobrevive. O amor floresce nos jardins, nas árvores e no mato também, o amor acontece, o amor cresce; o amor não tem dono nem relator.
O amor desenvolve o conflito de expectativas e o receio de se subordinar. O amor desenvolve a inércia mal-explicada pela física, o curso do rio; o caminhar cansado e desconfiado pra um lugar desconhecido, o amor cassa às vezes. O amor desembrulha aquilo que está e fecha os olhos pra ser feliz. Mas o amor também rasga a fantasia para se atirar numa realidade irremediável de amor.
O amor me envolve como um abraço caloroso num dia de inverno. O amor envolve o que eu esperava e você que veio, o que eu sempre sonhei e você que sonha. O amor envolve um sem-nome de tipos de esquivar-se, justificativas, racionalidades, exclamações e coisas pequenas. O amor desenvolve as coisas pequenas e as deixa grandes.
O amor desvia, e na mesma via, sem querer, desavisado, por um momento, afrouxa o elástico, e as roupas vão ao chão, espalham-se.
O amor, agora, envolve eu e você. Mais nada.
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Aos amigos e amigas, desejo um 2015 cheio de amor!
Um comentário:
Acabei de ver o clip no Youtube: Hummmm, não sabia que você me sai tão fotogênica...
Parabéns!
Como diria Aracy de Almeida: "Déix mângos pra morena!!!"
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