O editorial da Folha de hoje (1º de setembro) é uma aula de autoritarismo e prepotência. A turma da ditabranda publicou em sua página 2, sob o título de "Lula e a imprensa", texto que repudia e "analisa" de forma preconceituosa, elitista e arrogante as críticas feitas pelo presidente à grande mídia nacional (em geral, ele costuma destacar o tratamento desigual dispensado aos dois principais candidatos à presidência da República e a má vontade com seu governo).
Ao longo de todo o texto, o que a Folha quer dizer é que Lula critica a imprensa porque não aceita críticas. Ora, fica claro para qualquer leitor menos desatento que, ao agir dessa forma, é a Folha que não aceita ser contestada.
Vejamos. Ao longo das malfadadas linhas a que me refiro, a Folha autointitula-se "imprensa crítica", "jornalismo livre" e, explicitamente, coloca-se como 4º poder - lado a lado com executivo, legislativo e judiciário, mesmo não tendo sido eleita por ninguém para exercer essa tutela dos nossos direitos e do nosso "livre" pensamento.
Ora, a Folha é livre sim, mas num país de amordaçados. Muito mais livre do que deveria. Sim, liberdade tem limite. Quem nunca ouviu a velha história de "a liberdade de um termina onde começa a do outro"? De maneira que se a Folha é absolutamente livre, a liberdade de muita gente está invadida e cassada por ela.
E mesmo essa liberdade excessiva não implica que seu jornalismo seja livre. Muito pelo contrário. Ele é absolutamente preso às suas opções políticas e à sua visão elitista e conservadora do mundo. Ele é preso porque desde a montagem da pauta, passando pela abordagem da matéria, relação de entrevistados e escolha de fotografias para ilustração, tudo isso são escolhas políticas. Ingenuidade acreditar que não.
A Folha não foi eleita para representar a sociedade civil em espaço algum. Não tem concessão de "vigilância" dos poder. Faz isso como a empresa que é, que quer vender seus jornais, conquistar mais e mais patrocinadores e disputar consciências para construir sua opinião - ou fortalecer a opinião do conjunto que a inlcui. Faz isso movimentada pelos seus próprios interesses e o dos "seus". Eu sei bem quem são os "seus". Fica claro a cada página, a cada dia.
Em dado momento, o jornal retoma o preconceito odiável contra Lula e sua escolaridade, referindo-se irônica e cinicamente à falta de "habilitação conceitual" do presidente para entender a imprensa. Mas, ao que tudo indica, tem faltado habilitação conceitual e moral à Folha para compreender que Lula é muito melhor comunicador que ela.
Portanto, se eu pudesse falar com a Folha, eu diria: menos. Não me parece que as críticas de Lula à imprensa tenham qualquer origem em medo de nenhuma espécie. Mas sim, me parece que a Folha - embora tenha sido bastante poupada pela ausência total de políticas que visem à democratizar as comunicações neste governo - pode percorrer o mesmo caminho que levou ao triste fim da revista Veja: a opção consciente por abrir mão de assinantes para poder se tornar um panfleto reacionário.
A arrogância elitista da Folha, num editorial como esse, meramente demonstra seu incômodo por tentar, em vão, mudar o curso da história no país. Imagina só como ela vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença.
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É um grande desafio propor a democratização das comunicações como uma questão central para o próximo período. Esse monopólio precisa acabar. Direito à comunicação significa que não precisamos só ouvir, podemos falar. Sem mais amor reprimido, grito contido, samba no escuro.
2 comentários:
Por isso que não leio esse jornalzinho. Sei das suas obrigações profissionais, mas eu leio o Estadão. Pelo menos são abertamentereacionários, não pagam de democratas, modernos.
Acho importante ler, ou passar os olhos,para saber que tipo de informações estão sendo disponiblizadas para as pessoas, filtrar e absorver só o necessário...Mas é fato que ás vezes filtro tanto que só retenho a previsão do tempo e olhe lá...
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