sexta-feira, 18 de setembro de 2009

E eu pergunto com que roupa...

Um senhor chamado Nelcir Tessaro, vereador do PTB em Porto Alegre, resolveu propor à Câmara de Vereadores da cidade que defina de que forma os parlamentares devem se vestir para comparecer às sessões. Mais do que uma idéia brilhante produto de dias e até meses de reflexão, mais do que uma incomum generalidade, o vereador tem dois alvos: suas colegas Sofia Cavedon (PT) e Fernanda Melchionna (PSOL).

Ao que tudo indica, ele se incomoda que as mulheres não se vistam em trajes “formais”, em tailleur, de salto alto, vestido longo. Ele se incomoda profundamente com a pouca formalidade que percebe nas vestimentas das duas vereadoras. Ele se incomoda especialmente com camisetas que trazem dizeres políticos.

Ora, vejamos. Proibir dizeres políticos em camisetas de pessoas que são pagas exatamente pra fazer política é meio estranho. O que se espera de um parlamentar é que tenha posição e que a defenda. Que a exponha. Eu, particularmente, gosto de quem expõe sua opinião na simplicidade enfática de uma camiseta.

Porque qualquer pessoa pode usar uma camiseta para exibir o que pensa sobre algum assunto. Não é privilégio de quem detém um mandato, ou conta com microfones e holofotes para poder falar. Um parlamentar – ou no caso, UMA parlamentar – que usa esse meio para explicitar a opinião que está representando, pra mim, demonstra sua sintonia com a idéia em questão e com aqueles e aquelas que lhe delegaram o mandato.

Outra nuance da discussão é aquela clássica: o machismo que continua orientando algumas ações e discursos no parlamento. Lastimável que venha um cidadão querer definir como as mulheres devem se vestir, se comportar, falar, se expressar para serem respeitadas na política. Isso não tem outro nome, se não machismo.

Juntando as duas coisas, é como no título do artigo escrito pela vereadora Fernanda: a política não tem que ser só pra engravatados.

Acho que vou dar de presente à vereadora Sofia, de quem, felizmente, sou companheira de corrente, uma camiseta com os dizeres: “Machismo, aqui, não”. Pra ela usar na sessão da Câmara que, semana que vem, vai apreciar o projeto de Tessaro – sim, o projeto existe, este artigo não é uma pegadinha.

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Ou nas palavras do grande Chico: “Quero perder de vez tua cabeça / Minha cabeça perder teu juízo”.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Alessandra! Que bom que chegando aqui já estás movimentando pensamentos e tudo o mais...que dia vai ser a sessão?poderíamos nos organizar e quem sabe fazer uns cartazes...mas vamos todas de camiseta com dizeres,é claro! até quem sabe nós mesmas fazer umas, com tinta relevo e tinta puff!!!

Douglas Gonçalves disse...

Prezada Blogueir: respeito seu ponto de vista. Contudo acredito que deve valer o contraponto.
1) creio que deva melhor entender o processo em si. Na verdade trata de emenda que obriga as vereadoras a cumprir com o regimento interno que juraram respeitar. Essa norma já está escrita no Regimento Interno da Câmara que determina, no art. 216, os trajes dos vereadores. E aqui é claro entenda vereadores como o cargo, função e não como uma vereadora quis dizer que estáva ligada aos homens vereadores e não as mulheres. Essa sim é uma postura feminista, senão ignorante.

2) Na verdade o que ele e outros se incomodam é que os homens devem seguir à risca a regra, sob pena de não ingressarem em plenário. Contudo, essa mesma regra para as mulheres está sendo desprezada e desrespeitada. É simples, a regra vale para todos, logo o traje passeio completo deve ser usado por todos. Se há discordância na regra que se libere para todos os parlamentares.

3) Não há qualquer ato machista na situação. Apenas a liturgia do cargo recomenda que em qualquer lugar do mundo se use um traje condizente com a situação. Ou você já pensou em ir num casamento ou numa formatura de tênis e camiseta. Não se está coibindo o uso de camiseta política na Câmara de Vereadores. Apenas na sessão plenária que ocorre 3 tardes na semana. Nos outros 7 turnos podem os vereadores se vestirem como quiserem.

4) Cumpre esclarecer, ainda, que a constituição federal determina igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres. Aqui impende enaltecer a luta das mulheres pelo direito à igualdade. Porém, a igualdade deve ocorrer nos direitos e deveres. Assim, basta que cumpram o dever imposto no Regimento que é muito anterior ao mandato do Vereador Tessaro.

5) Para encerrar, pois espero que poste meu contraponto, por força da democracia, apenas gostaria de esclarecer que como vou acreditar nas leis de vereadores e vereadoras que não cumprem as leis internas que juraram respeitar. Atenciosamente.