quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Maluf, Tuma e Colasuonno: que trio hein?

Mais um... da Folha de S. Paulo de 28/11.

A Folha (que considera que o Brasil viveu uma ditabranda) "esquece" de dizer que os militantes cujos corpos estavam em Perus e na Vila Formosa foram assassinados pelo regime militar, por defender a democracia. Maluf, Tuma e Colasuonno são cúmplices desses assassinatos. E estão na vida pública até hoje, ganhando bem e interferindo na vida de milhões de brasileiros. Tristeza...

A América Latina vem vivenciando um processo muito interessante com a ascensão de governos populares, progressistas ou de esquerda. Quase todos têm feito questão de acertar suas contas com o passado recente de tortura, censura, desaparecimentos e mortes.

Nosso Brasil, apesar do empenho, particularmente, do Ministro Tarso Genro e do Secretário de Direitos Humanos Paulo Vannucchi (parente de Alexandre Vannucchi Leme, estudante da minha universidade morto pela ditadura em 1973), avançou menos do que queremos no sentido de "enterrar" esse passado. Para que ele não volte. E para que ninguém pense que pode sair impune de um processo como aquele. Não é "revanche". É justiça.

Recomendo fortemente um documentário que assisti recentemente, "Condor", de Roberto Mader, sobre a Operação Condor - cooperação interna entre os regimes militares latino-americanos, nos anos de chumbo.


Ministro elogia ação contra civis no caso Perus; Maluf e Tuma são acusados

O ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) comemorou a primeira ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo contra civis que tiveram participação em fatos da repressão na ditadura militar (1964-85).

Em ação apresentada à Justiça, o Ministério Público Federal pediu que o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), o senador Romeu Tuma (PTB-SP) e o diretor da Eletrobrás Miguel Colasuonno sejam condenados a pagar indenização e percam suas funções públicas ou aposentadorias. Eles são acusados de participar do funcionamento da estrutura que ocultou cadáveres de opositores da ditadura nos cemitérios de Perus e da Vila Formosa, em São Paulo, na década de 70.

Tuma foi responsável pelo Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) de 1967 a 1983. Ontem ele preferiu não se manifestar por não ter conhecimento dos documentos do processo. Maluf e Colasuonno foram prefeitos da capital, de 1969 a 1971 e de 1973 a 1975, respectivamente. Em nota, Maluf disse que é "uma acusação ridícula". Colasuonno informou que desconhece os fatos das acusações e, por isso, não poderia se manifestar.

Na Unicamp, Vannuchi declarou: "Eu saúdo a iniciativa porque ela reforça a consciência nacional de que o tema não está com ponto final. Lideranças civis e empresariais deram sustentação a esse regime, então não é justo que se faça um debate centralizado unicamente nas Forças Armadas".

"Quem estudar a história do regime verá que civis foram bater nas portas dos quartéis pedindo que os militares saíssem para depor João Goulart."

Segundo a denúncia, Maluf ordenou a construção do cemitério de Perus, com quadras marcadas para "terroristas". O projeto da prefeitura incluiu a construção de um crematório, ideia depois abandonada. Na gestão de Colasuonno, de acordo com documentos, o cemitério de Vila Formosa foi reurbanizado, quase impossibilitando a identificação dos locais onde estavam corpos dos militantes.

Tuma foi implicado porque, segundo os procuradores, sabia de mortes ocorridas sob a tutela de policiais do Dops, mas não as comunicou às famílias.

Outros dois nomes na ação são Fábio Pereira Bueno, diretor do Serviço Funerário Municipal entre 1970 e 1974, e o médico legista Harry Shibata, ex-chefe do necrotério do IML.

Os procuradores sugerem que as penas sejam diminuídas caso os réus contem em depoimento fatos que conhecem do período de repressão.

"É inequívoco que havia um esquema e que o cemitério de Perus era um centro de ocultação de cadáveres de militantes políticos", diz a procuradora da República Eugênia Fávero.

A Unicamp, que recebeu Vannuchi ontem, é um dos alvos da segunda ação do MPF. Nela, os procuradores pedem a responsabilização de funcionários e universidades porque houve descaso na identificação das ossadas localizadas em Perus e exumadas em 1990. As universidades implicadas são Unicamp, Universidade Federal de Minas Gerais e USP.

A Procuradoria pede, em liminar, a retomada do trabalho de identificação das ossadas. O órgão apresentou no passado ações, em andamento, que buscam responsabilizar militares por crimes da ditadura. Como se tratam de desaparecimento de pessoas, os procuradores entendem que se equivalem ao crime de sequestro -por não terem sido localizadas, esses crimes não seriam anistiáveis.

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