Eu fujo, que nem vampiro foge da luz do dia, de todo tipo de discurso de medo, de esgotamento, de fim dos tempos. Acho importante inserir cada momento num processo histórico, e saber que, na luta de classes, vivemos momentos de ofensiva e momentos de defensiva. É dureza, mas cabe a nós encontrar uma maneira de enfrentar esta desgraceira, com as armas que temos e sem achar que o mundo acabou. A própria História mostra que mundo é maior do que a gente e o nosso tempo.
É óbvio que, pela própria correlação de forças e desigual distribuição de todo tipo de recurso, a capacidade de reação da direita colonialista torna seus momentos de ofensiva mais eficazes que os nossos. Não é óbvio, porém, que nos sintamos amordaçados ou limitados como se fosse essa uma situação imponderável.
Mas confesso a vocês que quando eu leio uma notícia absurda, ofensiva e autoritária do naipe "STF autoriza que aulas de religião em escolas públicas sigam um único credo", é aí que eu mais sinto vontade de deitar na rede e ficar esperando a conjuntura passar. Furar o dedo no fuso de uma roca e dormir cem anos.
No "irônico" (contém ironia) momento em que a corja mais reacionária da sociedade me vem com as churumelas da tal Escola Sem Partido, ou com a ameaça de revogação da lei que determina o ensino de história e cultura indígenas e da África, ou com o fim das aulas de artes, sociologia e filosofia no Ensino Médio; é aí mesmo que essa outra corja, tavez pior ainda que aquela, que é o Judiciário brasileiro, autoriza a doutrinação religiosa nas escolas PÚBLICAS, atropelando de morte o pobre do Estado laico e qualquer mínimo princípio democrático - pra nem falar de liberdade. É inacreditável a cara de pau. Os caras estão com muita certeza de si, mesmo.
Eu sou daquelas que acha que a gente deve fazer como o velho marinheiro, que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar. Mas olha, só com muito amor no coração, fé na vida e samba na veia mesmo pra resistir à vontade de dar a mão pro nevoeiro e se atirar no mar com uma bola de chumbo no pé.
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